Sistemas públicos de aposentadoria frequentam o centro de colossais encrencas fiscais, políticas, econômicas e culturais porque propagam a ideia de que todos podem garantir seu futuro não à própria custa, mas à custa dos demais. Exceções à parte, a regra mais ampla deveria ser a da prudência pessoal, da previdência individual, da iniciativa privada, da difícil, mas imperiosa, poupança dos próprios meios.
Ao abraçar a função, o poder público sinaliza para a sociedade o comportamento inverso, ou seja, orienta para o desejo de contribuir na menor proporção possível, pelo menor tempo que der, obtendo o máximo resultado futuro. E o Estado, arrecadador das contribuições, sofre dois assédios principais. De um, cede (e no caso brasileiro cedeu mesmo) à tentação de usar para urgências de curto prazo os recursos originalmente poupados na implantação do sistema, deixando de formar o fundo que irrigaria a economia com investimentos produtivos e atenderia os benefícios a serem concedidos no futuro. De outro, cede (e no caso brasileiro cedeu mesmo) à tentação de conceder privilégios que realizam, para tantos, o sonho de contribuir menos, por tempo reduzido, e obter ali adiante, magicamente, o desproporcional benefício.
Há quem creia que uma situação assim possa ser mantida indefinidamente. Há entidades sindicais gastando dinheiro em anúncios publicitários para proclamar que o sistema é bom e o paraíso, aqui e agora, não se rende às trivialidades da aritmética. Há congressistas especializados no mercado das ilusões. Para estes, votar a favor de uma reforma da Previdência corresponderia a um recall de montadora de automóveis para trocar motor e chassis de todos os seus veículos. É a ruína. Há cidadãos, convencidos pelos fatos. Mesmo que não conheçam os números, têm uma ideia de proporção e de grandeza, aprenderam a tabuada do 10, e sabem que a conta não tem como fechar. Mas querem que tudo se resolva após estarem concretizadas suas próprias expectativas de direito. Há quem esteja se lixando para o país no pior sentido possível: o universo inteiro, com todas as suas galáxias, cabe no próprio umbigo. E que tudo mais vá para o inferno.
Para viver do dinheiro que entra, um sistema previdenciário precisa de economia aquecida e de larga proporção de jovens em relação aos idosos. E, mesmo assim, não convive com remunerações desproporcionais, como as que se registram no Congresso Nacional. Matéria da revista Exame do dia 2 de agosto passado informou que “enquanto a proporção entre contribuintes e beneficiários do INSS é de dois por um (apenas!), na Câmara e no Senado ocorre o contrário – há dois aposentados para cada servidor na ativa. Dos 987 analistas legislativos da ativa do Senado, 471 estão no nível máximo do cargo, com salário de R$ 26,8 mil. Na Câmara, 1.036 analistas em atividade (56%) estão no nível máximo”. Entre arrecadação previdenciária e pagamento de benefícios, as duas casas têm um déficit anual de R$ 2,4 bilhões, suportados pelos pagadores de impostos.
Perpetuar situações assim, com a extensão que tem em todos os poderes de Estado, é imprudência, imperícia e negligência, ou seja, todas as características de culpa criminosa.
