• Alex Pipkin, PhD
  • 20/07/2019
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AONDE A "CORREÇÃO MORAL" VAI NOS LEVAR?

 

Debruço-me sobre questões objetivas do desenvolvimento econômico e social. Irrefutável que foi por meio do sistema capitalista que ocorreu um salto na melhoria do padrão de vida mundial e no aumento da capacidade de consumo das pessoas. Inegável também é que o capitalismo não é um modelo perfeito, visto que há muita gente vivendo em níveis miseráveis e/ou de pobreza.

Na direção do desenvolvimento econômico e social, parece-me que o cerne refere-se, de fato, ao dilema entre liberalismo econômico versus intervencionismo. Nessa querela, prefiro valer-me de fatos e dados reais para constatar que são as nações que exibem maior grau de liberdade econômica aquelas que possuem os melhores indicadores de crescimento econômico e, não surpreendentemente, os maiores índices de desenvolvimento humano. Como corolário, a melhor forma de justiça social, dá-se por meio do crescimento econômico.

Num país como o Brasil, com marcantes contrastes econômicos, um debate sério, evidentemente, deve atentar para o tema de uma maior justiça social. Infelizmente, essas palavras foram pervertidas ao longo do tempo - e já faz tempo - por uma maioria (isso mesmo!) hegemônica de intelectuais, acadêmicos, jornalistas, escritores, artistas, políticos e cientistas políticos de "segunda pele" ideológica esquerdista, verdadeiros protagonistas e formadores de opinião na grande mídia nacional. Quem não enxerga a batalha cultural travada e ganha diariamente por essa mentalidade e seus costumeiros preconceitos e esteriótipos, na defesa intransigente de pautas encharcadas de idealismo social, bom-mocismo, de direitos humanos e de ações afirmativas?

Claro que o real debate impõe contrapontos! Contanto que haja argumentos críveis de ambos os lados e que uma das partes abandone a intransponível barreira da aceitação dos fatos, da primazia da sabedoria e de sua "superior autoridade moral".

O abissal problema é que essa gente continua encastelada em praticamente todas as instituições! Na justiça, nas universidades, nos serviços públicos e, em especial, nas mídias. O desgastado embate da luta de classes entre opressores e oprimidos assumiu novos e pós-modernos contornos umbilicalmente ligados aos direitos das minorias.

Desafortunadamente, no campo das subjetividades, o atual debate associado à ideologias de gênero, raça, identidade sexual, pautas feministas (e extremadas!), não só serve de cortina de fumaça em relação aos reais anseios do verdadeiro povo brasileiro, como também, afora respectivas tribos, interessados interesseiros e mídia (ironicamente direcionada para a classe média!), ultrapassou sobremaneira os limites da exposição, do bom senso e do aceitável para a maioria da população. Compreensível que foi importante na direção da mitigação de preconceitos e intolerância. Porém, já foi entendido. Agora ideologizado, seu apelo vitimista e bondoso, efetivamente, quase ninguém o suporta mais. Será que essa gente não compreende que para a grande parte da população brasileira o "problema social" pode estar justamente relacionado com uma espécie de empobrecimento moral e espiritual?

Cabe atentar para essa turba, que o genuíno povo é composto de enormes subgrupos sociais com necessidades e desejos extremamente diferenciados entre si, cujos quais, salvo melhor juízo, querem ter seus "direitos" reconhecidos e respeitados. O genérico "povo" são subdivisões variadas de tipos de trabalhadores rurais, industriais, em serviços, etc., que apresentam características, atitudes e motivações heterogêneas. Tais direitos almejados muitas vezes diferem daqueles da minoria que luta por seus interesses identitários - e ideológicos - ligados a cor, sexo, orientação sexual, entre outros. Parece-me que a maioria quer dignidade, significando melhores condições de saúde (desumanamente ainda não há sequer saneamento básico!), segurança e, especialmente, acesso a uma educação (de qualidade!), além da óbvia necessidade de igualdade perante a lei!

Obviamente, aqueles que pensam diferentemente dessas diversas tribos são, de antemão, taxados de reacionários, racistas, fascistas e por aí afora. Não há como não aludir ao filósofo Edmund Burke: "Para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados". Se ser conservador é proteger o mundo de abissais estragos ideológicos utópicos, como o sou!

Na sociedade verde amarela do espetáculo, onde tudo é permitido, o bondoso e o "do bem" são aqueles que, ao invés de exercerem seus desejos mais íntimos e/ou caridosos entre quatro paredes, precisam compulsoriamente externar sua compaixão e amor aos oprimidos, além da suprema indulgência. Oh sinceridade - bondade artificial - que clama por aprovação social. Faz parte do espetáculo pirotécnico nacional em terras tupiniquins. Por aqui, o que importa não é ser justo, mas parecer ser! Quixotesca - moderna - bondade...

Fico me perguntado até onde pode avançar e donde nos levará tal invenção cultural? Qual o limite do relativismo e da vontade humana? Vontade essa que, por meio da retórica e do comportamento, opõe-se a tudo que possa representar a "autoridade instituída". Desejo visceral pelo desprezo a formas tradicionais de pensamento e de conduta que sustentam a sociedade, com suas naturais virtudes e vícios. Contemporâneo e autêntico é a resistência a termos e circunstâncias que não foram escolhidas livremente pelos bondosos homens e mulheres de moral superior. Não a vida como ela é! Engenheiros sociais são exímios em apontar "certeiramente" que o sistema atual não corresponde em nada às necessidades da vida real. Esse "mal estar" é o indutor da retórica de vitimação. Moderno é só a piedade!

