Guilherme Baumhardt
“Eles têm que saber que a morte de um combatente não para a revolução. Eles têm que saber que nós vamos fazer, definitivamente, uma regulação dos meios de comunicação, para que o povo não seja vítima das mentiras todo santo dia. E eles têm que saber que vocês, quem sabe, são até mais inteligentes do que eu. E poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas, fazer as ocupações, no campo e na cidade.” As frases acima, ditas alguns dias atrás, do alto de um caminhão de som, foram pronunciadas pelo sujeito que promete pacificar o país, pelo sujeito que fala em salvar e defender a democracia, que diz combater o “genocida”. Senhoras e senhores, este é Luiz Inácio Lula da Silva, em estado puro, sem travas. É o que ele pensa, é o que ele defende.
O Lula versão 2022 não está amarrado à Carta ao Povo Brasileiro, como estava em 2002. Na época, havia alguns compromissos: respeitar o Plano Real, a estabilidade da moeda, as metas de inflação, o superávit primário. A contragosto, Lula viu que era o único caminho para vencer a eleição. E venceu. O cenário, também, era outro. Os tucanos sucumbiram (ah, que novidade!) ao discurso surrado contra o neoliberalismo. “Venderam nossas riquezas”, diziam os petistas, em referência à privatização de meia dúzia de empresas durante o governo FHC. O brasileiro deixou de ser refém de companhias públicas, passou a ter telefone (celular, inclusive), sem precisar comprar ações de sucatas do Estado. E os tucanos ficaram com vergonha. Hoje, quando vemos FHC ao lado de Lula, fica fácil entender o porquê.
O Lula versão 2022 fala abertamente em revolução. Fala abertamente em queimar pneus. Fala abertamente em regular a mídia – leia-se censura. É o Lula que, anos atrás, ameaçou acionar o exército do Stédile (os bandoleiros do MST). É o sujeito que tempos atrás tentou implantar no país um conselho com o poder de cassar diploma de jornalista, com base no “crime de opinião”.
Se você ainda não acredita que isso pode acontecer, o que está faltando para perceber que propriedade privada será um detalhe? Não interessa o tamanho. Dos grandes aos pequenos. Será um detalhe. A estabilidade da moeda é o que dá segurança especialmente aos mais pobres. É o que permite que o crédito encontre a previsibilidade, conferindo segurança a quem contrata e a quem empresta o dinheiro.
Não estou falando da compra de um carro importado ou de uma cobertura. Estou falando de uma máquina de costura, de uma carrocinha de cachorro-quente ou de uma geladeira, o início de muita gente. Refiro-me à reforma de uma casa ou até mesmo à compra de uma moradia. Onde foi parar a estabilidade na Argentina, dos amigos de Lula? Foi embora. Ninguém sabe, ninguém viu. Os sinais estão postos. Lula até agora não apresentou seu plano de governo. Não disse quem será o titular do Ministério da Economia/Fazenda. E precisa? O modelo é o argentino, o venezuelano, aquele que assumiu recentemente o Chile.
Esta não é apenas uma eleição de direita versus esquerda. É uma disputa entre a sua liberdade e o que ainda existe de país por estas bandas, versus a barbárie e a balbúrdia. Liberdade de viver, de se expressar, de empreender. Liberdade religiosa, de conquistar algo que será seu, por mérito e esforço próprios. É o momento de tomar uma decisão. Você pretende deixar algo para seus filhos e netos? Ou vai iniciar a contagem regressiva para fugir daqui? E, se isso não for possível, prepare-se para comer o pão que o diabo amassou. Ou, quem sabe, comer o seu gato e depois o cachorro. Aliás, já identificou onde fica a picanha no Totó?
* O autor é jornalista
** Artigo publicado originalmente no Correio do Povo transcrito por necessidade cívica.