Em poucos minutos, o pequeno vídeo me cobrou algumas lágrimas de pura emoção, acompanhadas daquele aperto no peito, comum a esses momentos em que, por sensíveis, nos tornamos mais humanos.
Na pequena comunidade italiana de Montese, província de Módena, algumas centenas de colegiais, professores, militares e veteranos de guerra se reuniram, em 2015, para rememorar a conquista da cidade pela Força Expedicionária Brasileira em abril de 1945. A Batalha de Montese, a mais significativa ação brasileira na guerra, marcara, para eles, o fim da dominação nazista. Por isso, o povo reverencia o feito e todos, crianças e adultos, cantam, em português, a Canção do Expedicionário (1).
Ah, leitor amigo! Será que algum colegial brasileiro de hoje conhece essa canção e sabe de cor sua letra? Ouviu algo sobre a FEB? Falaram-lhe das lições de bravura dos nossos homens nas escarpas geladas dos Apeninos? Também isso, ainda que de pura tristeza cívica, me traz lágrimas aos olhos.
As crianças de Montese, ao contrário, são educadas a extrair valor da história, mesmo quando ela é um legado de outros, como o dos soldados brasileiros resgatando-os dos nazistas. A lição do vídeo se expressa em gratidão.
Impossível não sentir um aperto no coração quando se constata que o desapreço de tantos brasileiros à identidade nacional é como algo difuso, disperso e gasoso que vai ganhando consistência, se tornando sólido e passa a pesar nas costas de todos nós. “Nós vamos destruir tudo que você ama”, diz um poema “progressista” que circula nas redes sociais. E é exatamente isso que vem sendo feito.
O Hino Nacional entrando em desuso, não estudado nem ensaiado, é apenas um sintoma dessa destruição cujo foco é o sumiço da identidade nacional no lixão dos desapreços e da ignorância aclamada como nova forma de saber. Não se surpreenda nem me tome por exagerado, leitor. Pergunto: não assistimos há poucos dias, a Mangueira arrebatar a avenida e abocanhar os prêmios dos especialistas locais e globais, transformando episódios da nossa história em uma espécie de assombração mal-humorada do Samba do Crioulo Doido do grande Stanislaw Ponte Preta? E aquilo foi para telas do mundo como espelho do que somos...
A pergunta que abre a Canção do Expedicionário é plena de sentido. Você sabe de onde eu venho? Quem for ensinado a se ver qual cabra vadia em terreno baldio (como diria Nelson Rodrigues) jamais respeitará a si mesmo. Que dizer do respeito aos outros? A canção que a população de Montese sabe de cor, depois de ouvi-la 70 anos passados, fala de um país amável e das saudades coletivas de nossos soldados. Para os italianos, porém, isso é história e exige respeito. Fala-lhes dos sacrifícios de seus avós e bisavós, fala de servidão e libertação. Enquanto isso, permitimos que se espezinhe nosso passado, que se corrompa nossa própria história para suscitar antagonismos, esquecidos de que corrupção da história corrupção é. Até chegarmos ao ponto de não sabermos de onde viemos e desconhecermos a pátria que temos.
