• Alex Pipkin, PhD
  • 08/03/2022
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A IMINENTE DESGLOBALIZAÇÃO E O BRASIL - 2a. Parte

 

Alex Pipkin, PhD



Publiquei um texto sobre a iminente desglobalização e os reflexos no Brasil, em especial, o apetite contraproducente e ideológico no que diz respeito às insensatas políticas nacional-desenvolvimentistas. Evidente que é possível discordar do meu viés “aberto e entreguista”.

Obrigo-me a referir que na República das Bananas - isso, nós temos bananas! - sobra nacionalismo (barato) e há escassez de patriotismo.

Genuinamente, tem-se uma série de “especialistas” - grande parte das redes sociais - e poucos leitores instruídos nos temas em questão.

Por isso, quando o assunto é comércio internacional - entre muitos outros - recorro-me ao Mestre Adam Smith.

Nenhum país pode “ser tudo para todos”, existem certas vocações e especializações.

Países fechados possuem, então, maior pobreza e menor desenvolvimento econômico e social. Ponto. Comparem, por exemplo, à situação da Coreia do Norte em relação à Coreia do Sul.

Adam Smith em A Riqueza das Nações (1776), profetizou que a divisão do trabalho em nível internacional conduziria a especialização, as economias de escala e ao fundamental aumento da produtividade, que levaria ao aumento da prosperidade de uma nação.

Dizia ele que não é o acúmulo de dinheiro o responsável pela maior prosperidade, e sim o aumento da produtividade, o que implica nas trocas.

Por meio da especialização do trabalho e da produção, as empresas expandem seus mercados, aumentam sua produção e alcançam economias de escala, possibilitando a redução de preços para os consumidores, locais e estrangeiros.

No fundo, o comércio internacional não deixa de ser uma troca de trabalho e produção especializados.

O nacionalismo (barato) cega muitos de enxergarem que o Brasil não produz, ou não eficientemente, uma série de matérias-primas, componentes, produtos, bens de capital, etc., necessários para a manufatura da tão sonhada “produção nacional”.

Vejam o que está ocorrendo justamente agora com a Guerra na Ucrânia, em que a agricultura brasileira ainda é dependente dos fertilizantes russos para operar eficientemente. As pessoas não compreendem que muitos dos esforços para produzir bens nacionais não são verdadeiramente nacionais.

Eu não tenho qualquer sombra de dúvida de que uma das principais razões para a escassez de crescimento econômico e social na terra de Macunaíma, é exatamente o lobby efetivo de parte dos ”empresários”, que se associa com agentes estatais para impor proteção e barreiras a oferta estrangeira, obrigando os consumidores brasileiros a comprar produtos de pior qualidade e a preços mais altos.

Singelo, o famoso estamento burocrático brilhantemente exposto por Raimundo Faoro.

Similarmente, quando um governo protege um determinado setor, ele evita a natural mobilidade dos trabalhadores para os setores mais rentáveis, continuando a penalizar os consumidores que necessitam gastar mais de sua renda para consumirem a respectiva oferta.

Muitos alegam que a globalização rouba empregos nacionais. No caso brasileiro, penso que por não participarmos efetivamente das cadeias globais de valor, é que deixamos de gerar postos de trabalho, inclusive, adicionando conteúdo tecnológico.

Verdadeiramente, o grande problema da falta de empregos industriais no país, deve-se ao compadrio e a maior produtividade e/ou custos mais baixos em manufatura em outras nações.

Porém, mesmo que a fabricação de determinados itens esteja ocorrendo em países de baixo custo, essas empresas estão investindo recursos de forma mais eficiente em processos de maior valor agregado, tais como os de marketing, de distribuição, de pesquisa e desenvolvimento e de design.

A questão do desemprego no país, parece-me, ocorre muito mais pelo nosso baixo nível tecnológico, o que é essencial para adicionar produtividade às pessoas e às empresas, do que pela globalização dos mercados.

O baixo índice de inovação tecnológica nacional, por sua vez, é responsabilidade de nossas instituições patrimonialistas e corporativistas, que não abrem a economia e não investem em inovação, em qualificação de trabalhadores para os novos desafios econômicos e, especialmente, em um ensino moderno, transformador e “de verdade”.

Portanto, são necessárias mais trocas internacionais - não menos -, a fim de que possamos agregar mais tecnologias, mais empregos e mais renda.
Só  maior produtividade nos alçará a uma posição de maior prosperidade.