• Alex Pipkin, PhD
  • 29/08/2019
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ABERTURA ECONÔMICA: REMÉDIO CERTEIRO CONTRA RETÓRICAS FRANCESAS E PROTECIONISMO

 

Bolsonaro, muito acertadamente, tem enfatizado a urgência de maior abertura econômica e operação brasileira nos mercados além-fronteiras. O mundo é mais importante para o Brasil do que o país para o mundo. Isso, mesmo com a nova postura do governo bolsonarista. Velha nova profecia!

Mas justamente em seu governo, há significativa mudança no ambiente internacional, revertendo décadas de liberalização do comércio. Flagrante desaceleração global.

Do ponto de vista microeconômico, algumas cadeias de valor estão se tornando mais regionais e menos globais, especialmente aquelas ligadas a maior grau de inovação, dada necessidade de integrar de perto muitos fornecedores para sequenciamento just-in-time e da velocidade ao mercado consumidor. Além disso, empresas necessitam desenvolver inovações – e customizações - mais rapidamente, o que implica em proximidade.

Contudo, por trás dessa possível onda de regionalização, encontram-se dois movimentos grandiosos. Primeiro, o avanço tecnológico em produção e comunicações reduz diferenciais de custos e acelera "relocalização" das cadeias de suprimento. Resposta rápida e melhor às necessidades dos clientes locais. A tecnologia exerce pressão direta e diminui importância dos custos de mão-de-obra como critério decisor na complexa escolha entre produzir e comerciar globalmente versus localização.

Segundo, aumentou significativamente a ameaça do protecionismo (barreiras tarifárias e não-tarifárias) e o nível de incerteza sobre políticas - e guerras comerciais - entre EUA e China. Mais vozes se juntam em favor de práticas protecionistas. Justificações ligadas ao Brexit e à flutuação dos preços do petróleo. Notadamente a China, tem impulsionado a produção local, refletindo uma diminuição do comércio global. Para se ter uma ideia da redução de comércio, a exportação de soja brasileira para a China, no primeiro semestre de 2019, caiu mais de 45% comparada ao mesmo período de 2018. Recentemente a Arábia Saudita (frangos) anunciou (sem apontar verdadeira razão) deslocamento de parte de importações (brasileiras) para produção interna. Singelo. Mercados internos em crescimento.

Tais movimentos impõem um ainda maior fechamento brasileiro ao mundo? Muito pelo contrário!

Na verdade, a abertura comercial brasileira servirá de proteção contra falaciosas investidas como a do presidente francês, Emmanuel Macron, que criticou pesadamente o Brasil em razão das queimadas. O oportunismo de Macron se justifica. A França é um dos países europeus mais protecionistas, subsidiando seu setor agrícola que deixa de ser competitivo. O suposto "fim do pulmão mundial" - embora nada além do "padrão histórico" - nada mais é do que ocasião oportuna para justificar a retórica populista, que aliás já se manifestava antes do arranjo contra as queimadas brasileiras. A França, com seu discurso populista e ideológico, já desejava romper com o acordo da União Europeia com o Mercosul, que depende de sua ratificação pelo parlamento europeu. Com queda extrema na sua popularidade na França, aquele que não impediu o incêndio na catedral Notre-Dame, agora quer ser o ubermensch que salvará a "Amazônia do mundo" das queimadas, provocadas pela inoperância governamental do "fascista" Bolsonaro.

O discurso francês é, de fato, uma mostra do desejo protecionista de inibição a competição, ou seja, a inclusão da agenda ambiental como forma de criar barreiras não tarifárias, diferentes das barreiras tarifárias empregadas na guerra comercial entre EUA e China. A Amazônia serve-se como instrumento de grande visibilidade e reverberação entre atores políticos e sociais no mundo inteiro.

Parece-me ingenuidade não perceber que existe um movimento ideológico orquestrado em rede, extremamente conectado e alinhado em favor de conhecidas "políticas científicas, bondosas e redentoras". Tal agenda progressista encontra-se entrincheirada nas instituições mundiais, em especial na grande mídia global, propagando suas narrativas de engajamento as suas causas interesseiras. Mesmo assim, parece que o Reino Unido e a própria Alemanha não se renderam aos apelos ideológicos do presidente francês. Trump, por sua vez, contrabalançou, externando seu apoio e alinhamento a agenda brasileira.

Desse modo, é necessário que o Brasil (Mercosul) firme acordos preferenciais de comércio, tornando-se mais barato, seguro e atrativo ao investimento estrangeiro, especialmente das grandes transnacionais.

Exatamente no momento em que ocorria maior engajamento e fluidez na direção da modernização no Mercosul, essencial para o estabelecimento de certas cadeias regionais de valor, principalmente com a Argentina, estamos prestes a presenciar retrocesso no bloco comercial. A quase certa vitória do kirchnerismo no país vizinho, provavelmente trará tempos sombrios para o Mercosul, a considerar as trocas de farpas entre Alberto Fernández e Bolsonaro.

Tal impasse compulsoriamente terá que ser resolvido. Talvez até com o desmantelamento do formato de integração como mercado comum. Todos países vizinhos lucrariam, mesmo que, minimamente, como uma zona de livre comércio. Fazer as mercadorias se movimentarem continuamente entre países é mais difícil e mais caro do que parece. Portanto, redução de distância é redução de custos e riscos.

Ambos os casos, acentuam a urgência de uma melhor integração entre a comunicação e a coordenação das falas e discursos do Planalto, especialmente de algumas "pouco polidas" improvisações do presidente Bolsonaro com relação a agenda externa. Mesmo com a mudança de postura do governo Bolsonaro, é preciso ter cautela na forma, no "como dizer". Faz parte da arte da diplomacia em negócios internacionais. Caso contrário, pano pra mangas para a estruturada trupe, especialista na batalha cultural empregada pela rede da mídia global interesseira.

É necessário defender-se da retórica! Como? Por meio da maior abertura econômica, seja no fortalecimento dos vínculos no Mercosul, embora essa possibilidade pareça mais distante, seja pela formação de acordos bilaterais de comércio, com Estados Unidos, Canadá, México e com países asiáticos. Esse é o caminho para o imperioso investimento externo direto no país. Evidente que para ganharmos em competitividade, não necessariamente nesta ordem, é preciso modernizar e simplificar a política fiscal, desburocratizar, investir, sobretudo em infraestrutura, e promover o mercado e a produção interna. Assim, estimularemos ainda mais os investimentos.

Embora os mercados necessitem de mais liberdade para operar mais eficazmente, o papel do Estado – eficiente - nessas questões é ordem! O governo é quem define a estrutura legal dentro do qual o mercado opera!

Não há outra saída para o crescimento econômico e social. Descabido relegar a abertura econômica! Além disso, o foco em nossa pauta externa é a defesa mais aguerrida contra retóricas e agenda protecionista do presidente francês. Sem dúvida, o melhor remédio ante a virulenta guerra protecionista que se avizinha.

Alex Pipkin, PhD