Alex Pipkin, PhD
A esperança é a última que morre. Pode ser. Mas que ela tem decepcionado, disso não tenho dúvidas.
Esta aquarela não é somente verde-amarela, é mundial. Não sou saudosista, porém, nem sempre foi assim.
Tá certo, o quadro é pandêmico, mas muito mais desesperadora é a crise moral e ética vigente, o resto da cultura com “c” maiúsculo que sobrou, o tecido social rachado, e a generalizada apatia que se enraizou.
A grande maioria de nós, não é nem santo nem marginal. Santos só nas igrejas, nas sinagogas nem os há.
Acho que as luzes DELE servem exatamente para iluminar princípios individuais e coletivos que nos auxiliariam a viver melhor em comunidade.
Mas também penso que Adam Smith tinha razão, com sua analogia do nosso outro “eu interior”, o nosso espectador imparcial.
É uma espécie de consciência que avalia a nossa conduta e a de outras pessoas em certas circunstâncias, e nos impele a formar um juízo, ou seja, é o nosso caráter moral.
Aparenta que nossas bússolas morais quebraram e/ou os limites entre o considerado certo e errado se tornaram elásticos - por demais.
Nosso sistema intuitivo favorece julgamentos fundamentados em normas básicas de justiça. Espontaneamente, avaliamos se nossa conduta é apropriada ao outro, assim, de maneira mais “moral”.
Interessantemente, quando pensamos de modo mais reflexivo, podemos, de fato, gerar um julgamento mais “imoral”, buscando nosso interesse próprio e/ou a fim de proteger a autoimagem de alguém.
Aliás, trangressões de conduta pessoal são sempre racionalizadas e mais amenas do que a dos outros.
Em especial, se você for um dos líderes de uma massa, ou de um determinado grupo - algum sujeito classificado como “de elite” (e o nível de nossas elites se encontram próximas ou dentro do ralo) -, cruzar as linhas morais e éticas parece cada vez menos uma transgressão e, tristemente, mais um direito que lhes é devido.
Esses semideuses creem que têm o direito de redesenhar o certo e o errado. A moral e a conduta de boa ou má fé são sempre relativizadas e gigantescamente flexíveis.
Num contexto de extrema polarização política, o reino é da hipocrisia, em que graves transgressões morais e éticas passam a ser aceitáveis porque “os outros também fazem”.
O reino da farsa se intensificou de forma gradual. Psicologicamente, a sociedade afundou numa falha moral que tem trocado a valorização dos valores virtuosos pelo encaixe e acomodação nesta cultura da falsidade.
Lamentável, o espectador imparcial smithiano ficou mudo dentro de nós.
Parece que muitos perderam suas individualidades, sequer são capazes de se reconhecerem no espelho, e a dissimulação age de forma soberana, sujeitando a própria agência individual às normas desviantes do coletivo.
Transgressões e enganos são racionalizados e se transformam em questões aceitáveis, e o pior, viram hábitos que se tornam parte do tecido social moral, individual e coletivo. De erro em erro, todos acabam se escravizando pela hipocrisia.
Nesse ambiente binário, cada lado alude o outro lado como sendo hipócrita. E a falsidade vai confundindo e paralisando a todos...
Inexiste ambiente mais propício para que surjam outros autoritários, travestidos de salvadores da pátria, que obviamente algum dos lados irá idolatrar e declarar amor incondicional.
Chegou a hora de retornarmos para dentro de cada um de nós, numa espécie de retiro e revisão de quem realmente somos e/ou queremos ser.
Contra o vírus da hipocrisia-21, só a vacina do pensar e do agir com base nos redentores e nos virtuosos valores individuais.