• Jorge Schwerz
  • 15/12/2020
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1935: A TRAIÇÃO ESQUECIDA

 

 

 “Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la.” (Edmund Burke)


 

O último dia 27 de novembro, uma sexta-feira, não teria nada de especial se não fosse a antevéspera do segundo turno das eleições municipais no Brasil.

A eleição para a Prefeitura de Porto Alegre revestiu-se de um tom especial, pois concorria ao mandato de prefeito a candidata da extrema-esquerda do Partido Comunista do Brasil. Felizmente, derrotada!

 

Seria somente isso se esta data não carregasse uma importante mensagem, quando voltamos 85 anos no passado e lembramos que o comunismo, pela primeira vez, acercou-se do Brasil de forma violenta.

 

Foi neste dia de 1935 que houve a tentativa de tomada do poder pelos comunistas liderados pelo maior traidor da pátria brasileira, Luis Carlos Prestes, ex-Capitão do Exército, espião da União Soviética; o qual entrou no Brasil sob disfarce, escoltado pela agente do Serviço de Inteligência do Exército Vermelho, Olga Benário.

 

A primeira lembrança que tenho dessa traição, foi o medo que os nossos instrutores provocavam nos alunos e cadetes, rememorando que, durante a intentona comunista, muitos companheiros foram mortos quando ainda dormiam. Servindo-nos como exemplo para que estivéssemos sempre atentos durante os nossos serviços de vigia.

 

Honrando os que tombaram defendendo o Brasil, o Blog Ao Bom Combate! não poderia deixar de relembrar esta data.

 

Para tal, conto com a prestimosa ajuda do Coronel Luiz Ernani Caminha Giorgis, do Exército Brasileiro e Presidente da Academia de História Militar Terrestre/RS que, gentilmente me concedeu a honra de usar as suas palavras para que a Intentona Comunista não seja nunca esquecida.

 

“O preço da liberdade é a eterna vigilância!”

 

*O autor é Coronel Aviador
 

A INTENTONA COMUNISTA DE 1935 EM POUCAS PALAVRAS


 

Coronel de Infantaria Luiz Ernani Caminha Giorgis, do Exército Brasileiro.


 

Em 1908 surge, no Rio de Janeiro, a Confederação Operária Brasileira (COB), inspirada em Karl Marx e Friedrich Engels. Seu órgão oficial é o jornal “A Voz do Trabalhador”, que adota uma linha grevista-reivindicatória e contrária ao Serviço Militar.

 

Com a Revolução Comunista na Rússia, em 1917 a COB ganha força e passa a atacar acintosamente o Governo Federal.

 

Em 1922, é organizado o Partido Comunista Brasileiro (PCB), no Rio de Janeiro, negando o sentimento de Pátria e manifestando a tomada do poder pela força. O PCB lança o jornal “O Movimento Comunista” e em seguida o “A Classe Operária”. Em seguida, surgem no cenário duas novas

organizações, a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) e a Federação Sindical, ambas nitidamente subversivas. A agitação reinante faz o Presidente Arthur Bernardes decretar o Estado de Sítio, somente suspenso em 1927, já com Washington Luís. No mesmo ano, o Congresso aprova lei colocando o PCB na ilegalidade. O movimento comunista passa a ser clandestino. Em um congresso, o Partido escolhe Luís Carlos Prestes para líder que, convidado, aceita. Prestes era conhecido nacionalmente pela participação na Coluna de Miguel Costa (movimento tenentista).

 

Em 1931, Luís Carlos Prestes segue para a União Soviética, onde faz cursos de liderança comunista. No regresso, assume a direção do Partido. As atividades comunistas ganham incremento. Em 1934, surge a Aliança Nacional Libertadora (ANL), nova organização comunista, melhor estruturada. A ALN será o dínamo da Intentona e Prestes é o Presidente.

 

Neste contexto, o deputado Carlos Lacerda lê em plenário um manifesto de ataque ao governo, combatendo o imperialismo e o latifúndio. O manifesto favorece os comunistas.

 

Em 1935, chega ao Brasil o agente do Komintern Artur Ewert, para auxiliar na articulação do movimento. A propaganda comunista chega aos quartéis, através de elementos doutrinados por Prestes e por Agildo Barata, entre outros. O assalto comunista torna-se iminente.