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
Afonso Pires Faria - 22/12/2017 00:37:45
Professor Puggina, com toda a minha ignorância no assunto eu seria capaz de fazer um discurso diametralmente o oposto do seu e angariaria 90% mais de aplausos do povo brasileiro. É por isto que se elegem tantos medíocres.Rossini - 18/12/2017 14:35:28
Faço meu o comentário do DAGOBERTO LIMA GODOY. " Acertadíssimo, Percival. Argumentos irrespondíveis em favor de uma reforma profunda. Como fazê-la, sem um rompimento institucional e uma nova constituinte?". Não faz sentido os privilégios de boa parte dos funcionários públicos. Governo a governo, foi se construindo essa colcha de retalhos que é a Constituição Federal. Sempre em favor dos donos do poder.Jose Helio de Souza - 18/12/2017 11:37:37
Cariossomo Professor, Seria necessário fazer as mesmas contas para os outros poderes, pois assim posto fica a verdade que realmente o problema previdenciário e somente por causa do privilégios no Legislativo e conhecido que os mais privilegiado é o Poder Judiciário e Ministério Publica. E mais ,em demonizar os Políticos(Que nos elegemos) estamos a fomentar a pauta do Poder Judiciário e Ministério Publica(que não elegemos) de serem os Santos que lutam para acabar com os Demônios(os políticos). Caro Joma Bastos. Sua conta esta totalmente e dos tais especialistas(Que em regra geral são do grupos dos privilegiados), Não esqueça o que se desconta tambem e para custear a Saúde, e você sabe a quantidade de categorias que não estão nas regras gerais ? , a quantidade de benefícios existentes que o beneficiário nada pagou ?. Procure saber e vera porque ela e deficitaria.Rafael - 18/12/2017 11:10:15
Joma Bastos. Esse cálculo tem tantos erros que nem vale a pena comentá-los.Antonio Augusto d´Avila - 17/12/2017 17:31:42
Joma Bastos apresentou cálculos, no entanto, não foi levada em consideração a inflação. Se descontada, o resultado final real ou a preços constantes cai à metade. Por outro lado, não foram consideradas, também, as pensões, além do custo administrativo da Previdência Pública que é altíssimo. Não foi levada em consideração, igualmente, o envelhecimento acelerado da população, nos últimos 30 anos a esperança de vida ao nascer aumentou 15% e nos próximos 30 vai aumentar bem mais. Por outro lado, a Previdência Social deve estar voltada EXCLUSIVAMENTE para os mais pobres. É um escândalo aposentadorias (no setor público) de mais de 30 mil mensais e quase 50% dos trabalhadores brasileiros (todos pobres) fora da Previdência.Decio Antônio Damin - 17/12/2017 16:33:14
Hoje basta ser da dita"esquerda" para defender, demagogicamente , que não existe déficit na Previdência e que ela é superavitária bastando para tanto a cobrança dos grandes devedores! É uma falácia politiqueira e mal intencionada! Pretendem dizer que por ser "ilegítimo" o governo Temer não pode propor a reforma, que precisa ser "discutida" com a população."Defender a reforma tira votos" esta é a ideia dos que a ela se opõem pensando única e exclusivamente na própria reeleição! Já preparam, os canalhas, as mentiras e omissões que disseminarão na próxima campanha eleitoral. Temos de estar atentos, se a reforma for votada em fevereiro, para os que votarem contra pois, com certeza, estes são os verdadeiros inimigos do Brasil que só pensam nos seus próprios interesses!Rubens Silvio de Almeida - 17/12/2017 14:47:54
Sem uma auditoria externa e independente nas contas da Previdência, cujos recursos têm sido, sistematicamente desviados, há que ser prudente ante essa reforma a toque de caixa. No seu segundo parágrafo, caro professor, o senhor admite que o governo cede no uso de recursos previdenciários para outros fins. No início da constituição do sistema previdenciário (os IAPs), a maioria esmagadora da população e de trabalhadores era constituída por jovens, cujo horizonte de aposentadoria era 35 anos. O que foi feito da massa enorme de recursos acumulados no período? Consta que foram usados para construir Brasília, Tucuruí, ponte Rio-Niterói e etc.), sem retornos. Outra coisa estranha é os recursos da Previdência compor o caixa único do governo, o que permite todo tipo de manipulação. O único argumento que não dá para rebater, na proposta de reforma, é o do envelhecimento da população. Mas sem aquela auditoria externa e independente na contas da Previdência, separando (bem separado!) o que São receitas e despesas da Previdência (contributiva) do que seja Assistência Social (a não contribuintes para o sistema) a desconfiança em relação à propalada reforma vai permanecer e aumentar. Infeliz o País cujos cidadãos não confiam em suas instituições!!Joma Bastos - 17/12/2017 11:26:20
