• Percival Puggina
  • 01/08/2016
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UMA SOMBRA CRUZOU O OLHAR DA PROFESSORA

Enquanto seu interlocutor falava, ela o observava atentamente. Momentos antes o interrogara sobre se, sendo sociólogo, seria possível graduar-se sem conhecer as obras de Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim.

 Bem, o leitor deve estar se perguntando onde transcorria esse diálogo. Vamos a isso, então, antes de interpretarmos a sombra no olhar da professora. Era o programa Entre Aspas, transmitido pela Globo News na terça-feira 26 de julho. A jornalista Mônica Waldvogel convidara o sociólogo Thiago Cortes e a professora uspiana Lisete Arelaro para externarem opiniões a respeito do projeto Escola Sem Partido, concebido pelo movimento com o mesmo nome. O sociólogo falava pelo projeto e a professora em sentido contrário. O palpitante tema, como se sabe, mobiliza parcela da opinião pública nacional e se expressa assim: "Pode ou não a lei, deve ela ou não, impor limites à influência política, ideológica e partidária do professor da rede pública em sala de aula?". O movimento Escola Sem Partido e a Constituição Federal afirmam que sim. Os professores que estão industriosamente dedicados a essa tarefa sustentam que não.

 O debate sobre o tema tem servido para formar pilhas e pilhas de relatos sobre demasias praticadas em todos os níveis do nosso sistema de ensino público e privado. De modo monocromático, os abusos incluem material didático mistificador, aulas panfletárias e conteúdos apresentados com o intuito de ocultar o conhecimento. Como salientou Olavo de Carvalho em recente artigo, é um tipo de ensino que procura manter, do contraditório, distância equivalente à que separa o diabo da cruz. Não satisfeito com a tapeação, chega às ridicularias. Há professores que, no estilo cubano, iniciam as aulas com proclamações políticas. Outros se permitem suspender as atividades para conduzir alunos a manifestações promovidas pela esquerda. E creiam - há um vídeo no YouYube! -, certa professora faz a turma dançar cantando uma besteira na qual Karl Marx é apresentado como mix de funkeiro, Gabriel Pensador e Marilena Chauí. Há quem deixe a vergonha no cabide da sala de professores.

 A pedagoga da USP, porém, estava convencida de que a militância de seus colegas era o próprio pluralismo pedagógico e de que ensinar marxismo era a mais nobre e generosa tarefa a que um educador poderia se dedicar. Na sua perspectiva, por certo, os incontornáveis fracassos das experiências marxistas são consequências de um déficit de marxismo e se resolvem com mais Karl Marx.

 Voltemos à cena descrita no início deste artigo. A professora perguntara ao sociólogo sobre a importância dos três autores que mencionara. Ele a confirmou e explicou, com limpidez, que o problema não estava em apresentá-los, mas em sonegar aos alunos o conhecimento e a própria existência de expoentes do pensamento não marxista, como Edmund Burke, Roger Scruton, Michael Oakeshott e Russell Kirk. Foi aí que - zaz! A professora franziu o cenho, sua fisionomia sombreou e acenderam-me as dúvidas. Também dela haviam ocultado esses autores? Ou, ao contrário, estava ela confirmando a si mesma que tais nomes deveriam ser impronunciáveis em sala de aula? Ou ainda: como sair dessa?

 Com as indicações acima você localiza o vídeo da Globo News através do Google.
 

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


MILTON AURELIO VALLADA DA ROSA -   04/08/2016 00:54:53

Boa Noite! Só agora consegui ler seu comentário. Realmente assisti ao programa citado e fiquei estarrecido com o comportamento da professora. Ela em nenhum momento aceitou os argumentos do rapaz e, com ironias, rebatia a proposta da Escola sem partido. O que me entristece é que nossas crianças não estão sendo educadas e sim doutrinadas. Espero sinceramente que o projeto seja aprovado. Parabéns pelo artigo. Sou seu admirador, principalmente quando participa do programa do Diego Casagrande. Abraços!