 

A 23 de novembro inicia-se o levante em Natal, estendendo-se ao Recife em 24 e ao Rio a 27. Na Capital Federal, irrompe no 3º RI (Praia Vermelha) e na Escola de Aviação (Campo dos Afonsos). No 21º BC em Natal, às 1930 h de 23Nov (sábado), dois sargentos, dois cabos e dois soldados prenderam o Oficial de Dia (Ten Abel) e abriram o quartel para os demais revoltosos. Muitos eram remanescentes da recém-extinta Guarda Civil. O armamento e a munição foram retirados das reservas e paióis. Armados, os revoltosos atacaram o quartel da Polícia Civil que, depois de 19 horas de resistência, rendeu-se. Os comunistas só fugiram com a ação das tropas federais, depois de terem feito vários assassinatos, saques e arrombamentos, ao longo de quatro dias. Presos logo após, responderam processos na justiça.

 

Em Recife, quando os militares comunistas souberam dos acontecimentos em Natal, insurgiram-se contra seus comandantes. Em Olinda, no dia 24, civis comandados por um sargento, atacaram a Cadeia Pública, apoderando-se do armamento. A Secretaria da Segurança Pública, bem como o QG da 7ª RM foram também atacados. No CPOR, um sargento matou um oficial e feriu outro, sendo preso em seguida. Os confrontos mais graves ocorreram no 29º BC. Um comandante de Companhia, o Ten Lamartine, colocou sua tropa contra as forças legais, no que foi seguido por outras sub-unidades. Lamartine apossou-se de todo o armamento e suas tropas ocuparam vários pontos do Recife. Com o reforço de tropas das Alagoas e da Paraíba o comandante das forças legais, Ten Cel Afonso de Albuquerque, conseguiu cercar os rebeldes. Resultado: dezenas de mortos, cerca de 100 feridos e 500 rebeldes presos.

 

No Rio de Janeiro aconteceram os fatos mais graves, por ser a Capital Federal. Os dois locais de maiores levantes comunistas foram o 3º RI (Praia Vermelha) e a Escola de Aviação (Campo dos Afonsos). No 3º RI, a doutrinação comunista tinha atingido oficiais e graduados, em todas as sub-unidades. Os líderes eram os capitães Álvaro de Souza, Agildo Barata e José Brasil. A unidade estava de prontidão no dia 26 Nov, em função dos acontecimentos no NE. Neste dia, à tarde, o Cap Agildo Barata recebeu ordem de Luís Carlos Prestes para deflagrar o movimento na madrugada de 26/27. O 1º tiro foi disparado às 0200 h, no pátio do Regimento. Em seguida, a Companhia de Metralhadoras foi atacada e reagiu, sob o comando do Cap Álvaro Braga. Depois de muito tiroteio e prisões de oficiais legalistas, os comunistas, ao amanhecer, dominaram o RI, inclusive com a prisão de seu Cmt, Cel Afonso Ferreira.

 

A reação legalista, comandada pelo General Eurico Gaspar Dutra, não tardou, tendo a tropa cercado o 3ºRI. Sob ataque de Infantaria e Artilharia, os amotinados não resistiram e renderam-se, por volta de 1300 h do dia 27Nov.

No Campo dos Afonsos, o ataque rebelde iniciou por volta de 0200 h do mesmo 27 Nov, liderado por dois capitães. Dois outros capitães, legalistas, foram assassinados enquanto dormiam. Um outro oficial foi morto após ter sido preso, já desarmado e incapaz de reagir. Os amotinados apossaram-se do armamento e munição e buscaram os hangares, para acionar os aviões, mas as baterias de obuses do Grupo Escola de Artilharia impediram o acesso. No 1º Regimento de Aviação, vizinho à Escola, o Ten Cel Eduardo Gomes comandou a reação com êxito, até a chegada das forças legais. Muitos revoltosos fugiram e 254 foram presos.

 

Anos depois, os comunistas da Intentona de 1935 foram anistiados e perdoados pela Sociedade, mas realizaram, em 1964 e 68, novas tentativas.

O saldo da Intentona Comunista de 1935 foi de mais de 100 mortos, entre civis e militares, e 500 mutilados e feridos.

 

*Publicado originalmente em https://www.aobomcombate.org/