• Percival Puggina
  • 15/12/2017
  • Compartilhe:

UM SISTEMA PREVIDENCIÁRIO IMPERITO, IMPRUDENTE E NEGLIGENTE

 

 Sistemas públicos de aposentadoria frequentam o centro de colossais encrencas fiscais, políticas, econômicas e culturais porque propagam a ideia de que todos podem garantir seu futuro não à própria custa, mas à custa dos demais. Exceções à parte, a regra mais ampla deveria ser a da prudência pessoal, da previdência individual, da iniciativa privada, da difícil, mas imperiosa, poupança dos próprios meios.

Ao abraçar a função, o poder público sinaliza para a sociedade o comportamento inverso, ou seja, orienta para o desejo de contribuir na menor proporção possível, pelo menor tempo que der, obtendo o máximo resultado futuro. E o Estado, arrecadador das contribuições, sofre dois assédios principais. De um, cede (e no caso brasileiro cedeu mesmo) à tentação de usar para urgências de curto prazo os recursos originalmente poupados na implantação do sistema, deixando de formar o fundo que irrigaria a economia com investimentos produtivos e atenderia os benefícios a serem concedidos no futuro. De outro, cede (e no caso brasileiro cedeu mesmo) à tentação de conceder privilégios que realizam, para tantos, o sonho de contribuir menos, por tempo reduzido, e obter ali adiante, magicamente, o desproporcional benefício.

Há quem creia que uma situação assim possa ser mantida indefinidamente. Há entidades sindicais gastando dinheiro em anúncios publicitários para proclamar que o sistema é bom e o paraíso, aqui e agora, não se rende às trivialidades da aritmética. Há congressistas especializados no mercado das ilusões. Para estes, votar a favor de uma reforma da Previdência corresponderia a um recall de montadora de automóveis para trocar motor e chassis de todos os seus veículos. É a ruína. Há cidadãos, convencidos pelos fatos. Mesmo que não conheçam os números, têm uma ideia de proporção e de grandeza, aprenderam a tabuada do 10, e sabem que a conta não tem como fechar. Mas querem que tudo se resolva após estarem concretizadas suas próprias expectativas de direito. Há quem esteja se lixando para o país no pior sentido possível: o universo inteiro, com todas as suas galáxias, cabe no próprio umbigo. E que tudo mais vá para o inferno.

Para viver do dinheiro que entra, um sistema previdenciário precisa de economia aquecida e de larga proporção de jovens em relação aos idosos. E, mesmo assim, não convive com remunerações desproporcionais, como as que se registram no Congresso Nacional. Matéria da revista Exame do dia 2 de agosto passado informou que “enquanto a proporção entre contribuintes e beneficiários do INSS é de dois por um (apenas!), na Câmara e no Senado ocorre o contrário – há dois aposentados para cada servidor na ativa. Dos 987 analistas legislativos da ativa do Senado, 471 estão no nível máximo do cargo, com salário de R$ 26,8 mil. Na Câmara, 1.036 analistas em atividade (56%) estão no nível máximo”. Entre arrecadação previdenciária e pagamento de benefícios, as duas casas têm um déficit anual de R$ 2,4 bilhões, suportados pelos pagadores de impostos.

Perpetuar situações assim, com a extensão que tem em todos os poderes de Estado, é imprudência, imperícia e negligência, ou seja, todas as características de culpa criminosa.

 

_______________________________
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Afonso Pires Faria -   22/12/2017 00:37:45

Professor Puggina, com toda a minha ignorância no assunto eu seria capaz de fazer um discurso diametralmente o oposto do seu e angariaria 90% mais de aplausos do povo brasileiro. É por isto que se elegem tantos medíocres.

Rossini -   18/12/2017 14:35:28

Faço meu o comentário do DAGOBERTO LIMA GODOY. " Acertadíssimo, Percival. Argumentos irrespondíveis em favor de uma reforma profunda. Como fazê-la, sem um rompimento institucional e uma nova constituinte?". Não faz sentido os privilégios de boa parte dos funcionários públicos. Governo a governo, foi se construindo essa colcha de retalhos que é a Constituição Federal. Sempre em favor dos donos do poder.

