• Percival Puggina
  • 01/09/2014
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UMA SERINGUEIRA EM ÁREA DE LAVOURA

 


 O eleitor comum é um sujeito com o coração no lugar do cérebro e o cérebro dividido entre a geladeira e o contracheque. Foi assim que elegeu Lula duas vezes e colocou uma tartaruga no poste em 2010.

No entanto, tem razão Bob Marley: "You may not be her first, her last, or her only. She loved before, she may love again". Ocorre o mesmo com o amor de eleitor. E o coração do eleitor brasileiro pulsou fortemente quando a queda de um avião sem dono, sem caixa-preta e sem motivo para cair, entregou uma candidatura presidencial à acreana Marina Silva. A esguia senhora, que parece saída de uma foto de Sebastião Salgado, entrou em espiral ascendente. O coração do eleitor faz coisas assim. E depois? Ora, quanto ao depois, especulemos.

A coligação agora formada em torno de Marina Silva envolve os seguintes partidos: PSB, PPS, PRP, PHS, PPL e PSL. Os três últimos não têm um único deputado federal ou senador. São legendas e quase nada mais. Os três primeiros, têm, respectivamente, 24, 6, e 2 deputados, correspondendo a apenas 6% do plenário da Câmara dos Deputados. O PSB tem 4 senadores. Mesmo supondo que a condição privilegiada da candidata socialista no momento do pleito de 5 de outubro conceda um upgrade às suas nominatas de candidatos proporcionais, é muito improvável que tenha peso significativo no Congresso a base parlamentar natural de um eventual governo do PSB. Será mesmo do PSB ou será da Rede? Marina estaria como uma seringueira solitária em área de lavoura. Onde iria buscar os outros 250 deputados e os 50 senadores que lhe faltarão para compor maioria? Como aprovaria ela as medidas que serão necessárias na crise que já se instalou no país e que se agravará no ano que vem?

Marina fala numa tal Nova Política, que incluiria o fim do instituto da reeleição e o emprego de mobilização popular para exercer pressão sobre o Congresso Nacional onde ela, como se depreende do exposto acima, teria sólida minoria. Marina contaria, então, com o apoio do povo. Por quanto tempo, Bob Marley? Até o primeiro arrufo entre namorados?

Se ela tiver fé religiosa no elevado espírito público dos senhores congressistas, um eventual governo seu terá curto prazo de validade, como demonstra a experiência histórica. No entanto, ela já deve ter consciência disso, e a questão se resume em saber quem correria primeiro - se ela para o PMDB ou o PMDB para ela. Certo, porém, é que o PMDB e seus abnegados congressistas estariam no governo. E quem mais? Tudo indica que dona Marina não nutre qualquer simpatia pelo PSDB, o que levaria esse partido para mais um quadriênio de elegante retórica oposicionista. Tampouco parece razoável, no plano das suposições, que o PSB venha a formar governo com o PT no momento em que tiver na mão as ostras e o canivete para sucedê-lo como protagonista principal da cena política nacional. Quem resta, então, para servir de coadjutor a um projeto governista de dona Marina na legislatura de 2015 a 2019? Virtudes cívicas e força política não costumam piar juntas na atual ninhada de siglas partidárias do país.

Continuo convencido de que o movimento das peças no jogo do poder é para profissionais. Quando o eleitorado, como agora, começa a desenhar estratégias, votos mudam incontrolavelmente de lado. O PT acelerou o caminho para a recessão tentando fugir da recessão. E a crise em que lançou o país acelera esses movimentos espontâneos da opinião pública em busca de novos amores, "eternos enquanto duram".

