Alex Pipkin, PhD
Não hesito em dizer que a evolução não é um processo linear. E, neste sentido, parece que atualmente estamos dando passos para trás.
Os valores da civilização ocidental, morais e culturais, foram atacados em sua alma, na essência. Os pilares e as virtudes do esforço, da excelência e da busca da grandeza individual, além de terem sido rechaçados, fomentaram uma “cultura” e mentalidade transloucada, a da ideia fixa da opressão.
A virtuosa busca - com esforço, estudo, treinamento e o “correr riscos” - para se tornar excelente, transformou-se em uma espécie de transgressão cultural. O indivíduo que busca a excelência e, mais ainda, que ousa exibir esse desejo, passou a ser acusado de perpetuador de privilégios, ou de fomentar sistemas de poder excludentes.
O grande Roger Scruton, foi um dos pensadores que identificou com precisão essa corrosão dos valores civilizatórios. Para ele, a beleza, a ordem e a excelência, sempre foram as forças que elevam o espírito humano acima da banalidade e da barbárie. O esforço, a fim de se destacar, e a realização individual, “progressistamente”, agora são encarados como uma construção social a serviço dos poderosos.
Os modernos desconstrutores querem nos convencer de que o gênio é apenas uma invenção arbitrária para justificar privilégios, quando na verdade ele é a expressão mais nobre da alma humana.
Por detrás desse processo de desconstrução, está impregnada a tentativa de posicionar, de forma automática, toda natural desigualdade, como resultado da opressão e da injustiça. A desigualdade entre os homens é uma característica da natureza e reflexo inevitável da liberdade humana. Evidente que de maneira imanente, a desigualdade é o retrato também das diferenças de talento, de esforço e de escolhas entre os indivíduos.
O vício destruidor do presente, é o de desejar nivelar todos por baixo. Ao holofotizar a diversidade e a inclusão - politizadas -, a única diversidade que realmente importa para o progresso humano, a de caráter, de talento e de esforço individual, é fortemente reprimida. A ordem do dia é homogeneizar, apagando as virtudes da excelência.
Tal inversão de valores explica o porque as únicas pessoas autorizadas a chamar a atenção para sua singularidade são aquelas que se apresentam como vítimas. Os “sofredores” reivindicam e adquirem uma espécie de aura moral que os coloca acima de quaisquer julgamentos. O penoso esforço para triunfar sobre as adversidades, é, até mesmo, condenado! Pois não há verdadeiro heroísmo em exibir as próprias feridas, ao invés de cicatrizá-las.
Tal mentalidade tacanha nega uma inquestionável verdade: o homem é aquilo que faz, e é o resultado de sua jornada, de suas decisões.A atual percepção da autenticidade, da mera aparência de vulnerabilidade, trai a própria essência da liberdade humana. O indivíduo não se define pelas circunstâncias que o cercam, mas pela maneira como responde a elas. Sofrer não é uma virtude. Superar o sofrimento, parece-me que sim.
O paradoxo em relação à dignidade humana não está na submissão, mas na capacidade de resistir e transcender - na escuridão e no silêncio do esforço contínuo para se tornar excelente. Mas é muito mais singelo criticar do que se esforçar. É muito mais fácil se vitimizar do que assumir ás rédeas do seu próprio destino! Ainda bem que tal regressão não é inevitável. Trata-se até de uma virada existencial. O indivíduo livre, aquele que se recusa a ser nivelado, precisa assumir para si a responsabilidade de afirmar aquilo que a cultura dominante quer apagar: que a vida tem, sim, hierarquias naturais. Sofrer é um processo mundano, mas o outro lado da mesma moeda passa pelo esforço e pela disciplina individual.
Se o homem é aquilo que faz, a pergunta decisiva não é sobre quem sofre mais, mas é a respeito de quem ousa se tornar mais. O destino da civilização depende da resposta a essa pergunta. Há, evidente, luz no fundo do túnel. Vozes e ações são vislumbradas na batalha contra a era da mediocridade e da cultura do ressentimento.
Assim, se poucos sustentam o mundo, que o façam com genuíno orgulho, pois a grandeza nunca foi obra das massas, mas de indivíduos que ousaram ser mais - excelentes.