• Percival Puggina
  • 31/05/2020
  • Compartilhe:

“LIBERDADE, LIBERDADE, ABRE AS ASAS SOBRE NÓS”.

 

Para dar título a este artigo peço emprestado o nome e o belo estribilho do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense no carnaval de 1989. A música e a frase poética, buscada no Hino da Proclamação da República, compuseram-se com uma beleza irretocável e estão em perfeita sintonia com meu sentimento em relação ao que vejo acontecer em nosso país. É preciso dar asas e vida ao que se ganhou nas urnas de 2018.

 Não voltarei a apontar a responsabilidade que atribuo à quase toda a grande imprensa do país em relação à atual instabilidade política. Nossa mídia tradicional fez-se militante de uma causa – a desestabilização do governo – assumindo-a como seu dever perante a nação, permitindo que fluam acriticamente, como se fossem frutos naturais da democracia e do estado de Direito, as mais desviantes condutas do Congresso Nacional e do STF. Enquanto aquele chantageava o presidente, o Supremo cruzava uma linha amarela e fazia leis, cruzava outra, e pilotava o governo. As notícias a respeito eram redigidas sem expressar o mais tênue sinal de contrariedade ou reprovação. Os fatos correspondentes eram levados a débito do Poder Executivo e da pessoa do presidente.

No último dia 27, contudo, algo de imensa gravidade aconteceu. No berçário de um mal nascido inquérito sobre fake news e desfeitas ao STF, 29 cidadãos brasileiros foram objeto de uma ação de busca e apreensão da Polícia Federal, a mando do ministro Alexandre de Moraes, que vem atuando como xerife do Supremo.

Mais uma vez, os noticiários optaram por tratar do impacto no território do governo, deixando de lado a agressão à liberdade de opinião e expressão, até recentemente um suposto valor de quem preze as práticas inerentes à democracia. O silêncio da “grande imprensa” sobre essas ocorrências deixou claro que se dependermos dela para defesa de nossas liberdades, estamos fritos. A única liberdade de opinião pela qual se empenha é a própria. E, pelo jeito, detesta reparti-la com quem quer que seja. Como se sabe, isso é próprio dos totalitarismos, onde a liberdade tem um caráter oficialista, concedida por alvará a “ciudadanos confiables” como é dito em Cuba.

Um crime imperdoável foi cometido nos três ou quatro anos anteriores ao pleito de 2018. O crescimento explosivo das redes sociais abriu um espaço para opinião que se constituiu na mais espetacular demonstração de vida inteligente fora do lado esquerdo do leque ideológico. Conservadores pensam, descobriu-se. Liberais pensam, descobriu-se. Saídos dos subterrâneos do anonimato acadêmico, resgatadas suas obras das caixas de rejeitos das bibliotecas, dominaram o território. Ocorreu, então, uma explosão editorial semelhante à que conheci nos anos 60, quando a revista Civilização Brasileira e livros de autores da Escola de Frankfurt andavam embaixo do braço e mantinham grande intimidade com o sovaco de alguns colegas meus.

Na segunda década do século XXI, contar-se-á um dia, opinar sobre os fatos deixou de ser privilégio de poucos para se tornar direito de muitos. Firmou-se, assim, uma animosidade entre os livres-pensadores das redes sociais e os que, na mídia formal, exerciam com exclusividade o direito de formar a opinião alheia sobre tudo. Por isso, nossa liberdade está sendo jogada em dois tabuleiros. O oficial, onde a longa manus do Estado agindo através do STF e do Congresso se junta à “grande imprensa” e as redes sociais onde se dá o predomínio mobilizador de conservadores e liberais em sua afanosa busca pelas asas da liberdade.

_______________________________
* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


Carlos Edison Fernandes Domingues -   04/06/2020 12:29:52

PUGGINA Recém agora, dia 04, estou lendo este maravilhoso trabalho. Aos 83 anos, quando leio o que escreves , desperta-me o entusiasmo e a disposição de lutar. Parabéns, Carlos Edison Domingues

