Ao olhar para a manjedoura,
Entenda o quão vergonhosa é a soberba,
O quão venenosa é uma aspiração sem medida,
O quão ridícula é aw vaidade,
O quão calhorda pode ser sua atitude,
Quando pautada na falsidade.
Ao olhar para a manjedoura,
Não desvie o rosto da bofetada que ela representa.
Não tema ver-se no espelho.
Enfrente seu reflexo turvo,
Como o sedento que aceita uma água impura e, logo após, segue em frente,
Ciente de sua pequenez.
Ao contempla-lá, não creia na bonança duradoura.
Nem idolatre os duros ouros
Como se fossem eles os fins de sua existência.
Não.
Não alimente a vida pela importância de um níquel sequer.
Ele não vale qualquer coisa.
Se valesse, estaria no estábulo.
Ornaria a manjedoura.
Ao olhar para a manjedoura,
Chore, e reconheça seu tamanho.
Conheça a si mesmo.
Entenda que lá é um lugar nobre,
Como nobres são as moradas pobres.
A beleza não está no perfume agradável,
Nem se encontra nos fios de seda trançados em tapetes cuidadosamente ornados,
A fim de que sejam pisados por pés aveludados de um raro afortunado.
A riqueza não está no brilho do diamante.
Não se assemelha ao banquete farto.
Não se aproxima de narizes eretos,
Apontados ao céu de maneira tão repugnante quanto insegura.
Não se afasta da realidade crua.
Da madeira do estábulo.
Da palha que até pode não ser pluma,
Mas acolhe o repouso do menino Deus.
Por alguma razão, não havia ali um berço de marfim,
Por alguma razão, as testemunhas da chegada do Rei eram poucas.
Quase todos quadrúpedes que carregam em seus lombos o peso da vida dos outros.
Por alguma razão, aquilo que para muitos seria um fim, representou o início de nossa redenção.
Então, cuidado!
Muito cuidado ao olhar para a manjedoura e suas palhas.
As palhas trarão consigo aquilo que nos falta.
Aquilo que nos traz o pranto e, muitas vezes, é tomado por infortúnio.
E a manjedoura?
Bem...
Essa será mais implacável ao desvendar a verdade.
E certamente trará aos olhos aquilo que preenche o nosso coração.
Harley Wanzeller, em 24/12/2019