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* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.
 


sanseverina -   03/09/2014 22:48:04

Prof. Puggina, grata pela publicação da minha “osmarinária”, que já tinha sido censurada por um blog que costumo frequentar, certamente pela crítica a Veja. Mas “estilhaços da explosão de Eduardo Campos” ficou pesado, embora refletisse a minha indignação e raiva pelo comportamento tão passivamente bovino do nosso povim (revisei o texto, adaptei-o ao post “Óculos de Farmácia” do Blog do Coronel que o publicou em 02/09). É inacreditável a ingenuidade com que as pessoas, mormente os eleitores, veem a candidatura da Marina da Selva como oposição ao PT. Ora, ser ou ter sido PT, ou marxista, é marca indelével de doença infecciosa como a varíola ou a hepatite, fica na pele ou no sangue para sempre, portanto ela é plano B do partido; poderá ter alguma divergência ou desavença com um ou outro dirigente poderoso, mas as coisas se arranjam, é o butim que conta. Por outro lado, os jovens contaminados pelo politicamente correto, que é outra vertente do esquerdismo (Gramsci), atribuem à candidatura sonhática o resgate da pobreza e da submissão do negro (mais racismo, impossível) representadas na figura frágil, carente e faminta, mas orgulhosa, que ela vende bem e ainda devido por todos nós: que culpa temos se nossos antepassados tiveram escravos? Mas um papa contemporâneo não pediu perdão pela Inquisição, outro pelos pedófilos do rebanho? Daí é só um clique e milhares de votos para ungir e consagrar – há muito de religiosidade fundamentalista nesta candidatura - mais um coitadinho, desta vez a self made poor woman, para a felicidade dos grandes empresários (os banqueiros mais uma vez), com ameaça “ecológica” ao agronegócio e o sacrifício continuado da classe média no sustento dos vagabundos governamentais. PS. Para AGB, 02/09/14: Não, não tenho. Je me cache bien ou presque...

Marco -   03/09/2014 02:28:49

Para todos os conservadores a vitória de Marina é uma oportunidade. E de todos os três candidatos, Aécio, Dilma e Marina, ela é a única que possui um discurso diferente, isto é, um discurso mais conservador. Aécio e Dilma representam o velho, Marina pode até defender as teses conservadoras da boca para fora, mas tem divulgado este discurso, e isso já é uma vitória. Se Aécio ganhasse ele repetiria o governo de FHC e se Dilma ganhasse repetiria a mesma bost... de sempre, o que para o país não seria vantajoso. A Marina é de esquerda, mas a sua vitória representa uma pedra nas pretensões de poder do PT e do Foro de São Paulo, só dela pretender em acabar com releição é uma vitória para o sistema democrático. Assim como a derrota nas eleições, se o decreto 8243 for revogado o PT perderá muito espaço político. A vitória de Marina dará tempo para que os conservadores se articulem, para que possam estudar o adversário, gerar idéias e divulgá-las, e daqui dez a vinte anos possa criar uma militância maior ou igual da esquerda, e assim possam lutar de igual para igual com a esquerda. Pelo menos esta é a minha esperança.

Ernani José Mottin -   02/09/2014 16:47:37

Concordo inteiramente com Ubiratan Collar... Há quem diga que Aécio é o homem certo na hora errada e Marina a mulher errada na hora certa! Nunca desprezemos a sabedoria popular... Só me resta a glória e o júbilo de ver a nação brasileira varrer de vez o PT e o projeto do bolivarianismo, seu complexo golpista. Queremos um projeto de poder que não seja, exclusivamente, encher os bolsos dos caciques partidários!!!

AGB -   02/09/2014 15:39:11

Você tem uma página eletrônica, Sanseverina? Pois sua lucidez deveria ser conhecida por todos.

