• Percival Puggina
  • 20/08/2016
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UTOPIA IGUALITÁRIA E ESPÍRITO OLÍMPICO

 

 Recebi há poucos dias pequeno texto em que o dono de possante motocicleta responde à exclamação feita por alguém: "Quantas pessoas poderiam ser alimentadas com o que foi gasto nessa máquina!". E o proprietário assim esclarece: "Olha, não saberia dizer-te quantas pessoas, mas foram muitas. Gente trabalhadora, que atua em vários níveis ao longo de uma cadeia produtiva e comercial que vai da mineração de cobre para os fios até a fabricação de caminhões para transportar tudo às concessionárias". Uma multidão, portanto. Apesar dessa evidência, prospera entre nós a ideia de que desigualdade expressa sempre algo ruim. No caso acima, por exemplo, presume-se que haverá mais bicicletas se menos motos puderem ser adquiridas.

 Estou a escrever sobre igualitarismo. Abordando o tema para diversos auditórios, encontro muita gente que se declara atraída pelo conceito de uma sociedade igualitária. Compraram de alguém a ideia de que os desníveis sociais são injustiças praticadas por quem tem contra quem não tem. No passo seguinte, olham para o Estado e pedem providências. Afinal, ele, o Estado, é o principal zelador do bem comum, certo? Cabe-lhe, então, fazer com que todos, no caso acima, tenham acesso ao mesmo tipo de bicicleta, tomando, para esse fim, algum dinheiro da óbvia fonte disponível: o dono da moto. A injustiça, porém, não é subproduto da prosperidade, mas produto de um Estado que toma para si 40% da renda nacional e serve, a quem mais precisa, a pior escola, o pior ensino, o pior sistema de saúde e saneamento, o mais degradante paternalismo e, claro, nenhuma oportunidade.

 Não se cobrem mais exemplos à História! Sociedades igualitárias são, sempre, construções de uma abonada elite totalitária e a experiência dos povos já fez o que pode para certificar quanto é ruinoso e funesto o igualitarismo. Mesmo assim, esse estrupício ideológico prosperou e causa severos danos ao desenvolvimento econômico e social, aos serviços públicos, ao sistema de ensino e à cultura nacional. Nem nosso desempenho esportivo escapa! Como poderia o Brasil se tornar potência esportiva se aqui se desestimula o mérito e a desigualdade é malvista, se o espírito competitivo é refugado e se a individualidade deve ser coibida? Pergunte a uma turma de alunos algo que há 60 anos teria resposta certa: quem é o mais rápido nas corridas, ou o que pula mais longe, ou o que salta maior altura? Fora raríssimas exceções, essas indagações não terão resposta porque a competição é desestimulada no espaço educacional! O mérito é objeto de indiferença, causa de desconforto. E a palavra meritocracia suscita extremado antagonismo.

 Todos os resultados incontornáveis dessa utopia se resumem em alguma forma de mediocridade. Quando o mérito, em vez de receber nota 10, ganha zero, expulso do espaço pedagógico, o teto bate em cinco e começa a cair. O aluno estudará "o suficiente para passar", assistirá o número exato de aulas que lhe permitam comparecer às provas, limitará seus esforços ao mínimo necessário, contido ao mínimo que lhe consiga transmitir o professor. Soou como algo conhecido? Será então o diploma e não o conhecimento, o emprego e não o empreendimento, o salário e não o trabalho, o consumo e não a poupança.

 São muitos os freios e entraves que constrangem nosso desempenho econômico e social, gerando situações que ferem a dignidade humana e, por isso, devem ser rejeitados e atacados. Mas nenhum supera em capacidade destrutiva o ato de assumir o igualitarismo como objetivo. Ele se associa, obviamente, a uma visão de sociedade espremida entre o marxismo-leninismo e seu genérico mais simpático, o socialismo, que vai para o mesmo lugar montado numa pombinha branca com uma rosa vermelha na mão esquerda.
 

(O artigo completo está disponível para assinantes em http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/colunistas/percival-puggina/noticia/2016/08/utopia-igualitaria-e-espirito-olimpico-7300032.html)


andrerio2004@globo.com -   23/08/2016 01:22:02

Tudo teve sua época, pode ou não ter sido bom. Mas e hoje, o que o pobre vai fazer, esperar que todos fiquem pobres e se igualem? Só o capitalismo salva quem quer trabalhar e dar duro.

