No mundo das ideias abstratas, da ideologia pela ideologia, da ausência de compromisso entre o que se pensa e o que se concretiza, a “lacração” intelectiva e libertária é a regra.
No mundo cor-de-rosa do puro dever ser, sem o ser concreto considerado, quanto mais fofa for a ideia e menor o compromisso de sua testagem no universo onde será empregada, tanto melhor.
Como escrevi em outros artigos, no onírico mundo dos unicórnios, em suas Campinas verdejantes, somos todos puros e plenos de boas intenções.
Qualquer desvio humano que possa advir do modelo mental onde os seres humanos são puros por essência, somente pode ser atribuído à sociedade e à degeneração provocada pelo capitalismo malvadão.
Daí que resulta o seguinte: se o verdadeiro ou verdadeiros culpados pela degradação humana não é o humano que cometeu a conduta desviante ou o Crime, quem deve ser punido é o seu verdadeiro autor. Portanto, a sociedade e o capitalismo.
Por esse motivo, punir não é a solução, a prisão não resolve e a criminalização de condutas um absurdo a ser banido do seio de uma sociedade que quer ser justa e feliz.
No entanto, basta que os defensores de tais ideias se deparem com a realidade e descerem para brincar no playground onde a vida realmente se desenrola, que tudo muda de figura.
Vou dar dois exemplos concretos: o lamentável assassinato da Vereadora Marielle (como também o são os assassinatos dos outros 63 mil brasileiros que também ocorreram no mesmo ano) e a criminalização da homofobia.
Em ambos os casos, os mesmos que defendiam e defendem que prender não resolve e criminalizar condutas não é a saída para a violência que impera no país, agora clamam, com todas as forças de seus pulmões, que se punam exemplarmente e se prendam todos os culpados.
A minha posição, nesse contexto, sempre foi mais linear e coerente. Entendia e entendo que punir e prender os culpados é uma eficaz forma de se proteger os inocentes e a sociedade.
Portanto, aos que carregam consigo esse duplipensar, apenas digo uma coisa: bem-vindos ao meu mundo!!
* O autor é Procurador de Justiça no MP/RS
** Do facebook do autor.