ADEMIR BISOTTO -   03/08/2016 18:04:04

NÃO CONSIGO ENTENDER, POIS MEUS SÁBIOS PROFESSORES DO ENSINO PÚBLICO, NOS TEMPO DOS GENERAIS "FELIZ TEMPO, POR SINAL", NUNCA INCUTIRAM IDEOLOGIAS A NÓS ALUNOS E SIM NOS ENSINAVAM A SERMOS CIDADÃOS, HONESTOS, TRABALHADORES E INTELIGENTES. "NOS AJUDAVAM A PENSAR." HOJE, MUITOS ACHAM MODA, SEREM SOCIALISTAS, COMUNISTAS! EM 13 ANOS DE PT, NADA OBTIVERAM A SEU FAVOR, PELO CONTRÁRIO TEVE O MINISTRO "PEREMPETÓRIO" QUE COLOCOU UM PISO PARA MAGISTÉRIO E NO SEU ESTADO, QUANDO GOVERNADOR, NÃO PAGOU! ORA BOLAS! CHEGA DE BABOSEIRAS!

Alexandre -   03/08/2016 02:13:34

De plano a gente (conservadora ou liberal) tende a pensar no projeto como um detergente de décadas de lixo ideológico esquerdista propagado nas escolas. Mas, Professor, refletindo um pouco mais não sei se será bom negócio. Veja bem. Haverá dificuldade para fiscalizar a aplicação da lei na prática, pois via de regra alunos em geral ainda não têm o estofo contra-revolucionário necessário para delatar arroubos ideológicos. Também não se instituirá nenhum órgão fiscalizador/sancionador para tanto. Esperar isenção pegagógica de quem há anos dedica-se à lavagem cerebral para manter-se nos poderes acadêmico, cultural e estatal? Ainda, embora haja todo um conglomerado de excelentes obras de cunho conservador e liberal, diferentemente do marxismo e gramscismo-marxismo o conservadorismo e liberalismo ainda não foram exatamente sistematizados enquanto ideologias propriamente ditas, e muito menos exploradas as suas repercussões nas disciplinas científicas específicas como Economia, Direito e Política, bem observado por Roger Scruton no seu "O que é Conservadorismo" (É Realizações Ed.). Temo que o projeto sirva mesmo para enterrar de vez a penetração definitiva da Direita no ensino brasileiro, a exemplo da retirada do empresariado do jogo eleitoral pela vedação das doações de campanha, isolando sindicatos e ONGS no mapa da panfletagem. A esquerda brasileira está aí há anos tecendo estratégias muito bem elaboradas para vedar todos os canais de respiro do pensamento direitista. Talvez mais proveitoso seja mesmo buscar o governo provisório, o empresariado e as igrejas, explicando porquê não devem financiar a esquerda. Fundando escolas declaradas de Direita enquanto centros de excelência de ensino (a exemplo da Universidade Mises), para a formação de cidadãos e profissionais que ocuparão espaços públicos e privados. Devemos ser pragmáticos e perder um pouco, por hora, a crença na auto-evidência da lei, pois estamos lidando com foras-da-lei, sociopatas que chegaram ao poder nos últimos graus do processo de ocupação estratégica. Trata-se de um tabuleiro de jogadas sutis do adversário, ou ainda, todos nós, ainda imersos no déficit cognitivo provocado, devemos ponderar bem as ações para evitar enquadrar-mo-nos como idiotas úteis.

tyr -   02/08/2016 21:13:29

Ótimo! Eu vi o programa.

Genaro Faria -   02/08/2016 15:48:21

IMAGEM COMENTADA - O casal marqueteiro "deu o serviço". Significa que, quando setembro chegar, o governo paralelo do PT e companheirada deverá mudar-se do Alvorada para Curitiba, nova sede nacional do partido vermelho.