Lindoberto Ramos Lima -   03/06/2020 21:22:38

Na mesma linha do que eu penso, vou transcrever um trecho da entrevista dada a um veículo de comunicação, por parte do Gen. Carlos Alberto dos Santos Cruz, o qual foi obrigado a sair do governo por causa dos ora investigados: O sr. foi vítima do submundo das fake news. Agora, Congresso, via CPI, e STF, por um inquérito polêmico, buscam os responsáveis por esses esquemas. Como sr. vê as investigações? Espero que cheguem à autoria. Liberdade de expressão não é injúria, calúnia e difamação. Ninguém é livre para fazer isso. Os recursos da mídia social não eliminaram o Código Penal. Deve-se ter toda liberdade, assim como deve ser responsabilizado se infringir a lei, atacar a honra com notícias falsas. Linchamento virtual, assassinato de reputação e mentira não têm nada a ver com defesa da liberdade. Alguns falam que se trata de liberdade de expressão, que ela está sendo cerceada. Ninguém está cerceando nada disso. Tem de ser penalizado quem é criminoso. Entrevista do Gen. Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo do Presidente Jair Bolsonaro Não precisa dizer mais nada....

Décio Antônio Damin -   02/06/2020 18:21:49

Prezado Puggina, mesmo os grandes pensadores, como é o teu caso, tem seus dias menos inspirados. Não se pode confundir liberdade de expressão com autorização para publicar quaisquer sandices em redes sociais, mentiras deslavadas, agressões e etc. multiplicadas por robôs mantidos, às vezes, até com financiamentos provenientes de estatais. Há que haver responsabilidade...! Mas, aí,... já é pedir demais!!

Eduardo Dutra Aydos -   01/06/2020 17:12:03

Meu caro amigo Puggina, Está na hora de jogar a toalha no ringue e dar a mão e o braço a torcer à realidade material dos fatos. Liberdade para contaminar, liberdade para falsear a verdade dos fatos e manipular estatísticas, liberdade para invadir minha privacidade com perfis computadorizados, liberdade para plagiar sem referência à autoria, liberdade para disseminar política de ódio, reescrevendo pela direita o que o PT fazia pela esquerda, liberdade para cercear a livre informação que a grande mídia, a despeito do seu adquirido parttis pris, exercita sob o amparo da Constituição e sob as penas da lei que prescreve, inclusive , o direito de resposta contra informação falsa ou injuriosa. Que liberdade é esta, que proclama no vazio da sua contrapartida, que é a liberdade do outro, que não quer ser contaminado, falseado, desinformado e insultado? Com certeza não é a Liberdade, Liberdade... que, antes de virar estribilho de samba canção, foi título do Monólogo de Paulo Otran nos anos passados da ditadura militar. Com certeza não é a liberdade, pela qual, libertários de vária estirpe dedicaram suas vidas e suas obras, no enfrentamento do autoritarismo e do totalitarismo neste País. Com certeza não é a liberdade que meus colegas e mestres da ciência política e do direito público, cunharam na sua trajetória convergente aos prospectos do Liberal Conservadorismo.

FRANCISCO CLAUDIO BOTELHO -   01/06/2020 15:01:56

Não, Adão, não é isso. Basta ver que, mesmo antes das eleições, tentaram matar Bolsonaro.

João Carlos Biagini -   01/06/2020 13:35:23

Senhor Percival Puggina, o texto exprime tudo. Há ditaduras em todos os cantos do Brasil. Nas Universidades, nos repartições públicas e até nos condomínios. Há pessoas que se arvoram no direito de estabelecer a vontade e limitar o livre arbítrio das outras. Falam muito em Estado de Direito Democrático ( O ex-presidente Temer disse que há um pleonasmo na expressão, já que Estado de Direito já é democrático, pois cada um tem o limite de seus direitos no início dos direito dos outros), mas parece que é estado de direito só se meus interesses forem preservados e os dos outros prejudicados. Parece que a frase "Aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei" que dizem ser de Getúlio Vargas ou Maquiavel, parece que está em pleno vigor. Parabéns pela luta diária e árdua contra essa enxurrada de ilegalidades.

Dalton Catunda Rocha -   01/06/2020 12:31:18

Primeiro, eu peço que veja notícia verdadeira, sobre o fato da cloroquina ser um veneno, para quem tem coronavírus e suas proibição, em Portugal: https://www.dn.pt/pais/infarmed-suspende-tratamento-com-hidroxicloroquina-a-doentes-covid-12250257.html E por sinal, França e ItáIia também proibiram uso da hidroxicloroquina para tratar o coronavírus > https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/27/franca-proibe-uso-da-hidroxicloroquina-para-tratar-a-covid-19.ghtml ************ Bem, sobre este mesmo assunto, o que será que os telespectadores da Rede Record receberam de "informação", em suas casas? A falsa notícia de que, em Portugal seria uma "prova" da capacidade da hidroxicloroquina, em curar coronavírus. Para quem não sabe, a Rede Record pertence ao Bi$po Edir Macedo,que também é líder da IURD. Sendo um trecho de um telejornal da Rede Record, o vídeo a seguir, me dá nojo: https://www.youtube.com/watch?v=-fO3UyN15CY