Neste sentido, muito pertinente a obra de Lionel Trilling, que enfatiza a fixidez de nossa condição biológica, esta verdadeiramente libertadora de uma cultura que, de outro modo, seria absoluta e onipotente.

Até que ponto essa imposição cultural pode intimidar minha liberdade de pensar e me expressar de acordo com uma moralidade "tradicional" judaico-cristã? Moralidade embasada em valores edificados ao longo do tempo por interações sociais e homens, que reputo como sendo dignos, inteligentes e adaptativos. Dou-me o crédito de acreditar no passado, nas tradições, nos costumes e nas instituições que foram sendo forjadas. Especialmente, nos preconceitos, isto é, na sabedoria acumulada a duras penas. Ainda, posso eu crer na ideia abstrata do divino; aquilo que me provê forças e esperanças "internas" e, individualmente, auxiliam-me na vida pessoal e social? Sim, minha ligação com "meu divino" é fundamental, simplesmente porque acredito ser.

Creio que as diversas tribos - autoritárias - uma vez que desejam impor aos demais seus valores subjetivos e sua superioridade moral, inspiradas nos ideais rousseaunianos, vêem no homem um ser perfeito, bondoso, que deve fazer prevalecer suas paixões, interesses e vontades. Viva a vontade humana; faça-se realidade o controle absoluto e terreno! (Infelizmente, já presenciamos trajetórias do autoritarismo para o totalitarismo!).
Interessante que estava em um grupo de amigos, entre os quais um homossexual e um negro. Quando emergiu o tema das políticas afirmativas, curiosamente, os únicos que comportaram-se prudentemente, manifestando-se contra "discursos enfáticos" e apaixonados, foram exatamente os únicos representantes de tais minorias.

Evidente que nessa veia, o homem é o portador da sua própria salvação, sendo os que pensam distintamente maus, impiedosos, diferentemente dos "bons", indulgentes e acusadores das maldades humanas, das "bestas preconceituosas". Abaixo a verborreia politicamente correta! Julgamento sim, é preciso. Quero minha liberdade respeitada por declarar em alto e bom som aquilo que penso, como por exemplo, que "cultura popular", muitas vezes, é verdadeiramente lixo cultural, não sendo objeto de contemplação e admiração simplesmente porque emergiu da periferia. Em que lugar ficou o belo?

A perfeição moral gerada pelas mentes progressistas desejam o enquadramento da sociedade no seu totalitário padrão ético do bom, sendo moralmente superior o que apela as emoções e aos sentimentos benevolentes. Por certo, devem ser autenticamente externados, mesmo que sem uma verdadeira consideração com base em princípios transcendentes que incitam sentimentos de justiça e correção. Mentes dotadas de poder sobrenatural advogam a capacidade de mudar toda estrutura social - e educacional - em nome de uma maior - farisaica - "autenticidade".

Referenciando Girard, posso eu viver de forma distinta daquilo imposto pelos seres iluminados de moral superior, como aqueles do seu universo de Combray?

Distintamente da inversão das palavras freudianas - científicas ou não - a civilização começa quando o homem renuncia ao princípio do prazer - do tudo é permitido - em favor do princípio de realidade, em que a restrição dos instintos é fundamental para a vida em sociedade.

Para Trilling, o Freud da Civilização e seus Descontentamentos (1930), revelou a importância da necessidade de inibição, repressão, renúncia aos desejos instintivos do indivíduo no interesse da cultura e da civilização.

Nascemos num mundo pré-existente e vivemos na perpétua luta pela existência. Como tudo por ser engenheirado, e deve ser ideologizado, a repressão dos instintos freudianos foi apropriada pela retórica esquerdista como mecanismo de dominação social, devendo sobretudo os instintos serem glorificados. A era do hedonismo supremo e absoluto.
Tudo aquilo que vai de encontro ao autoengano consciente do homem indulgente - tenho que mencionar, e mulher - é reacionário, ridículo e fascista.

Até quando os supostos direitos, pleitos e retóricas dessas minorias desejosas por impor aos demais suas "verdades", irão se sobrepor aos interesses da maioria da população? Ou será que não está claro que os cidadãos de bem querem ter, objetivamente, trabalho, comida no prato, um espaço para si e respeito por sua dignidade? Como apontou Cobbett, deseja-se que o "velho homem" tenha liberdade, comida e trabalho adequado.

A verdadeira justiça social para todos, diz respeito a obtenção de recursos mais básicos - mais tangíveis - e acesso a uma educação que possibilite uma vida com mais significado.
Menos perfeição ideológica, bondosa, e mais direitos singelos e obrigatórios ligados ao reconhecimento e respeito mútuo na vida em sociedade, ou seja, mais justiça social.
Não seria mais prudente e melhor uma visão mais realista, sem a confusão em sentir-se bem com fazer o bem? A mente torna-se por demais perigosa quando se liberta das realidades vividas e da história!

Senão vejamos: chega de governar farisaicamente para interesses tribais e pontuais. É hora do verdadeiro desenvolvimento econômico e social para todos!

Alex Pipkin, PhD