Dalton Catunda Rocha -   02/08/2016 14:47:59

O artigo até que está bom. No entanto, eu devo acrescentar mais alguma coisa. Mais que os professores são os livros didáticos, os maiores proselitistas do marxismo. Eu nasci em 1970. Quando estudante num dos mais caros colégios aqui do Ceará, ainda no final do Regime Militar, eu fui vítima não só de alguns professores marxistas, como também de livros marxistas, principalmente na área de história e geografia. Mais que gerar (verdadeiros) marxistas, o ensino gramscista de jovens gera futuros adultos incompetentes, preguiçosos e mesmo criminosos. A eterna pregação gramscista anula futuros empresários, que são a classe de pessoas de que o Brasil mais precisa.

Ricardo Moriya Soares -   02/08/2016 11:33:45

Mestre Puggina, ao meu entender estamos lidando com o cerne da questão... a alimentação do monstro. O monstro se alimenta basicamente de recursos públicos (claro, há também fontes privadas, porém incipientes) e da doutrinação massiva de nossos filhos - ele pode até hibernar e sobreviver sem os preciosos recursos públicos, até mesmo por longos períodos, entretanto se tirarmos o principal alimento, a força vital da besta comunista irá se esvair rapidamente. Por esta razão (unicamente por sobrevivência), os adoradores de Marx-Lenin-Gramsci estão terrivelmente desesperados, pois sabem que se não conseguirem barrar o Escola Sem Partido, num curto espaço de apenas uma geração, todo o projeto vermelho irá para o brejo - e de lá nunca mais sairá! Eles não se importam mais com Dilma, Lula, PT e cia, estão engajados no que chamam a luta de suas vidas, então farão das tripas coração para vetar o remédio que resolveria muitos de nossos problemas a médio prazo - inclusive problemas de ordem espiritual. Agora, mais do que nunca, o demônio se mostra sem disfarces nem subterfúgios.... e sua cor é VERMELHA!

Genaro Faria -   02/08/2016 00:50:43

A hegemonia é uma obsessão das ditaduras de inspiração marxista, seja as que tomaram a mão esquerda, seja as que foram pela contramão direita, todas elas tendo como fundamentos a escalada do crime, a perversão moral e o desprezo pela vida. Se Vladimir Lenin ensinava seus seguidores a mentir e fazer o que fingiam condenar em seus adversários - uma lição do famigerado Decálogo revolucionário que o PT e seus satélites seguem à risca - Adolf Hitler despreza os professores com a conclusão de que "um soldado vale muito mais para a nação" do que eles. A geração de pedagogos que têm como patrono o marxista Paulo Freire tem por objetivo formar militantes ("soldados") e acusa, falsamente, de fascistas os adversários dessa estupidez diabólica.

Ilse -   02/08/2016 00:01:48

E muito mal educada. Atropelava o raciocínio do rapaz, nao permitia que falasse. Impondo suas ideias no grito. Detestei o comportamento dela.

Sergio Barreto de Sousa -   01/08/2016 22:34:27

Assisti ao programa "Entre Aspas" nesse dia, em que o sociólogo tranquilamente expôs a "formação" desses professores(as) e pedagogas que infestam o ensino público. Acredito que os autores não considerados expoentes do pensamento não marxista não são do interesse do pensamento marxista. Do mesmo modo, creio que tais nomes são impronunciáveis em sala de aula, assim como os ensinamentos dos Grandes Instrutores da Humanidade. O problema maior é que na medida que as sociedades ao se tornarem mais complexas, os sistemas de crença e certas ideologias se misturaram e passaram a ser usadas, cada vez mais, como ferramenta política, incluindo nisso o ensino. À medida que o mundo passa a ser cada vez mais "racional", materialista e ímpio, o resultado é a anormalidade vista como "normalidade" , a inconsciência em meio a falta de espiritualidade que levará a sociedade ao caos se nada for feito em sentido contrário.

Cesar Romulo -   01/08/2016 22:12:21

Eu o estava assistindo. Na hora, pensei com meus botões: essa professora nunca ouviu falar deles... Tristeza!