Jose Helio de Souza -   18/12/2017 11:37:37

Cariossomo Professor, Seria necessário fazer as mesmas contas para os outros poderes, pois assim posto fica a verdade que realmente o problema previdenciário e somente por causa do privilégios no Legislativo e conhecido que os mais privilegiado é o Poder Judiciário e Ministério Publica. E mais ,em demonizar os Políticos(Que nos elegemos) estamos a fomentar a pauta do Poder Judiciário e Ministério Publica(que não elegemos) de serem os Santos que lutam para acabar com os Demônios(os políticos). Caro Joma Bastos. Sua conta esta totalmente e dos tais especialistas(Que em regra geral são do grupos dos privilegiados), Não esqueça o que se desconta tambem e para custear a Saúde, e você sabe a quantidade de categorias que não estão nas regras gerais ? , a quantidade de benefícios existentes que o beneficiário nada pagou ?. Procure saber e vera porque ela e deficitaria.

Rafael -   18/12/2017 11:10:15

Joma Bastos. Esse cálculo tem tantos erros que nem vale a pena comentá-los.

Antonio Augusto d´Avila -   17/12/2017 17:31:42

Joma Bastos apresentou cálculos, no entanto, não foi levada em consideração a inflação. Se descontada, o resultado final real ou a preços constantes cai à metade. Por outro lado, não foram consideradas, também, as pensões, além do custo administrativo da Previdência Pública que é altíssimo. Não foi levada em consideração, igualmente, o envelhecimento acelerado da população, nos últimos 30 anos a esperança de vida ao nascer aumentou 15% e nos próximos 30 vai aumentar bem mais. Por outro lado, a Previdência Social deve estar voltada EXCLUSIVAMENTE para os mais pobres. É um escândalo aposentadorias (no setor público) de mais de 30 mil mensais e quase 50% dos trabalhadores brasileiros (todos pobres) fora da Previdência.

Decio Antônio Damin -   17/12/2017 16:33:14

Hoje basta ser da dita"esquerda" para defender, demagogicamente , que não existe déficit na Previdência e que ela é superavitária bastando para tanto a cobrança dos grandes devedores! É uma falácia politiqueira e mal intencionada! Pretendem dizer que por ser "ilegítimo" o governo Temer não pode propor a reforma, que precisa ser "discutida" com a população."Defender a reforma tira votos" esta é a ideia dos que a ela se opõem pensando única e exclusivamente na própria reeleição! Já preparam, os canalhas, as mentiras e omissões que disseminarão na próxima campanha eleitoral. Temos de estar atentos, se a reforma for votada em fevereiro, para os que votarem contra pois, com certeza, estes são os verdadeiros inimigos do Brasil que só pensam nos seus próprios interesses!

Rubens Silvio de Almeida -   17/12/2017 14:47:54

Sem uma auditoria externa e independente nas contas da Previdência, cujos recursos têm sido, sistematicamente desviados, há que ser prudente ante essa reforma a toque de caixa. No seu segundo parágrafo, caro professor, o senhor admite que o governo cede no uso de recursos previdenciários para outros fins. No início da constituição do sistema previdenciário (os IAPs), a maioria esmagadora da população e de trabalhadores era constituída por jovens, cujo horizonte de aposentadoria era 35 anos. O que foi feito da massa enorme de recursos acumulados no período? Consta que foram usados para construir Brasília, Tucuruí, ponte Rio-Niterói e etc.), sem retornos. Outra coisa estranha é os recursos da Previdência compor o caixa único do governo, o que permite todo tipo de manipulação. O único argumento que não dá para rebater, na proposta de reforma, é o do envelhecimento da população. Mas sem aquela auditoria externa e independente na contas da Previdência, separando (bem separado!) o que São receitas e despesas da Previdência (contributiva) do que seja Assistência Social (a não contribuintes para o sistema) a desconfiança em relação à propalada reforma vai permanecer e aumentar. Infeliz o País cujos cidadãos não confiam em suas instituições!!

Joma Bastos -   17/12/2017 11:26:20

"A Desvinculação de Receitas da União (DRU) é um mecanismo que permite ao governo federal usar livremente 20% de todos os tributos federais vinculados por lei a fundos ou despesas. A principal fonte de recursos da DRU são as contribuições sociais, que respondem a cerca de 90% do montante desvinculado. Criada em 1994 com o nome de Fundo Social de Emergência (FSE), essa desvinculação foi instituída para estabilizar a economia logo após o Plano Real. No ano 2000, o nome foi trocado para Desvinculação de Receitas da União." Necessitamos de uma nova Constituição liberal e anti-comunista, de novos códigos e não de reformas. E isso só com uma Intervenção Institucional.

