• Percival Puggina
  • 29/09/2015
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UM SILÊNCIO CONSTRANGEDOR

 Martha Beatriz Roque é uma estimada amiga, católica, economista, com quem tive oportunidade de conversar nas vezes que fui a Havana. Ela estava entre os 75 presos de consciência condenados durante a Primavera Negra de 2003. Às vésperas de completar 60 anos de idade, Martha foi sentenciada à internação por duas décadas nas masmorras de Fidel. Um ano mais tarde, as precárias condições do cubículo onde ficava agravaram seu estado de saúde e ela foi libertada. Quando a reencontrei, em outubro de 2012, ouvi dela que, por vezes, não sabia o que era pior, se estar presa, ou livre no grande presídio da ilha, onde recebia maus tratos de vizinhos permanentemente empenhados em agredi-la para agradar o regime. É a função das Brigadas de Resposta Rápida (BPRs), formada por civis que se prestam à vilania de acossar e intimidar dissidentes.

 Às vésperas da chegada do Papa, Martha realizou dezenas de postagens em sua conta no Twitter informando, nominalmente, sobre pessoas que estavam sendo, no interior do país, advertidas para não se dirigirem a Havana. Depois, postou sobre pessoas que haviam sido presas e sobre outras, cujas casas estavam sitiadas “pela turba”. Em uma dessas notas, ela conta ter sido visitada pelo secretário do núncio apostólico que a convidou para ir à nunciatura falar com o Papa. Por fim, no dia 20, ela e mais duas dezenas de damas de branco foram detidas e impedidas de comparecer à missa papal. Os acontecimentos que narrou, as prisões de dissidentes, bem como a exigência de que os católicos se reunissem em grupos para serem acompanhados por agentes de segurança ao local da missa, foram noticiados por outras fontes.

 Qualquer pessoa minimamente informada sobre a realidade cubana poderia antever tais acontecimentos. O regime, por ser como é – violento, intransigente e opressivo – pode fazer ligeiras concessões para se safar da falência. Mas nada cede nas condições indispensáveis à sua sobrevivência. Por isso, o Papa devia estar bem advertido sobre a “conveniência” de não tocar em assuntos da política interna.

Não se diga que manter distância desses temas fosse indispensável cortesia. O Papa não é apenas chefe de Estado. É, principalmente, o líder espiritual dos católicos que naquele momento estavam sendo perseguidos, presos e vigiados. Impunha-se ir além das esplêndidas exortações pastorais. Permanece bem presente na memória da Igreja cubana o martírio de tantos jovens que, nos primeiros anos da Revolução, foram vítimas da faxina espiritual e morreram fuzilados clamando: “Abaixo o comunismo! Viva Cristo Rei!”. Mereciam mais.


ZERO HORA, 27 de setembro de 2015
 


RICARDO MORIYA SOARES -   28/09/2015 11:03:15

Caro Puggina, falando um português bem claro: o Papa é a Teologia da Libertação, e a Teologia da Libertação é Jorge Mario Bergoglio! Tenho um amigo que é católico devoto, e como todo brasileiro de bem, abomina o Foro de São Paulo. Na última sexta lhe disse o que achava do Papa Francisco, e dos claros sinais (um tanto perturbadores) que o mesmo deixava onde quer que fosse; ele (meu amigo) não perdeu tempo e retrucou dizendo que o pontífice era um sujeito de bem e ponto - mas mesmo assim ainda sentia alguma estranheza em seu comportamento. Acho natural que ao sermos golpeados de forma tão brusca e inadvertidamente, não consigamos assimilar bem o golpe. Me parece ser este o diagnóstico mais preciso acerca da angústia sentida por ele (meu amigo), pois sua cabeça parece ainda confusa em processar corretamente os fatos ocorridos desde o último conclave. Ao meu entender, finalmente os comunistas infiltrados conseguiram manobrar internamente ao garantir a eleição do atual Papa - e mesmo em 2005, já haviam quase chegado lá, mas foram derrotados depois de alguns rounds. Uma pena! Hoje, posso afirmar que é dever de todo católico consciente questionar comportamentos indignos e tendenciosos do Supremo Pontífice - se os Medicis elegeram papas no passado, por que não contestar o atual papado?

Sérgio Alcântara, Canguçu RS -   27/09/2015 21:55:22

Causou-me mais estranheza ainda o fato de nosso Sumo-Pontífice, tão logo chegando aos Estados Unidos, ter ido direto ao ponto do qual, enquanto esteve na ilha, nem perto chegou: Pediu a abolição da pena de morte.