• Harley Wanzeler
  • 27/02/2019
  • Compartilhe:

INDOLÊNCIA

 

A dor de José, dói.

A dor de Maria, dói.

A dor de Maria José, também dói.

E a dor de José Maria?

Dói...

Como dói.

A dor de José, que se diz Maria...

Dói.

A dor de Maria, que se diz José...

Dói.

Quanta dor!

Nesse mar de dores de "Josés" e de "Marias",

Tudo é dor.

Dor que machuca a alma de cada um.

E quanto a minha dor?

Eu, que não sou José...

Não sou Maria...

Tampouco, sou minoria.

Sou o dito "privilegiado",

Excluído do tal mar e sua gritaria.

O que faço, então, com minha dor?

Simples. A engulo...

Engasgo, mas engulo.

Em honra à plena obediência,

Transformo meu dissabor em conivência,

Contentando-me com as sobras de Maria José,

Ou com o espólio de José Maria.

Aprendo do jeito duro.

Inerte, assumo o quinhão social que me resta...

A indolência. 

 

* O autor (parabéns a ele) é magistrado.