Genaro Faria -   22/08/2016 21:08:41

Inconformados com a diversidade entre semelhantes - uma constante que não admite exceção na natureza, seja animal, vegetal e até mineral - tornam-se estatólatras nao por senso de justiça, mas como cura para seus ressentimentos contra aqueles que lhe causam inveja. Sofrem sem saber que a cura de sua morbidez está disponível na alma que se eleva se for receptiva aos ensinamentos e nos exemplos de Cristo. NÃO PODE ser discípulo do Senhor quem não entendeu esta mensagem divina do evangelho de João, João 12:1-8:? Veio, pois, Jesus seis dias antes da páscoa, a Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos. Deram-lhe ali uma ceia; Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair disse: Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres? Ora, ele disse isto, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, subtraía o que nela se lançava. Respondeu, pois Jesus: Deixa-a; para o dia da minha preparação para a sepultura o guardou; porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a mim nem sempre me tendes. Esse "cristão socialista" nada entende de economia; e menos ainda de cristianismo.

José Norberto Seabra Resende -   22/08/2016 17:20:57

São os melhores que puxam o carro (Luiz Felipe Pondé )Esse negócio de igualde é discurso de gente burra.

Rossini Leite de Oliveira -   22/08/2016 17:09:11

Sim, é verdade. Criei esse hábito, meio inconsciente, durante ensino fundamental e médio, de estudar pra passar. Só nos processos seletivos da vida descobri que fui enganado pelo MEC. Mas aí o estrago já era grande. Então a gente acha que um cursinho resolve a parada de passar no ENEM. Mas a finalidade de estudar para adquirir conhecimento se perde de vista. E a tendência é cursar a graduação, e a pós, e o resto, no mesmo pique: decorando pra passar. Talvez por isso muitos de meus amigos estudam meio que obrigados; como se tivessem tirando CNH. Valorizam mesmo o conhecimento prático que acumulam dos seus empregos. Cada vez mais, acho que eles tem razão. A educação nacional, como está, não pode ser levado a sério.

Percival Puggina -   21/08/2016 22:42:19

Seu texto faz afirmações equivocadas, Ismael. 1) Igualitarismo não é o cerne do Cristianismo. Afirmá-lo é desconhecer totalmente o assunto. O cerne do cristianismo é a Redenção da humanidade pela Encarnação, Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. E a essência da mensagem de Jesus é o amor a Deus sobre todas as coisas, ao que se acresce o amor ao próximo como a si mesmo. 2) O episódio narrado em Atos dos Apóstolos não constitui uma proposta de vida cristã e nem mesmo então foi isso. Tratou-se uma providência que, nos dias seguintes à Ressurreição, pareceu adequada para determinado grupo que, em Jerusalém e só ali, aguardava a volta imediata do Senhor. Quando esses bens se esgotaram sem que o Senhor retornasse, acabou a experiência e, no meio tempo, São Paulo em cartas a outras comunidades, pediu que socorressem os santos de Jerusalém. Como toda experiência desse tipo, durou tanto quanto os estoques. Toda tentativa da esquerda católica de ler nesse relato uma proposta cristã de organização comunista da economia é absolutamente fraudulenta. 3) Já na Igreja primitiva havia o Senhor, havia Pedro, havia os demais Apóstolos, havia os diáconos, os batizados, os catecúmenos e os não batizados, constituindo uma clara hierarquia e um rol de expressivas desigualdades. 4) Na organização da Igreja existe hierarquia, diversidade funcional, diferenças de tratamento de paramentos, de côngrua e por afora. Reconhecer que todos temos a mesma dignidade como imagem e semelhança de Deus não é exatamente o que se pretende designar por igualitarismo quando essa palavra é usada.

Edson Vargas de Oliveira -   21/08/2016 21:50:26

Cada um tem a sua opinião de acordo com o lado que está. Pessoas livre e sabias mostram a sua imparcialidade quando compreendem o que o outro pensa e o por quê pensa e, em cima disso, consolida sua opinião livre de estigmas e preconceitos. Pior é quando pessoas defendem ideias não por acreditar nelas mas, mais, porque recebem por isso, ai é feio. http://eusocialista.blogspot.com.br/2011/10/socialismo-igualitario-nao-existe-no.html

Ismael de Oliveira Façanha -   21/08/2016 02:14:08

O igualitarismo é o cerne do Cristianismo, igualitária era a igreja dos apóstolos em Jerusalém, onde todos tinham tudo em comum; igualitárias são as ordens monásticas. Sendo o igualitarismo uma utopia, então o Cristianismo é utópico?