(1) Assista o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=0z_gB-UUsi0
* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
CGavillon - 27/03/2019 00:04:16
Prezado Puggina Muito obrigado pelo teu texto. Primeiro porque eu achava que era o único velho chorão nesse mudo. Depois porque meu tio, Fausto Villanova, esteve na Itália como mecânico dos Pipers que compunham a ELO e nunca nos contou sobre o que aconteceu. No final de sua vida escreveu um livro muito leve com ótimas estórias. Por último, está mais do que na hora de reverter esse movimento cruel contra as Instituições Forças Armadas.João Lelis - 25/03/2019 12:06:59
Excelente artigo. Porém, os comentários sobre ele escancara a incoerência da população brasileira, que ao mesmo tempo que critica o comportamento de outros, dizem "ter vergonha do BRASIL" ou fazem comentários esdrúxulos do nosso maravilhoso país, que como diz a música de Jorge Benjor, é "abençoado por DEUS e bonito por natureza", evidenciando e a tolice de um povo leviano que sempre busca um meio de transferir responsabilidadesLucia Pizzini - 24/03/2019 22:55:11
Eu também me emocionei assistindo ao vídeo, amigo Percival, talvez por fazer parte de uma geração que sempre sentiu orgulho de ser brasileira, de honrar a pátria, de cantar todos os hinos e de respeitar nossos símbolos. Também sou descendente de italianos e ver as crianças cantando um hino tão belo me fez chorar. Queira Deus que as nossas crianças possam se orgulhar do seu país e sintam respeito das nossas tradições, dos nossos símbolos, dos nossos dirigentes e das nossas façanhas. Parabéns pelo belo texto e por divulgar o vídeo. Abraço.MarioW - 24/03/2019 14:15:39
Texto perfeito!!! Honra e glória aos nossos pracinhas, hoje e sempre!Dagoberto Lima Godoy - 24/03/2019 11:56:17
Querem cortar "as asas do meu ideal". Mas, enquanto houver "pracinhas" da têmpera de um Puggina para defender os valores da Pátria, "NÃO PASSARÃO"!JORGE TADEO HELENO - 24/03/2019 10:02:52
Os nossos esquecidos super heróis caboclos agradecem a homenagem.Orion - 24/03/2019 02:49:45
Agradeço a homenagem por meu pai. Por minha mãe que o reoducou na paz. Minha esposa e nossos filhos que entendem o quanto os pracinhas lutaram pelo mundo de hoje. Agradeço pelo que escreveu e a emoção que transmitiu. Obrigado, meu pai e todos os demais pracinhas, no céu!Teresa Camisão - 23/03/2019 22:08:45
Espetacular esse seu artigo! Ao mesmo tempo que nos emociona, sabendo que o tempo não apagou da memória dos nossos irmãos italianos, uma homenagem tão bonita, por outro lado sentimos vergonha do nosso Brasil. Infelizmente nossa juventude não valoriza nem a própria história, muito menos lembrará dos nossos heróis.Jose Sergio Menegaz - 23/03/2019 19:27:39
Crianças Italianas homenageando verdadeiros heróis, totalmente desconhecidos por crianças brasileiras, uma vez que acreditam que heróis são BBB's, Marighelas, Lamarcas e outros da mesma laia. Lamentável, para dizer o mínimo.Armando - 23/03/2019 18:46:25
Prezado Puggina. O seu texto é também uma bela homenagem à nossa FEB. Força Expedicionária Brasileira. Obrigado. Abraços.Elcio Disconzi - 23/03/2019 17:53:06
Como não se emocionar com isso. Os brasileiros foram ensinados nos últimos anos a terem vergonha de ser patriotas.José Nei de Lima - 23/03/2019 17:51:00
Como dizia Montesquieu a organização de uma nação começa pela educação e patriotismo só assim haverá uma grande virada na mente do povo, estudar Moral e Cívica, houve mudanças no ensino brasileiro quando retiraram Moral e Cívica, parabéns pela lembrança dos Pracinhas, ótimo final de semana, meu amigo que Deus vos abençoe e ilumine amém.Menelau Santos - 23/03/2019 13:04:04
Texto tocante. Maravilhoso Professor. Não sei onde ouvi isso, mas pior que um país sem futuro, é um país sem passado.josé Carlos Ferreira Trois - 23/03/2019 10:12:26
Quem não tem passado, perdeu a busula , o rumo. Não encontra o futuro. Parabéns Percival como sempre irretocável. Obrigado.Odonias Mendes - 23/03/2019 01:36:11
Muito emocionante! Estão tentando apagar a nossa história e tudo aquilo que amamos.Roberto - 22/03/2019 23:45:44
Gostaria de compartilhar com meus amigos. Porém, não tenho nem facebook, nem twitter.Ronaldo - 22/03/2019 15:47:11
Isso se chama gratidão...maravilhoso...deu um aperto no peito.