Joma Bastos -   17/12/2017 11:17:35

Vamos ver se a Previdência é realmente deficitária, vejamos: • Salário mensal = R$ 880,00; Contribuição INSS = R$ 176,00 (patronal e empregado). Aposentadoria Integral - 35 anos = 420 meses. Pegando a contribuição mensal de R$ 176,00 e aplicando-se o rendimento da poupança de 0,68%, totaliza R$ 422.784,02. Considerando-se a expectativa de vida em 75 anos, e que em média o brasileiro se aposenta com 60 anos, somente receberá a aposentadoria por 15 anos. Porém, o montante acumulado é suficiente para pagar 40 anos e 3 meses de salário equivalente à contribuição. Ou seja, segundo o cálculo feito – R$ 880,00 mensal, sem contar rendimentos. O trabalhador receberá de volta do governo R$ 158.400,00 no total. Ou seja, 37,5% daquilo que lhe foi tomado pelo governo. Resumindo: O trabalhador paga: R$ 422.784,02. O mesmo trabalhador recebe: R$ 158.400,00. Que negócio, não? Agora aumentando para 49 anos, o trabalhador acumulará R$ 1.365.846,02. E receberá menos, pois terá que contribuir por mais tempo , e terá menos tempo de gozo da aposentadoria. Esses cálculos foram feitos pelo cientista político Itamar Portiolli de Oliveira, são reais e facilmente constatado em uma planilha, Não são dados fictícios.

Alexandre -   17/12/2017 00:01:54

Vejo todo os dias, grandes especialistas das mais renomadas atividades falarem sobre a situação deficitária da previdência, porém me parece um discurso demagógico, pois não falam quanto e mau gerenciado os recursos da previdência, trata-se sim de imperícia, negligência e imprudência sim dos que fazem o governo, pois só basta por em prática o setor de fiscalização do órgão que hoje e inoperante e irresponsável, pois e inadmissível empresas, bancos e etcs, servidores de somas astronômicas ao erário do sistema previdenciário, e ficar por isso mesmo "devo não pago" aí vem estes chamados especialista dizer que a previdência está com déficit, gostaria que ao darem opinião sobre a previdência viesse com a informação correta e honesta sobre a real situação da previdência, por e conta simples de matemática demonstre o que se arrecada o sistema sem maquiar os resultados e vejam que os números são bem diferentes que estes chamados especialista de plantão pública todos os dias na mídia falada e escrita, fazendo deservico a população que fica sem a verdadeira e real situação da nossa previdência

Carlos Edison Fernandes Domingues -   16/12/2017 19:29:51

PUGGINA ! Se na casa dos que legislam há dois aposentados para um na ativa e o deficit alcança, no Congresso Nacional, 2,4 bilhões por ano só nos resta uma alternativa: usar a chibata em nossos representantes. Carlos Edison Domingues

Aero Willys -   16/12/2017 19:28:29

Todos querem o Paraíso, mas ninguém quer morrer... é hilariante.

Susana -   16/12/2017 15:06:20

Prof. Puggina, contribui por quase 35 anos para uma previdência privada a fim de garantir a minha aposentadoria. Os governos do PT meteram a mão nos recursos e os distribuiram aos seus cumpadres ( entre os quais Eike Batista e JBS) e hoje eu tenho redução de 10% nos meus vencimentos, a cada mês, para cobrir o rombo. Pagarei este valor nos próximos 17 anos. Com desonestos, nunca se está a salvo.

Apolinário -   16/12/2017 14:52:34

O governo simplesmente conta o milagre mais esconde o santo com esse argumento de reforma enxuta uma vergonha.Querem simplismente nos enganar.

DAGOBERTO LIMA GODOY -   16/12/2017 13:37:47

Acertadíssimo, Percival. Argumentos irrespondíveis em favor de uma reforma profunda. Como fazê-la, sem um rompimento institucional e uma nova constituinte?

Odilon Rocha -   16/12/2017 01:30:36

Caro Professor Exposição perfeita. Fatos são fatos e contra fatos não há argumentos. Ponto final.