O rótulo de "teórico da conspiração" é um dos instrumentos bélicos mais usados e mais eficazes no combate ao inimigo na guerra cultural. Para entrar nesta guerra e passar a ser rotulado é muito fácil. Basta dizer que você é contra as drogas e contra o aborto que já estará nela inserido. Um exemplo bem simples, embora a disputa pelo pensamento alheio não se resuma à saúde pública ou ao corpo feminino.
O rotulado é sempre visto como um maluco pregador de profecias, um idealizador do passado, um fanático, um paranoico, um religioso que não quer a dita evolução social. Enquanto isso, o rotulador é o portador dos bons antecedentes, o titular da moral hodierna e evoluída; suas ideias são sempre as melhores. Ele acredita ser um hegeliano de primeira. Numa acepção essencial da teoria dialética de Hegel, a história da frente é sempre a evolução de bons e maus pensamentos rivais do passado.
Essa desqualificação é utilizada para evitar a resistência a novas ideias evoluídas da modernidade ou pós-modernidade. A intenção é desviar a atenção do verdadeiro foco do debate e fugir do enfrentamento de uma realidade sensível trazida pelo rotulado para um quadrante de escarnecedores. Os sofistas fariam melhor, já que jamais se recusariam a debater intensamente. É o abandono da inteligência, da razão, do pensar livre e democrático, em nome de supostas verdades consensuais ou contemporâneas.
O pensamento é aviltado em nome de sensações românticas que ladeiam a razão humana. As melhores decisões são as pragmáticas, aquelas que resolvem tudo na hora e sem perder muito tempo. Afinal, o mundo anda rápido e precisamos acompanhar esse "trem bala".
As repetições são usuais em detrimento do pensamento criativo. É uma espécie de barbarismo intelectual que invadiu sorrateiramente as mentes e os corações humanos a partir de um certo momento na história. Mario Ferreira dos Santos nos diz que estamos hoje no maior caos aporético já visto, com a caricaturização da pessoa inteligente e a coroação do "pensador" malandro (em Invasão vertical dos bárbaros).
O tal do "inimigo das verdades consensuais" modernas tem as suas próprias verdades e quer expô-las contra aquilo que Theodore Dalrymple também combate: a frivolidade do mal. O pensamento do rotulado é voltado para o futuro. A sua "conspiração" nada mais é do que história e filosofia pura e autêntica.
Evitar a degradação cultural, a desumanização humana. Esse é o intento dos tais "conspiradores".