Tem candidato que insiste em afirmar que, se eleito, vai colocar a Polícia Federal e o Ministério Público Federal "de volta na caixinha, de onde nunca deveriam ter saído".
Chega ao ponto de dizer que essas instituições estariam se comportando como um "quarto poder". E completa, explicando que deseja restabelecer a "autoridade do poder político".
A bem da verdade, o que ele chama de atuação "fora da caixinha" nada mais é do que o exercício da Justiça sobre aquela elite política poderosa que nunca havia sido atingida por investigações e processos penais com consequências efetivamente gravosas, como condenações e encarceramentos.
E o que por alguns é visto como assombração, ou atuação "fora da caixinha", a sociedade brasileira assiste e aplaude como as ações implacáveis e legais da Polícia Federal, sempre referendadas pelo Ministério Público Federal e invariavelmente levadas a cabo em cumprimento a ordens de um juiz federal.
Quem na realidade vivia numa caixinha, numa redoma de vidro, eram os membros dessa elite anacrônica que levou o Brasil à bancarrota, com os inúmeros esquemas bilionários de delinquência institucionalizada.
Esses políticos que nos vêem hoje "fora da caixinha", o fazem numa visão em paralaxe da realidade, pois certamente não fomos nós quem saímos da caixinha, e sim eles, que foram "desentocados", tiveram suas blindagens e armaduras transpostas e estão sendo submetidos aos processos que os cidadãos comuns sempre se submeteram.
Em suma, não foram os leões soltos nas ruas, e sim eles, os políticos, que foram arrebatados dos seus castelos inexpugnáveis de impunidade e hoje enfrentam os leões que ali sempre estiveram.
Esses mesmos políticos observam agora, incrédulos, o tripé da persecução penal, formado pela Justiça, Ministério Público e Polícia Judiciária cumprindo mandados de buscas em gabinetes de deputados, senadores, e também condenando e encarcerando empreiteiros bilionários, parlamentares, ex-governadores e ex-presidentes da República.
Com essa conversa fiada de "colocar de volta na caixinha", nunca a concessão de mandato para diretor-geral e de autonomia administrativa e orçamentária para a Polícia Federal foi medida tão imperativa.
*Jorge Pontes é Delegado de Polícia Federal e foi diretor da Interpol