Essa gente da esquerda, com o notável QI de que são detentores, não se ajeita mesmo com a História, pois são duros de aprendizado. De todos os "companheiros", mundo afora, que puseram as mãos nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels, o mais cognitivo de todos, seguramente foi o camarada chinês Deng Xiaoping, que pôs os pés no Ocidente para morder informações e entregá-las de bandeja ao seu partido. Convenhamos que descobriu muita coisa boa aqui por estas bandas ocidentais, mais até do que imaginava. Mao Tsé Tung, o grande timoneiro da revolução comunista chinesa, porém, censurou as ideias trazidas do exterior por Deng e, ainda, como "prêmio", o fez morador do cárcere revolucionário, sem nenhuma cerimônia. E não parou por aí, ainda submeteu o companheiro de lutas passadas à execração pública, cravando um desdouro nele dos mais "qualificados": o de revisionista e traidor. Deng teve que que carregar essa mancha durante longo tempo... A partir da morte de Mao, entretanto, virou o jogo e provou quem era, de fato e com atos, o verdadeiro amigo do povo chinês, sob a ótica do regime de partido único.
É bom lembrar que Mao Tsé Tung é o mesmo que patrocinou o Grande Salto Adiante, um projeto de "desenvolvimento", que, pasmem, levou muitos chineses a conhecer mais cedo a paz dos cemitérios, por fome e inanição. Depois, ao enxergar inimigos do comunismo por todos os lados (embaixo das camas e dos sofás), deu início à Revolução Cultural, cujo objetivo era intensificar a luta de classes, eliminar as sequelas do pensamento burguês e exercitar à caça às bruxas dentro do partido, ou seja, expurgá-lo dos revisionistas. O radicalismo de Mao, entretanto, jamais se explicou por proteínas na mesa dos seus compatriotas.
Importante, nestes comentários, assuntar para o que pensava Karl Marx sobre a dinâmica da história. Para ele a instalação do regime comunista, somente seria possível a partir dos desdobramentos históricos, ou seja, da presença do capitalismo e do aprofundamento das suas contradições, quais sejam, a redução da taxa de lucros e da concorrência, a superprodução, o desemprego creescente. É devido registrar que nada disso aconteceu em nenhum lugar do mundo como preliminares da revolução, a qual passou a ser produto, apenas do voluntarismo dos seus agentes. Assim, aconteceu na Rússía, China e Cuba. Já na Coreia do Norte, Vietnã e países do Leste Europeu a imposição desse regime foi resultado dos desdobramentos de engrenagens de pós-guerras.
É pertinente dizer que Deng Xiaoping foi capaz de compreender que a Revolução Comunista em seu País havia sido precipitada, pois não existiam as condições históricas para tanto, segundo os dogmas marxistas. Daí, como exímio estrategista que era, haver concorrido para criar o que se chama de dois sistemas (o capitalista e o comunista) num mesmo país. Com o seu projeto, empresas foram atraídas, principalmente dos Estados Unidos, o berço do capitalismo mundial, para implantar os seus negócios em território chinês, primeiro nas áreas costeiras, depois avançaram por todo o continente. É assim que a China inundou o Ocidente de produtos de consumo. Como exigência-mor impuseram aos capitalistas de fora o repasse de informações e da tecnologia. Iniciaram pela produção de bens de consumo; depois, avançaram pela produção de bens de capital. Até aviões, pelo que se sabe, os chineses estão aprendendo a produzir nesse cenário. O Partido Comunista Chinês permanece senhor das terras, das finanças, do câmbio e dos setores que consideram estratégicos. Sobre o câmbio, manipulam de acordo com os seus interesses exportadores, ou seja, mantém a moeda local desvalorizada artificialmente para acumular reservas em dólares imensuráveis, a ponto de permitir que comprem terras e reservas minerais mundo afora, como está ocorrendo.
Em resumo, tudo indica que, quando os chineses tiverem aprendido as tecnologias que estão sendo repassadas, darão uma banana aos empresários ocidentais que lá estão... Certamente, pensam que, mesmo dispensando a ajuda deles, serão capazes de atender as necessidades de consumo de mais de um bilhão de habitantes (o que o regime obsoleto e ideológico de Mao Tsé-Tung jamais foi capaz de realizar) , sem a garantia, porém, da propriedade privada, do regime de preços livres e da liberdade criativa e inventiva das pessoas, será praticamente impossível rodar esse crescimento e desenvolvimento exuberantes. O impasse, não tenham dúvidas, será resolvido pela força das armas revolucionárias...
A esquerda latino-americana, representada pelo Foro de São Paulo e por seus agentes, fecha os olhos para essa realidade, ao apoiar os regimes de Nicolás Maduro e de Daniel Ortega, respectivamente, presidentes da Venezuela e da Nicarágua, verdadeiros representantes do atraso e do totalitarismo no Continente americano, e ainda aposta todas as fichas no regime cubano, apesar de o seu governo oferecer um padrão de vida deplorável para a sua população, a qual viveu, nestes anos todos, basicamente das proteínas dos intermináveis discursos escatológicos de Fidel Castro.
Karl Marx deve andar meio desgostoso com a sua gente interpretativa...