E O VENTO - DA PARALISIA ECONÔMICA - LEVOU...
Alex Pipkin, PhD
O pensamento mágico brasileiro é mesmo fantástico! Aludem odiar a política, mas adoram os políticos. Resquícios do pensamento mitológico dos salvadores da pátria; anseiam por um semideus terreno...
Verbalizam não gostar de política, mas observo que somos mesmo adoradores da Mãe Estado. Como disse esses tempos, a pauta econômica desse governo, de certa maneira, apontava para que o Estado começasse a sair um pouquinho de nós, mas nós, de forma geral, não queremos sair do Estado.
Apesar do aprendizado pela dor, especialmente do que restou da nossa economia dos últimos 20 e poucos anos de políticas econômicas nacional-desenvolvimentistas e socializantes, ainda não nos demos conta de que o dinheiro não nasce em árvores. A vertigem desértica é factual. Não há maná!
Evidente que com a crise pandêmica, o governo que vinha fazendo um belo trabalho, aliás, como manda o figurino na questão da gestão da dívida pública, com exemplar disciplina fiscal, teve que abrir o cofre. Natural. Abrir está correto, o problemão vai ser encontrar a chave para fechá-lo novamente.
O cidadão comum, tristemente ignorante em economia, acredita em "insensibilidade" dos homens do executivo, mas sem essa pedra fundamental, não há ambiente favorável para que investidores internacionais e patrícios coloquem o seu dinheiro por nossas bandas. Sem falar na Pequena suprema corte e na transparente insegurança jurídica gerada por esses onze homens e mulheres da capa preta, no que diz respeito a segurança e a garantia dos contratos firmados... Mas isso é complexo demais para agora.
A grande questão é que a bondade romântica quanto a natureza da vida, irá cobrar um preço muito alto na forma de vidas econômicas humanas. Inexiste vida integral sem saúde, sem economia e sem o social! Não há como separar o inseparável!
Acho que erramos feio no "time" do fechamento econômico. Teria sido mais sensato fechar no início da pandemia, com uma quarentena efetiva. O movimento da gaita abre-fecha é prejudicial, nefasto e colabora ainda mais para a devastação econômica. Ah, mas há ciência! Tudo que eu menos vi até agora, pragmaticamente, é ciência no isolamento social drástico, esse com evidências comprovadas.
No nosso país, teria sido mais saudável e economicamente mais científico, um distanciamento social controlado, sem o total fechamento das atividades econômicas. Num país de renda-média baixa como o Brasil, nem de longe se consegue aguentar quatro meses de fechamento econômico dessa espécie!
Pois é... Mas a carnificina econômica já começou! Destruição das cadeias de suprimentos (ah como não compreendem que esse é um sistema integrado, interdependente!), com projeção de queda histórica no PIB desse ano, devendo alcançar MENOS (-) 11% (!!) a depender da extensão do fechamento das atividades econômicas. Devastação do tecido industrial; o índice da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que mede a confiança dos negócios, caiu 25,8 pontos entre março e abril, e queda histórica no resultado das vendas do comércio no mês de abril, MENOS (-) 17% sobre março. Pasmem, mais da metade da população brasileira encontra-se sem emprego!
Tá! Horrível!! Mas o que vem pela frente, pós-pandemia e o tal novo "a-normal"?!
Seguramente, vamos reinaugurar a era dos acordos de fusões e aquisições e o respectivo aumento da concentração industrial.
Porém, em relação às pequenas e médias empresas, acho que veremos uma batalha darwiniana pela sobrevivência dos mais aptos. E, infelizmente, com muito sangue nos corações e bolsos empresariais!
As pequenas e médias empresas (PME´s) representam nada mais nada menos do que 99% de todas as empresas brasileiras, e empregam mais da metade da força trabalhadora formal, sendo responsáveis pela geração de 25% do PIB brasileiro!
De acordo com estudos econômicos sérios, pequenas e médias empresas não conseguem resistir - em média - nem a um mês de 30 dias paralisadas. Turismo, gastronomia, pequenos negócios de serviços... já ascenderam para o andar de cima faz tempo! A vaca já foi pro brejo faz mesmo horas. Sinal disso, é que as taxas de inadimplência entre as empresas brasileiras aumentam sistematicamente há 11 meses seguidos.
O alento e o motor de arrancada da crise vêm e virá do setor agrícola. A demanda crescente por alimentos permanece forte, e o setor vem mostrando, inclusive, níveis de crescimento durante a pandemia.
Bem, com o tamanho do buraco brasileiro, os ativos de empresas nacionais ficaram mais baratos, além da ajuda de um real desvalorizado em aproximadamente 35% desde o início do ano. Apesar disso, em razão da crise econômica global, não será tão singelo achar investidores internacionais, uma vez que esses passaram a relocalizar seus investimentos para seus próprios mercados.
Muito embora os apelos bondosos e sentimentais de brasileiros pertencentes às tradicionais castas políticas e empresariais sejam intensos, o horripilante "fiquem em casa", qualquer cego enxerga (aquele que quer ver!) que mesmo com as tentativas governamentais de salvar as empresas, o auxílio não será suficiente para manter respirando a grande maioria delas.
O sonho empreendedor de fundadores que nessa terra se instalaram, e de seus descendentes que prosperaram com seus negócios, desabou na canetada de jovens e não tão jovens burocratas estatais, em sua maioria despreparados e desprovidos de qualquer visão e experiências robustas para a compreensão real de como funciona genuinamente uma economia de mercado.
Pois é, a coisa tá feia e, infelizmente, a tendência é de piora!
Embora as empresas de tecnologias digitais e de logística expressa estejam realmente crescendo dentro dessa nova lógica de menor interação presencial, que tende a permanecer entre nós por bastante tempo em função do fantasma viral, o que parece certo é que qualquer tipo de interação, seja essa presencial ou à distância, entre empresas e seus mercados, seus clientes, seus fornecedores e seus parceiros nos respectivos ecossistemas empresariais, minguará de forma catastrófica!
O futuro breve e de longo prazo, tende a ter menos empresas, menos empregos, menor produção de produtos e serviços, menos consumo e, desgraçadamente, menor geração de riqueza e de prosperidade por terras verde-amarelas.
Não bastará saúde física, a carnificina de vidas econômicas humanas matará para além da Covid-19! Pessimismo? Não sei... Acho que a lógica da realidade!