"A Desvinculação de Receitas da União (DRU) é um mecanismo que permite ao governo federal usar livremente 20% de todos os tributos federais vinculados por lei a fundos ou despesas. A principal fonte de recursos da DRU são as contribuições sociais, que respondem a cerca de 90% do montante desvinculado. Criada em 1994 com o nome de Fundo Social de Emergência (FSE), essa desvinculação foi instituída para estabilizar a economia logo após o Plano Real. No ano 2000, o nome foi trocado para Desvinculação de Receitas da União." Necessitamos de uma nova Constituição liberal e anti-comunista, de novos códigos e não de reformas. E isso só com uma Intervenção Institucional.Joma Bastos - 17/12/2017 11:17:35
Vamos ver se a Previdência é realmente deficitária, vejamos: • Salário mensal = R$ 880,00; Contribuição INSS = R$ 176,00 (patronal e empregado). Aposentadoria Integral - 35 anos = 420 meses. Pegando a contribuição mensal de R$ 176,00 e aplicando-se o rendimento da poupança de 0,68%, totaliza R$ 422.784,02. Considerando-se a expectativa de vida em 75 anos, e que em média o brasileiro se aposenta com 60 anos, somente receberá a aposentadoria por 15 anos. Porém, o montante acumulado é suficiente para pagar 40 anos e 3 meses de salário equivalente à contribuição. Ou seja, segundo o cálculo feito – R$ 880,00 mensal, sem contar rendimentos. O trabalhador receberá de volta do governo R$ 158.400,00 no total. Ou seja, 37,5% daquilo que lhe foi tomado pelo governo. Resumindo: O trabalhador paga: R$ 422.784,02. O mesmo trabalhador recebe: R$ 158.400,00. Que negócio, não? Agora aumentando para 49 anos, o trabalhador acumulará R$ 1.365.846,02. E receberá menos, pois terá que contribuir por mais tempo , e terá menos tempo de gozo da aposentadoria. Esses cálculos foram feitos pelo cientista político Itamar Portiolli de Oliveira, são reais e facilmente constatado em uma planilha, Não são dados fictícios.Alexandre - 17/12/2017 00:01:54
Vejo todo os dias, grandes especialistas das mais renomadas atividades falarem sobre a situação deficitária da previdência, porém me parece um discurso demagógico, pois não falam quanto e mau gerenciado os recursos da previdência, trata-se sim de imperícia, negligência e imprudência sim dos que fazem o governo, pois só basta por em prática o setor de fiscalização do órgão que hoje e inoperante e irresponsável, pois e inadmissível empresas, bancos e etcs, servidores de somas astronômicas ao erário do sistema previdenciário, e ficar por isso mesmo "devo não pago" aí vem estes chamados especialista dizer que a previdência está com déficit, gostaria que ao darem opinião sobre a previdência viesse com a informação correta e honesta sobre a real situação da previdência, por e conta simples de matemática demonstre o que se arrecada o sistema sem maquiar os resultados e vejam que os números são bem diferentes que estes chamados especialista de plantão pública todos os dias na mídia falada e escrita, fazendo deservico a população que fica sem a verdadeira e real situação da nossa previdênciaCarlos Edison Fernandes Domingues - 16/12/2017 19:29:51
PUGGINA ! Se na casa dos que legislam há dois aposentados para um na ativa e o deficit alcança, no Congresso Nacional, 2,4 bilhões por ano só nos resta uma alternativa: usar a chibata em nossos representantes. Carlos Edison DominguesAero Willys - 16/12/2017 19:28:29
Todos querem o Paraíso, mas ninguém quer morrer... é hilariante.Susana - 16/12/2017 15:06:20
Prof. Puggina, contribui por quase 35 anos para uma previdência privada a fim de garantir a minha aposentadoria. Os governos do PT meteram a mão nos recursos e os distribuiram aos seus cumpadres ( entre os quais Eike Batista e JBS) e hoje eu tenho redução de 10% nos meus vencimentos, a cada mês, para cobrir o rombo. Pagarei este valor nos próximos 17 anos. Com desonestos, nunca se está a salvo.Apolinário - 16/12/2017 14:52:34
O governo simplesmente conta o milagre mais esconde o santo com esse argumento de reforma enxuta uma vergonha.Querem simplismente nos enganar.DAGOBERTO LIMA GODOY - 16/12/2017 13:37:47
Acertadíssimo, Percival. Argumentos irrespondíveis em favor de uma reforma profunda. Como fazê-la, sem um rompimento institucional e uma nova constituinte?Odilon Rocha - 16/12/2017 01:30:36
Caro Professor Exposição perfeita. Fatos são fatos e contra fatos não há argumentos. Ponto final.