• Irineu Berestinas
  • 12/09/2019
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A SINTONIA FINA (A CAIXA DE PANDORA DE JOHN MAYNARD KEYNES)


                  Nos últimos tempos, nas plagas latino-americanas, o que temos observado, com certa frequência, são governantes cujos compromissos estão pautados pela irracionalidade, culto à personalidade, autoritarismo ou pelo mais desbragado populismo. E, agora em anos mais recentes, alguns deles estão associados aos objetivos do Foro de São Paulo (as esquerdas da América Latina reunidas para transformar o nosso continente noutra União Soviética), incluído nesse projeto o apoio a Daniel Ortega, da Nicarágua, e ao proposto de Hugo Chávez, na Venezuela, Nicolás Maduro... Cidadãos que chegaram ao poder pela via democrática, cujos objetivos, entretanto, são o de detonar a Democracia em seus países. O que estão fazendo, sem se importar com os meios e os métodos de terror aplicados.

                  A bem da verdade, toda essa lambança teve origem na teoria econômica de John Maynard Keynes, na década de 30 do século passado, que abriu a Caixa de Pandora da Economia, com a sua engenhosa criação denominada "Sintonia Fina", por meio da qual eram manipuladas as políticas fiscal e monetária (os gastos públicos, no primeiro caso; e o crédito, a expansão do dinheiro, os juros, no segundo), abrindo historicamente, assim, as comportas do déficit público, e, por consequência, da inflação. Certamente, o precursor da teoria de livres mercados, o escocês Adam Smith, não se conformaria com esse Cavalo de Troia do capitalismo nas Américas, e diria com arguta propriedade: "Espera lá, vocês fabricaram a crise de 29, o crash da bolsa americana do século passado, primeiro injetando muito dinheiro na economia, depois enxugando demais, a par de buscarem solução no fechamento do seu mercado para outros países, por meio de tarifas alfandegárias estratosféricas, e querem atribuir esse abismo à teoria que iniciei, é muito desatino e lapidar injustiça!"

                  É bom dizer que, pela Sintonia Fina, o "gerenciamento" da economia é realizado para atender ao obstinado continuísmo, ao desejo de poder, atrelado a projetos bolivarianos ou não, na forma já relatada, e não para preservar os interesses gerais da sociedade. Essa é a leitura que podemos fazer da era petista (Lula e Dilma), na qual manipularam os agregados econômicos e o dinheiro do BNDES para fazer camaradagem com empresários amigos e com países identificados com a sua ideologia, os quais estão rodando o socialismo com muita dificuldade (Cuba, Venezuela, Nicarágua e Bolívia). Sem contar ainda países africanos que receberam dinheiro brasileiro para construir obras. Pasmem, prezados leitores! Essas práticas são dignas de fazer parte da coletânea de contos de Jorge Luis Borges, o argentino culto e inspirado, denominada "História Universal da Infâmia". A nossa gente sem hospitais e rede de esgoto, serviços públicos precários, e Lula e Dilma resolvem fazer caridade com outros países: porto de Mariel em Cuba, aeroporto na África do Sul, viadutos e metrôs na Venezuela, perdão da dívida da Bolívia. Quer dizer, vamos fazer um esforço sobre-humano para economizar 940 bilhões de reais, dinheiro a ser retirado das aposentadorias, num espaço de dez anos, quando esse senhor e essa senhora, representando a esquerda no poder, pelo que se tem notícia, remeteram, via BNDES, um bilhão de reais para as ditas repúblicas socialistas. A coisa funcionava do seguinte modo: o governo emitia títulos da dívida federal e repassava esse dinheiro arrecadado para a referida instituição financeira, e essa, por sua vez e sigilosamente, enchia o bolso de ditadores, tal qual o relatado. Isso tudo sem passar pela apreciação do Parlamento Brasileiro. Crime de lesa pátria! É o mínimo que se pode dizer...

Assim, políticos "obsequiosos" se apropriaram da "Sintonia Fina", que passou a ser eficiente instrumento das suas pretensões pessoais e ideológicas: "vamos continuar no poder nem que seja falindo as finanças públicas dos nossos países". A Dilma, mesmo sem ter recebido, provavelmente, muitas informações a respeito da semântica da "Sintonia Fina" (já pensaram na cidadã dando uma aula sobre Sintonia Fina em entrevista...), fez a lambança que todos nós conhecemos e que resultou em 12 milhões de desempregados e no desarranjo das finanças públicas.

A Argentina, por exemplo, com a aplicação da "Sintonia Fina" e com medidas heterodoxas na sua economia, aplicadas por políticos peronistas, perdeu o bonde da história...

Por tudo isso, é razoável dizer que é absolutamente necessário estabelecer limites percentuais para a dívida pública federal e proibir os governos de repassar dinheiro para o BNDES. Aliás, o que é absolutamente necessário é tirar o banco público de investimentos dessa jornada, de tal sorte que o mercado de capitais seja a grande fonte de financiamentos das nossas empresas. O ministro Paulo Guedes, cujas ideias estão na contramão da teoria de John Maynard Keynes, tem, sabiamente, trabalhado nessa direção, ao fomentar as reformas necessárias. Esperamos que continue firmemente no seu trajeto sem ser obstado (ele e a sua valorosa e competente equipe).

Sem esses dispositivos restritivos, nem mesmo um banco central independente seria capaz de executar o seu ofício com nobreza, qual seja, o de zelar, naquilo que lhe diz respeito, pela preservação do poder de compra da moeda, pois da forma como são constituídos, até mesmo nos EUA, são fonte de financiamento de governos gastadores, perdulários, que sobrevivem de déficits orçamentários rotineiros e crescentes, porque a dívida pública traz a exigência da emissão monetária em algum momento, e a emissão é sabidamente inflacionária, quando a quantidade de moeda excede as exigências da economia.