Ney Lopes
Absolutamente inexplicável a posição do Brasil em não condenar abertamente o atual regime despótico de Daniel Ortega, na Nicarágua.
A realidade internacional mostra a Nicarágua como uma ditadura sangrenta.
Daniel Ortega foi líder do movimento sandinista, que lutou contra a ditadura Somoza, e se tornou um ditador igual aos que combatia.
No fim das contas, no DNA do Daniel Ortega há um stalinista.
Ele quer imitar o que Fidel Castro representou em Cuba, no sentido de uma liderança individualizada, personalista.
Daniel Ortega voltou ao poder em 2007, após ter presidido o país pela primeira vez entre 1985 e 1990.
No ano passado, ele conquistou seu quinto mandato e o quarto consecutivo.
Ele era um conhecido guerrilheiro, preso repetidas vezes por crimes que incluem um assalto à mão armada a uma filial de um banco norte-americano em solo nicaraguense.
Absolutamente estranho que, em tais circunstancias, o Brasil não assinou a declaração na ONU com acusações ao governo da Nicarágua, que foi subscrita por 55 países.
Observe-se que o texto tem como signatários governos de esquerda como Chile, Colômbia, Peru, Paraguai e Equador. Mas o Brasil negou-se a condenar.
O regime Ortega se caracteriza por avançar contra os católicos
O bispo dom Rolando Álvarez segue preso.
O regime considera o prelado de 55 anos como uma das principais figuras da Igreja Católica a serem silenciadas, já que dom Rolando foi um dos mais enfáticos críticos dos atos ditatoriais de Daniel Ortega.
Dois sacerdotes foram presos em Madriz e Nueva Segovia por terem mencionado ou orado pelo bispo durante suas celebrações de domingo.
Recentemente, foram proibidas as procissões e a Via Sacra ao ar livre em todo o país, sem exceção sequer para a Sexta-Feira Santa.
Repetem-se ações violentas contra o clero, que Somoza considerava “uma máfia”.
O núncio apostólico dom Waldemar Stanislaw Sommeretag foi expulso do país, em março de 2022.
Várias emissoras católicas de rádio foram fechadas ao longo dos últimos meses.
O governo ditatorial determinou o fechamento de duas universidades católicas, da Fundação Mariana de Luta contra o Câncer (Fumalccan) e até mesmo da Cáritas, que é um mundialmente respeitado braço católico de ação social e caridade cristã.
Neste contexto de cerceamento da liberdade e tirania, realmente não se justifica a posição do governo brasileiro de manter-se distante, a pretexto de desejar ser um mediador.
Até porque, um mediador omisso e amigo da ditadura não conseguiria a paz desejada.
Ademais, o presidente Lula já se mostrou amigo íntimo de Somoza, quando declarou no passado: “Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não? Por que Felipe González pode ficar 14 anos no poder? Qual a lógica? ”
A ONU vai ainda manifestar-se oficialmente.
Aguardemos a posição final brasileira.
* Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino Americano (PARLATINO); e- Presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara; procurador federal; professor de Direito Constitucional da UFRN – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br
** Publicado originamente no Diário do Poder.