• Percival Puggina
  • 14/12/2022
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“Missão dada, missão cumprida”

 

Percival Puggina      

         Foi o único momento sincero da cerimônia de diplomação de Lula. Por isso, e só por isso, saiu num sussurro captado pelo microfone do ministro que presidiu a solenidade.

Tudo mais me pareceu teatral, falso, forçado, pomposo. Nem as lágrimas de Lula foram sinceras porque, para que o fossem, seria necessário que houvesse nele um farelo de consciência, aquilo que nos leva, à noite, com a cabeça no travesseiro, ao juízo íntimo de nossas ações.

Fui ao Google às 07h49min de hoje, 14 de dezembro e procurei pela frase que faz a perfeita resenha do evento associando-a a outras que a identificassem com a situação em que foi pronunciada: nome do autor, diplomação, TSE, etc. As várias referências que encontrei constam de matérias de mídia digital. Ao que tudo indica, nenhum veículo do nosso “jornalismo” de companheiros, identificado pelo ministro orador da sessão como “imprensa tradicional”, considerou relevante tornar a frase conhecida de seu público. O silêncio, a omissão, também podem ser insinceros e desonestos.

Toda menção à democracia poderia ser entendida, isto sim, como sarcasmo! No discurso de Alexandre de Moraes esse substantivo e seus derivados aparecem 25 vezes. Ou seja, uma a cada 51 palavras que proferiu se referia à democracia, um regime político que, desde 2019, se fez ausente do país.

Digo e provo. Procurei nos meus apontamentos e não achei o dia em que esse Congresso eleito em 2018 ouviu e atendeu à voz das ruas em qualquer assunto. Entre meus achados estava sim, a constância do escancarado antagonismo “contramajoritário” do STF aos conceitos e propostas vitoriosos nas urnas. Estavam as escabrosas motivações que levaram à omissão do Senado e à submissão do Congresso Nacional, tornando inefetiva a representação popular.

No discurso de Lula, repete-se a situação e a proporção. Uma a cada 51 palavras (coincidências, às vezes, valem por um manifesto!) reproduz o vocábulo mais desperdiçado da noite.

Vou deixar de lado a insinceridade das palavras tão gentis quanto insinceras eventualmente dirigidas à nação pela dupla de oradores. Nada há de fofo em Alexandre de Moraes, nem quando para de mostrar os dentes e destilar ódio e furor persecutório contra as redes sociais que gostaria de desbaratar a golpes de caneta porque dizem verdades que a mídia tradicional oculta. Como ocultou a frase que dá título a este artigo. 

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


Décio Antônio Damin -   19/12/2022 13:37:09

Me fez lembrar de uma afirmação parecida de um ex-ministro da saúde, aliás, de infausta lembrança: "Um manda e o outro obedece...!" Deus..., tenha piedade de nós!

CARLOS EDISON DOMINGUESS -   18/12/2022 16:57:09

PUGGINA. Constata-se, pela fotografia, que tem público para esta farsa. Carlos Edison Domingues

DONIZETE DUARTE DA SILVA -   15/12/2022 07:09:42

Maravilhoso Sr. Menelau. Parabéns!

Menelau Santos -   14/12/2022 16:18:53

Quando eu era criança lembro-me que na televisão tínhamos sempre vários vilões. Os vilões representavam logicamente o mal. E para cada vilão havia um herói que funcionava como uma espécie de antídoto. Para o Capitão Monastário tínhamos o Zorro, para o Tião Gavião tínhamos a Quadrilha de Morte, para o Pinguin e o Coringa tínhamos o Batman e o Robin. Tínhamos outros heróis sem vilões fixos: o Super homem, o Capitão América, O Poderoso Thor. Hoje em dia o Alexandre de Moraes se parece com aquele vilões que se juntaram a outros vilões muitos poderosos: STF, Pacheco, Lira, Bonner e parece que do lado dos Patriotas (os mocinhos) não tem ninguem. Clamam por seus heróis, Bolsonaro e as FAA, mas eles não aparecem. Como eu gostaria que tudo isso fosse um filme, igual na minha infância, e que o bem vencesse...

Menelau Santos -   14/12/2022 11:56:57

Se eu fosse um parlamentar entraria com um projeto de lei alterando o dia da mentira de 01/04 para 12/12.

Coe -   14/12/2022 11:49:56

Perfeito. Sempre verdadeiro. Compartilhando.

Moacir Daniel -   14/12/2022 11:47:54

Parabéns Puggina pelo excelente texto, retrata bem nossa indignação

André Moretto -   14/12/2022 10:27:43

Concordo plenamente com o Senhor. Lamento profundamente a situação a que chegamos. Nossos eleitos no congresso, com raras exceções, já não nos representam.