• Alex Pipkin, PhD
  • 12/09/2019
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APENAS UMA PARTE DA VERDADE...

 

Muitas coisas que ocorrem de maneira repetida, não necessariamente significam fatos. Sempre, parece-me, o fundamental é analisar profundamente tais "coisas", a fim de que possam ser estabelecidas correlações realmente fidedignas.

Como sabiamente apontou o economista Thomas Sowell, correlação nem sempre significa causalidade! Entre algumas rotineiras falácias, Sowell identificou a falácia da composição. Esta ocorre sempre que se pressupõe que algo que é verdade para uma parte do sistema, então também é verdade para o todo de um determinado conjunto. Por exemplo, muitos podem argumentar que as novas tecnologias "roubam" os empregos de determinados tipos de trabalhadores. Contudo, esses se esquecem de que tais tecnologias geram outros tipos de empregos para outros trabalhadores e agregam novas soluções em termos de serviços, produtos e experiências para a maioria dos indivíduos-consumidores. O que parece ser "bom" para um grupo, uma parte do sistema social, nem sempre é o melhor para o todo! Concluir o contrário seria cair na armadilha da falácia da composição.

Pois é, como a retórica falaciosa de "especialistas" brasileiros tem-se utilizado de argumentos e números "bem apresentados e arrumados", que na superfície do "senso comum", querem efetivamente esconder a "verdade total", enganando aqueles mais incautos, com o objetivo de buscar o atingimento de seus próprios interesses pessoais e/ou grupais.

Na mesma veia, em seu seminal livro "Armas, Germes e Aço", o professor de geografia Jared Diamond descreveu o Princípio Anna Karenina. Quem não lembra da frase de Tolstói que alude que: "Todas as famílias felizes são iguais, as infelizes o são cada uma à sua maneira."? Tolstói, com essa sentença, queria dizer que um casamento bem-sucedido dependeria de uma série de fatores distintos. Qualquer um de diversos aspectos fundamentais não atendidos poderia arruinar um casamento, mesmo que ele possuísse todos os demais ingredientes essenciais para um "bom casamento".
Sinteticamente, representa que num determinado evento, uma deficiência em qualquer um dos fatores que compõem o todo, ou seja, apenas uma parte, condenaria ao fracasso. Sem dúvida, é preciso ressaltar que "coisas boas" são mais difíceis de serem alcançadas!

Bem, ontem à noite, acomodei-me confortavelmente para assistir ao programa Roda Viva. No centro da roda, o ilustre ex-ministro da Justiça José Carlos Dias. Em dado momento, esse Sr. relembrou, tristemente, que seu intento de formar uma frente ampla, juntamente com o candidato do PT, para que não houvesse a vitória do então candidato Bolsonaro, não se concretizou. De acordo com o advogado, venceu o candidato que afronta a democracia e os direitos humanos de toda sociedade brasileira.

Todos nós sabemos que não deveria mais existir aquele trivial debate entre pautas ditas de direita e esquerda. Nessa direção, a direita enfocando crescimento econômico e, supostamente, a esquerda, pondo em relevo os direitos sociais; a tal justiça social. Pura demagogia, uma vez que direitos sociais igualmente fazem parte de pautas "direitistas" - crescimento econômico é fonte geradora -, da mesma forma que pautas de esquerda podem incluir "crescimento econômico" (embora experiência pragmática demonstre que tipo de "crescimento" se alcança por meio do Estado grande: semelhante ao do rabo do cavalo!).

O Excelentíssimo Senhor Doutor José Carlos Dias, sustentou que Bolsonaro, sem compostura, sistematicamente desacata e ultraja os nobres direitos humanos. Justo até pontuar que algumas declarações do presidente são efetivamente infelizes, para dizer o mínimo. Mas a partir daí desqualificar totalmente o presidente e os resultados alvissareiros dos primeiros meses de seu governo, é que, de fato, parece-me verdadeira infâmia.

Para tal "especialista", direitos humanos são exclusividade de sua turma! Nada daquilo que está sendo realizado, inclusive nesta área, merece reconhecimento e respeito. Natural, na medida em que seu notório grupo migrou da defesa das condições de emprego dos trabalhadores, da "nefasta mais valia", para os iluminados direitos das minorias.

Para ele, uma frente ampla com o PT, partido político que ressignificou e constitucionalizou a roubalheira e um dos maiores casos de sistemática corrupção da história da humanidade, corrupção abissal essa que roubou recursos da saúde, da educação, da segurança pública, da chance de maior prosperidade e esperança nacional, essa pode ser tolerada!

Evidente que, segundo ele, não se pode ser condescendente com algumas das declarações do presidente, que contempla uma pauta de valores mais conservadores e que, segundo o entrevistado, são totalmente impróprios e disparatados numa democracia. Claro que o especialista não recorda das declarações de seu parceiro Lula, quando disse, por exemplo, que Pelotas é "exportadora de viados", e que similarmente perguntou a um interlocutor a respeito das mulheres do grelo duro do PT!

Que fala falaciosa! Que reducionismo! Lula é o "bom" - bondoso, o outro, Bolsonaro, aquele que não presta! Essa é a democracia brasileira - de um só lado -, mas é o que temos; todo o foco deve ser para aperfeiçoá-la. Não há outra saída...

Esquece-se o Doutor José Carlos, que foi justamente essa pauta mais conservadora que elegeu, por meio do voto popular, democrático, inclusive com votação bastante expressiva, o presidente que aí está!

Pois é. Prontamente, veio-me a cabeça a falácia da composição de Sowell e, simultaneamente, o Princípio Ana Karenina, enfatizado por Diamond. Talvez pela transparente parcialidade do especialista entrevistado, advogado de crimes de colarinho branco, com seu hermético discurso sobre direitos humanos, não seja surpresa notar sua demasiada confusão e visão interesseira da verdade. A "sua verdade".

"O problema" do país são vários, alguns frutos da generosa, corrupta e incompetente administração de governos anteriores. São justamente os mesmos que o presidente e sua Equipe estão buscando resolver e, ao mesmo tempo, propor novas soluções reais para os velhos problemas de uma nação estatista, intervencionista, patrimonialista e corrupta.

Não, caro Sr. José Carlos, mesmo com alguns deslizes verbais do presidente, nosso velho e grande problema é derivado de muitos outros fatores que vossa senhoria, obviamente, omite! O problema dos "excessos" que são apontados como o fator que vai de encontro aos direitos humanos existem e existiram de ambas direções!

Se a turma do referido Doutor deixar, tomara que os vários outros requisitos indispensáveis para a saúde do sistema brasileiro possam se realizar.

Alex Pipkin, PhD