Lindoberto Ramos Lima -   01/06/2020 12:16:42

Sou conservador e liberal, jamais votei na esquerda, vamos demorar muito tempo para nos recuperarmos do estrago e mesmo a destruição feita no nosso país, especialmente de 2002 para cá, porém não compartilho da sua opinião professor Puggina sobre a "agressão à liberdade de opinião e expressão".....Não posso concordar que ameaças, calúnias, difamações e muitos outros crimes cometidos, ou que possivelmente tenham sido cometidos, sejam confundidos com liberdade de opinião e expressão...Grupos organizados para praticarem crimes, sejam esses grupos de qualquer matiz ideológica devem ser combatidos, não me interessam se são de esquerda ou de direita, crime não tem ideologia.

Luiz R. Vilela -   01/06/2020 12:05:10

"liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós e que a voz da igualdade, seja sempre a nossa voz. É a igualdade que queremos, é que deixem os governantes eleitos por nós, governar. Passamos os treze anos petistas, respeitando a vontade popular. Governaram como bem entenderam, inclusive praticando excessos, que depois deram problemas. Quem apeou a Dilma do poder, foram eles mesmos, numa ruptura na coligação. Agora, não se conformam com o governo atual, usam de todos os expedientes para inviabilizar a administração atual, criando uma crise monstruosa, que ninguém sabe onde vai dar. O ministro Celso de Melo, agora numa declaração lamentável, faz uma analogia deplorável do governo Bolsonaro, com a ascensão do nazismo na Alemanha. Mostrou que já a muito, perdeu o equilíbrio e a neutralidade, e poderia já se declarar impedido de julgar qualquer processo que envolva o poder executivo. Mas o desserviço a nação brasileira, passa pela triste lei que aumentou a permanência destes ministros nomeados, a mais cinco anos no cargo, quando a "expulsória" era aos 70 anos, e foi alterada para 75 anos. Houve uma "inconstitucional" prorrogação de mandatos dos ministros do STF. Tudo isso fruto de um "casuísmo", que retirava da Dilma, o direito de indicar mais ministros para a suprema corte. E vejam o que resultou do fato. Penso que a única "penalidade" que se possa impor ao presidente da república, é o "impeachment", isso pelas vias naturais, com o pedido sendo aceito pela câmara dos deputados em votação com maioria absoluta, sendo posteriormente julgado pelo congresso nacional, presidido pelo presidente do STF e também com maioria absoluta. Se cassado o mandato do presidente, após o afastamento, ai sim, deverá responder todas as acusações que lhes forem feitas. No exercício do mandato, julgo inconstitucional e descabida qualquer investigação do presidente por qualquer membros de um dos três poderes. É interferência indevida de um poder sobre outro. Quem anda atualmente "exalando forte cheiro"de queimado, é o próprio pretório, que deveria ser excelso, mas demonstra ser parcial.

Menelau Santos -   01/06/2020 11:49:25

Por falar em música, Chico Buarque (o sambista) nos brinda com um belo refrão que, ao meu ver, se encaixa bem como recado para o Sr. Celso de Mello e Alexandre de Moraes: "apesar de você amanhã há de ser outro dia".

Daniel Augusto Becker -   01/06/2020 10:43:11

Magistral como sempre. Continue firme na trincheira dos valores e da liberdade, amigo Puggina. Grande abraço.

Sylvio -   01/06/2020 00:15:49

Excelente! Concordo integralmente.

adão Silva Oliveira -   31/05/2020 14:52:54

Ó mestre!!!] Desse jeito vamos nos equiparar aos petistas. Vivem culpando a polícia e o judiciário por ter apurado os malfeitos de sua cúpula. Quem sabe a gente faz um esforço fenomenal cerebral e reconhece que investimos nossas fichas num maluco, que só pensa em defender a SUA família, e vive dando munição para esta nada Santa Imprensa? A impressa sem todo este material fornecido por Olavistas desvairados não estaria deitando e rolando como ora está. É triste, mas fazer o que????