• Miguel Lucena
  • 15/08/2019
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BASEADO EM FATOS RACIAIS?

 

O filme Baseado em fatos raciais, em exibição na Netflix, sustenta que o combate à maconha e à heroína, nos Estados Unidos, tem um viés racista. Dessa forma, o Estado conteria os negros, aprisionando-os por longos períodos.

Argumenta que a maconha é histórica e culturalmente ligada aos negros, tendo a droga contribuído para alargar a mente de grandes artistas do jazz, como Miles Davis, John Coltrane e Billy Holliday, e propiciar-lhes inspiração.

Ao centrar fogo no combate à venda e ao porte de maconha, o governo impediria que moças brancas se misturassem aos jovens negros e mexicanos para fazer dos EUA uma nação mestiça.

É muita viagem, viu?

Resta saber quem foi que o governo quis atingir combatendo drogas como a cocaína, que em certa época era de uso restrito a determinados segmentos endinheirados.

O mesmo argumento é usado para condenar as prisões por crimes contra o patrimônio, incluindo o latrocínio, sob a justificativa de que são delitos praticados por negros e pobres.

Como o Estado é ineficiente para combater a corrupção, o delito típico dos poderosos ficaria impune, o que começou a ser desmentido no Brasil após a bem-sucedida Operação Lava Jato.

É evidente que é mais fácil prender quem está cometendo delitos à vista de todos, como o vendedor de drogas que fica na esquina e o ladrão que assalta passageiros em um ônibus ou num estabelecimento comercial. Não faltam gente para reconhecer e vestígios para levarem até o autor do fato.

Não é pelo fato de o delinquente ser negro ou pobre, mas porque os mais necessitados que enveredam pelo mundo do crime não têm acesso aos métodos sofisticados de afanar os recursos públicos e ficam expostos à ação do aparelho repressor do Estado.

Os confrontos bélicos com a Polícia também se dão nesse contexto e, por isso, os bandidos comuns acabam, mais uma vez, ficando na mira direta das forças de segurança, o que não acontece com quem pratica crimes por baixo dos panos.

Essas são as razões, o resto é discurso ideológico ou viagens enfumaçadas.

* Miguel Lucena é Delegado de Polícia do Distrito Federal, jornalista e escritor.

**Publicado originalmente no Diário do Poder.