Priscilla -   02/09/2014 15:23:21

são comentários como do sanseverina ,que fazem certos argumentos conservadores irem a lugar nenhum,misturar idéias com partidos e defesa com ataque

Gustavo de P. Corrêa -   02/09/2014 06:58:11

Boa noite, professor! Também cheguei a pensar na possibilidade da Marina, quando eleita, virar as costas ao PSB e seguir com a proposta do REDE. Mas levando em conta o seu passado sólido como PTista, duvido muito que ela já não esteja engajada na agenda Socialista. Apesar dela defender-e-não-defender-mais as pautas que pegam mal (como o Decreto 8.243, que ela defendeu no primeiro lance, mas voltou atrás no rebote) sabemos muito bem do seu raciocínio revolucionário. E, levando em conta o questionamento do prof. Olavo, faz sentido que ela siga com os compromissos que o PSB tem com seus companheiros do Foro de São Paulo. Creio que na possibilidade dela seguir o seu próprio rumo - com o REDE -, acredito termos ganhado tempo para colocarmos mais Conservadores nos cargos políticos; caso ela siga com a agenda PTista fica difícil até conjeturar.

Ubiratan Collar -   02/09/2014 00:02:09

Sempre admirei e concordei com Puggina, mas acredito que Marina poderá buscar apoio do Aécio no 2º turno, fazendo uma aliança contra o PT. Assim teria governabilidade, por isso nunca posto nada que a desfavoreça. Claro que prefiro o PSDB, mas não vou gastar pólvora em chimango morto. No momento o a prioridade no Brasil é destronar o PT. Depois...Um degrau da escada de cada vez. Abraço aos conservadores como eu ...

Ismael de Oliveira Façanha - OABRS Nº 16694 -   01/09/2014 22:39:54

A Marina escuta e obedece o Silas Malafaia, é uma cristã assemblear; ela é uma predestinada à varrer o petismo da governança; então para mim, pesando os custos e benefícios, ela é perfeitamente aceitável.

sanseverina -   01/09/2014 19:42:06

A santinha da floresta ou do pau oco Pela velocidade e amplitude do marketing gratuito do qual, até na imprensa tida como séria e independente (capa e conteúdo de Veja com fotoshop e simpatia), usufrui Marina da Selva, dá-se como inevitável no cenário nacional, senão desejável, o desfecho fatídico de mais um coitadinho na Presidência da República, outra etapa do carma expiatório de um Brasil culpado da própria ignorância. Iluminada pelos estilhaços da explosão de Eduardo Campos, Maria Osmarina que virou Marina, (mais eufônico e fashion no interesse de negar a odiada origem social), num ato de bravura indômita, superou a evidente saúde frágil, sufocou a profunda sensibilidade que alardeia e cavalgou, sem hesitação, o corcel da desgraça alheia. E do partido alheio, em mais um exemplo de oportunismo explícito. Cui prodest? A queda do Citation, investigada sob sigilo, foi chancelada como acidente (caixa preta que não grava é normal?!), mas teria sido conspiração de uma certa oligarquia internacional como querem uns ou, ainda, desígnio da Divina Providência como declarou a maior beneficiária do acidente? Deveríamos erguer estátuas aos sete sacrificados? Osmarina ou Marina é, no máximo, um Obama abaixo do equador, cujo lema eleitoreiro, em homenagem ao seu notório perfil autoritário, ela poderia mudar para YES, I CAN! E é, no mínimo, um Lula alfabetizado, ainda mais esperta que ele e, em alguma medida, um Collor agora caçando o agronegócio, protegendo bagres e pererecas. Sonhática, e com toda essa linguagem enigmática e pós-gongórica que ela imagina formar com a intelectualidade (?!), não seria ela, de fato, um ET extragaláctico além de lunática? Dúvidas pertinentes... Depois de doze anos tendo os cofres públicos assaltados em proveito do próprio PT, de seus aliados internos e dos bolivarianos de estimação, o país sobreviverá a mais um ataque de incompetência, agora programada por uma falange tão eclética que vai da Teologia da Libertação, passa por bispos e bispas evangélicos, por banqueiras socialites e acaba temperada por seus verdadeiros avatares Padim Ciço, Antonio Conselheiro e Beato Salu? Que crime hediondo praticou o povo brasileiro de minoria branca e maioria mestiça para ser submetido ao fundamentalismo ambiental, econômico e político de um Boko Haram com ISIS tupiniquim?