Maurício Nunes
Nota do editor do site Conservadores & Liberais: Eu não conhecia a página A toca do Lobo nem o autor Maurício Nunes, até encontrar ambos numa nessas esquinas do Facebook (que de vez em quando faz alguma coisa boa). Estou recomendando a página e o livro A toca do Lobo, de onde o autor extraiu esta crônica e a transcreveu em sua página, com um convite aos leitores para conhecer a obra. Vejam que delícia!
Christopher Reeve, o nosso eterno Super Man, e Robin Williams, que dispensa apresentações, tornaram-se colegas de classe, ainda muito jovens, enquanto estudavam na Julliard, uma escola localizada em NY, especializada no ensino das artes.
Os atores que dividiam o mesmo quarto na época das “vacas magras” prometeram que um ajudaria o outro quando obtivesse sucesso.
Anos mais tarde, por sorte, talento e vocação, ambos tornaram-se astros do cinema, com carreiras muito bem sucedidas.
Em 1978, Christopher Reeve, um ator ainda desconhecido, caia nas graças do diretor Richard Donner, que seria o responsável pelo filme que praticamente deu ínicio à onda de versões cinematográficas de HQs: Superman.
Com um elenco que incluía Marlon Brando e Gene Hackman, nascia ali a chance de Reeve se tornar uma estrela do dia pra noite e voar alto, tão alto quanto seu personagem, o valente e justo filho de Krypton.
Dois anos depois, ironicamente também dando vida a um herói de HQ, Robin Willians interpretava Popeye em um filme musical, dirigido por Robert Altman, sobre o simpático marinheiro.
As coincidências entre os dois amigos não paravam por aí, já que a primeira aparição de Superman nos quadrinhos foi na edição de estreia da revista Action Comics, publicada em 1938, e que apresentava em sua capa a imagem do Super Homem levantando um carro com as próprias mãos. O trabalho é considerado o marco zero das histórias em quadrinhos com super heróis e que depois, décadas a frente, foi recriada com Popeye no lugar do homem de aço.
Podemos dizer então que Robin e Chris, seja a base de espinafre ou se mantendo longe da kryptonita, formavam uma dupla de homens de aço e também super amigos, no sentido mais absoluto da expressão.
Os anos se passaram e Williams voou mais longe que o amigo, já que em meados de 1995 já havia protagonizado grandes filmes como “Good Morning, Vietnam”, “A Sociedade dos Poetas Mortos”, “Uma Babá Quase Perfeita”, “Jumanji”, “Alladin”, entre muitos outros.
Porém no dia 27 de maio deste ano foi nocauteado pela notícia de que seu amigo Reeve havia sofrido um grave acidente enquanto andava a cavalo. O ator, que deu vida nas telas ao “Homem de Aço” e imortalizou a figura do super herói, ficou tetraplégico.
Em junho do mesmo ano ele foi submetido a uma cirurgia, do qual só tinha 50% de chance em sobreviver, mas antes de entrar na sala cirúrgica, um médico com forte sotaque russo entrou em seu quarto dizendo que iria fazer um exame retal no ator.
Era Robin Williams, disfarçado de médico, quase já prevendo seu sucesso três anos depois interpretando o criador do Doutores da Alegria, “Patch Adams”, numa tentativa de animar o amigo que, em sua biografia, declarou ter sido esta a primeira vez que conseguiu gargalhar após o acidente.
Reeve sobreviveu à arriscada cirurgia, mas seu patrimônio não. As altas despesas com seu tratamento deixaram o ator numa situação financeira muito difícil, a ponto de Williams cobrir todos os gastos hospitalares do amigo e também garantir que nem Christopher e nem sua família jamais ficariam desamparados. Robin jurou que cumpriria sua promessa até o fim e assim o fez.
Infelizmente em 10 de outubro de 2004, o mundo perderia seu "Super Homem", vítima de um infarto causado por uma infecção. Dois anos depois, a esposa do ator, a atriz Dana Reeve, com quem ele se casara em 1987, acabou falecendo vítima de um câncer.
Will Reeve, filho do casal, ficou orfão em 2006, com apenas 14 anos, mas foi legalmente adotado por Robin Williams.
Num daqueles mistérios da vida, em 11 de agosto de 2014, Williams, sujeito tão generoso e notoriamente divertido, sucumbiu à uma forte depressão, somada a alguns problemas de saúde, e cometeu suicídio.
Will tornou-se herdeiro do rico patrimônio do comediante, dividido igualmente entre ele e os dois filhos sanguíneos de Williams, que também deixou em testamento um valor significativo para a Fundação “Christopher Reeve Paralysis”.
Um exemplo de amizade, de amor e da mais total fidelidade. Pena que ironicamente enquanto um amigo lutou bravamente para se manter vivo, o outro, movido por forças ainda desconhecidas pela ciência, entregou sua própria vida antes do prazo de validade.
Que todo o talento e história destes dois grandes nomes do cinema mundial, possam refletir nas presentes e futuras gerações o valor incalculável de uma relação tão intensa e tão significativa de amor ao próximo.
Talvez o mundo, cada vez mais superficial, nem precise de novos astros, mas sim de grandes amigos notáveis e inspiradores de tão pura e sincera lição sobre o real significado de uma verdadeira amizade.
Há tantas canções sobre amigos, mas “With Little Help From My Friends”, canção dos Beatles, imortalizada na versão de Joe Cocker, talvez defina o real significado desta inspiradora história de amizade entre dois grandes heróis:
“Você sempre pode voar alto com a ajuda de seus amigos.”
Texto original do livro A Toca do Lobo