Sílvio Lopes, jornalista e economista
Na Paris do começo do século XIX, com sua população superando ligeiramente cem mil almas, assolava a sociedade o número de ladrões que surgiam e prosperavam. Criavam-se formas de golpes e mutretas que despertaram a atenção de Honoré de Balzac, aos 25 anos, jovem editor de si mesmo e voraz escritor.
A fim de contribuir com os desarmados parisienses para fazer frente ao flagelo da ladroagem, lançou, então, e com oportunismo, o " Código dos Homens Honestos", ou, como sugeriu de subtítulo – A arte de não se deixar enganar pelos larápios". Pouco adiantou. O próprio Balzac reconheceu sua derrota, a ponto de declarar, com certo espanto e surpresa, que "os ladrões representam a parte mais inteligente da sociedade".
Assim como para os conterrâneos de Balzac, para nós, brasileiros, esse tipo de manual não tem utilidade alguma. Da mesma forma como as leis são até desnecessárias para o ente ético, e mostram-se inúteis para o ente corrupto, o mesmo se dá com nosso povo – a ser comprovada a expressão numérica da recente eleição presidencial.
Tal qual os parisienses do alvorecer do século XIX, nem estamos aí para o culto a certas virtudes como, por exemplo, honestidade e o caráter de nossos ungidos. Afrontamos as melhores das virtudes que para homens honestos (eles ainda existem) são como o ouro de Ofir, e sequer nutrimos o menor constrangimento ao entregar as riquezas de nosso país – e o destino de nossa nação, de nossas vidas e de gerações de almas – ao mais inepto e corrupto ser produzido nestas terras desde a era cabralina.
Como alertava, lá atrás, não muito distante, Norberto Bobbio, ou decidimos pela própria vontade fazer desta uma grande nação, ou então, pela decisão do voto, vamos transformar o Brasil num triste, vasto e desprezível albergue. A decisão é estritamente nossa.
* O autor é jornalista, economista e, como ele mesmo diz, “patriota acima de tudo”.