• Guilherme Fiuza, na Época.
  • 30/04/2017
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A CARNE FRACA DOS MORTOS-VIVOS

 

Um fantasma da política brasileira desafiou Sergio Moro a prendê-lo. Disse que, se o juiz se atrevesse, seria recebido à bala. Não vale gastar uma linha com o referido personagem, pois o que os mortos-vivos querem justamente é que se fale deles, para que possam sair das catacumbas e dar uma voltinha no noticiário. Vamos identificá-lo apenas como Xingo Nomes – o apelido imortal criado pelo Casseta & planeta. Xingo Nomes quer ser candidato a presidente por seu vigésimo partido (se a conta não estiver por aí, está quase) e isso também não tem a menor importância. O que importa é que esse morto-vivo estaria morto-morto se o Brasil tivesse entendido direito o que foi o escândalo da Lava Jato.

O Brasil, coitado, ainda não entendeu. Bravateando contra Moro, Xingo Nomes – o homem que desmoralizou a bravura – sabe que herda o voto dos que acham que Lula é perseguido pelo juiz. E não haveria mais viva alma (honesta ou não) acreditando nessa lenda se o Brasil tivesse entendido o que foi o maior escândalo da sua história.

Contando, ninguém acredita: enquanto Dilma flana pelo mundo dando palestras em dilmês, e Lula finge que inaugura obra que o seu governo fraudou e não entregou, a Lava Jato revela novos crimes do criador e da criatura. Agora já temos as cenas explícitas das cifras milionárias escoando do caixa da Odebrecht para as contas de Lula e Dilma – através do "Italiano" e do "Pós-Italiano". Esses são os apelidos carinhosos criados pela contabilidade da empreiteira para Antonio Palocci, preposto do criador, e Guido Mantega, preposto da criatura, no reinado obsceno do PT.

Querido Brasil brasileiro, sem querer incomodar: você já tinha visto, nesta terra de coqueiro que dá coco, dinheiro grosso de fornecedor do governo passando pelas mãos de ministros de primeira grandeza e indo parar no caixa do(a) presidente(a) da República? Respondemos por você, para não cansar sua beleza tropical: não, companheiro. Você nunca viu nada parecido. Nem sonhou – mesmo nas suas fantasias mais picantes.

Ainda assim, estão lhe dizendo que a corrupção é um problema generalizado no país – ou "cultural", como declararam personagens como o ex-ministro-despachante Cardozo e o procurador-falador Janot, que aliás formaram uma entrosada dupla de zaga na primeira fase da Lava Jato. Igualdade social já era. O mandamento agora é a igualdade criminal. Um desses teólogos de passeata escreveu que até entre os apóstolos de Cristo havia corrupto. Só faltou lembrar a famosa frase de Jesus: caixa dois todo mundo faz.

Enquanto isso, na vida real cansada de guerra, você nem tinha assimilado direito o Pós-Italiano e é apresentado ao Pós-Barusco. Tirem as crianças da sala: depois de roubar a Petrobras à vontade, Pedro Barusco – o delator que aceitou devolver a gorjeta de R$ 100 milhões – saiu do cargo instruindo as empreiteiras a manter a propina para seu sucessor, o felizardo Roberto Gonçalves (cinco contas na Suíça). Deu para entender, Brasil? O escudo da bondade petista proporcionou a incorporação da fraude ao cargo. Governo solidário é isso aí: todo mundo se deu bem, menos você.

Está pouco? Então tome mais um fenômeno cultural: a Odebrecht confessou que comprou tempo de TV para Dilma Rousseff no horário eleitoral de 2014. Investimento arriscado, considerando a qualidade do produto a ser exposto. Mas deu certo e Dilma foi reeleita, comprovando que o telespectador brasileiro prefere filme de terror.

Enquanto Lula e Dilma não forem presos, o gigante adormecido e com problemas cognitivos não entenderá que, como nunca antes em tempo algum, o governo foi transformado em sindicato do crime e o palácio em sede da quadrilha. Não se trata de revanche. Este signatário até preferia que os dois simplesmente desencarnassem da política brasileira e fossem pescar suas próprias trutas. Mas aí o gigante nunca vai entender que o sequestro do Estado brasileiro só foi possível graças à lenda do filho do Brasil e seu presépio de apóstolos tarja preta.

Esses mortos-vivos que bravateiam contra Moro e Dallagnol são os padres pedófilos da política. Apresentam-se como guerreiros do povo para viver às custas dele. A carne é fraca. A Lava Jato tem até 2018 para desmontar de vez esse truque.