• Percival Puggina
  • 16/05/2020
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UM REINO DIVIDIDO CONTRA SI MESMO

 

 A sociedade brasileira conviveu, por várias décadas, com uma letargia que permitiu serem dizimadas suas convicções, sua cultura, seus valores. Sob pressão do politicamente correto, por falta de qualquer contraditório minimamente eficiente, permitiu que se instalassem os divisionismos sobre os quais muito se tem escrito. Em nome da diversidade, ressaltaram-se as diferenças e se instalaram antagonismos onde diferenças houvesse: relações familiares, etárias, laborais, sociais, de cor da pele, de sexo, sempre criando muralhas intransponíveis, conflitos e uma diversidade bizarra. Das entranhas da estupidez humana surgiam, então, as modernas formas da luta de classes numa sociedade que consentia em dividir-se e em dar curso a esse fenômeno.

 Ao longo dos anos, observando o unilateral uso político dessa patifaria sociológica se converter em pautas dos poderes de Estado, cuidei de denunciar a causa e sublinhar seus efeitos.

 Aquela maioria dormente rugiu seu despertar nas ruas e no subterrâneo das redes em que os “coxinhas” clamavam contra os males feitos ao país. A hegemonia estabelecida nesses dois espaços de expressão suscitou muita malquerença. Era inaceitável que surgisse “do nada” uma força política vitoriosa exatamente nos dois nichos de opinião – habitados por conservadores e liberais – sempre inoperantes, passivos, letárgicos. Os dois adjetivos ocupavam lugar de destaque nos xingamentos da esquerda. Como entender que saíssem do armário em que eram contidos para, no momento seguinte, se tornarem vitoriosos nas urnas? Você tem ideia, leitor, de quanto poder ali foi perdido?

 Infelizmente, o sucesso eleitoral esbarrou com a resistência dos outros poderes. E surgiu no Brasil uma nova divisão, um novo antagonismo, muito mais severo. Verdadeiro seccionamento da sociedade. De um lado o governo e seus eleitores cientes do risco de uma derrota no curso do mandato; de outro o Congresso e o STF, e a militância da esquerda, na mídia, na Universidade, no ambiente cultural. Para criar novas divisões, há eleitores do presidente que cobram dele que faça o que não deve e adversários que o acusam de já haver feito o que não deve. Há as provocações de Celso de Mello, as demandas ridículas de Lewandowsky, as intromissões de Alexandre de Moraes. Desaforos em cascata e a sociedade que se dane. Se o povo na rua ainda afasta os golpistas, a mídia militante se empenha em desdenhá-lo, descredenciá-lo. No reino dividido, tudo está politizado e, pior do que isso, judicializado: da hidroxicloroquina ao atestado médico, da indicação de um novo diretor-geral da PF às formas de isolamento.

Como não vir à mente as palavras de Jesus no evangelho de Mateus (12:25): “Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá.”

Está faltando juízo a muita gente que, graças à posição que ocupa, se lixa para o padecimento do Brasil real.

 

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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 


 


Joel Robinson -   19/05/2020 15:00:38

Concordo mas acrescento que um dos maiores culpados alem da mídia e determinados intelectuais ( e filósofos, se existem) de meia tigela o conformismo e o "quero quero" de um povo alienado pelo futebol, carnaval, cerveja e festança que não sabe fazer uma regra de três, mas é especialista em politica e agora em infectologia. Um povo que nem sabe que é o sindico do seu condomínio, nem se lembra quem votou para vereador ou deputado. nunca leu um artigo do Código Civil, ou do regulamento do condomínio. Você quer o que de pais que jogam os filhos na escola pra serem "educados" por uma malta de professores ideologistas e ainda pagam. Politica virou grenalismo levado ao extremo da ignorância e efeito boiada. Vida de gado e feliz...

Caliman - Sorocaba - Portugal -   19/05/2020 14:37:48

Sr. Puggina, bom dia, que Deus o abençoe. Parabens pelo artigo, descrição fiel do Brasil hoje. Meu pitaco, 1 - constituição com poucas, claras e eficientes leis. 2 - começar a educação como a que tínhamos na decada de 70, ospb, musica, ingles, frances, desenho, etc. 3 - aguentar 20 anos para essa geração assumir. 4 - até la rezar, ou procurar um pais com mais solidez. E TENHO DITO. MUITA PAZ E SAUDE A FAMILIA

Pedro Ubiratan Machado de Campos -   19/05/2020 12:05:29

Como sempre, mestre Puggina nos agracia com um texto de luz em tempos trevosos. À citação de Mateus 12:25, acrescentaria o versículo 10:34: Não cuideis que vim trazer a paz à terra, não vim trazer a paz, mas a espada..." A inveja odienta da esquerda caviar que vicejou nos campi universitários, na mídia militante, nos antros do poder e nos negócios bafejados pelas benesses estatais, de repente, viu-se alienada do Brasil profundo, percebeu-se clamando no deserto, enquanto as multidões tomaram ruas e praças fustigando-as e, por fim, alijando-as do poder executivo e, agora, exigindo que se afastem dos demais onde, aboletadas por compadrios imorais, agarram-se como carrapatos pouco se importando que quase deixaram a nação exangue. A história da cristandade no mostra que a Divina Providência por vezes escolhe os mais humildes e insignificantes para derrotar soberbos poderosos. É o que vemos hoje no Brasil.

Luiz R. Vilela -   19/05/2020 11:56:30

O ex chanceler da Alemanha Helmuth Schmidt, costumava dizer que: " Um acordo com um tigre, poderá ser feito, se for aceito ser comido por ele", outro acordo ele não faz. Assim imaginar que o presidente da república Jair Bolsonaro possa resolver suas diferenças com seus opositores na base da "conversa", é pura ingenuidade. Hoje o antagonismo ao atual governo se dá em três frentes. O centrão e seus aproximadamente 300 deputados, a mídia ávida por verbas públicas e a esquerda sedenta do poder. Com o centrão só haverá acordo, com a entrega da chave do cofre, sem dinheiro, sem apoio. Com a mídia, também só com os "agrados" da farta publicidade governamental e com a esquerda, não há acordo possível, sem que seja entregue aos esquerdistas, o poder total. A esquerda não negocia, apenas exige alinhamento inconteste as suas teses. Então esta o Bolsonaro sem opção, não faz acordo e continua remando contra a maré, ou se deixa devorar pelo tigre. Quando pregaram Cristo na cruz, as opções eram as mesmas.

Donizetti Oliveira -   19/05/2020 11:32:54

Depois dos governos pós Regime Militar, todos ficamos sabendo exatamente o que significa o verbo "NEGOCIAR" nos meios políticos.

Karen -   19/05/2020 08:25:11

Muito bom ! Tempo de extrema apreensão e angústia. Coração sempre aos sobressaltos com relação aos rumos políticos e econômicos. Não há sossego . Difícil combater uma resistência tão sorrateira, inescrupulosa e de poder ilimitado ( Judiciário) .

vitorio perozzo -   18/05/2020 22:08:06

Faço minhas as palavras sobre o uso das máscaras.É um atentado contra a própria vida.Caminho todos os dias,procuro locais mais livres,mas não uso máscara,prefiro respirar o ar puro do que meu próprio veneno.GRATO

Vitorio Perozzo -   18/05/2020 22:02:10

Parabéns amigo,que DEUS continue te iluminando,um dia tua luz resplandecerá.DEUS nunca nos abandona e o BRASIL não será vencido pelos malfeitores. O PRESIDENTE será iluminado através das nossas orações e na hora "H"a justiça será feita. Como diz o ditado (ela tarda mas não falha) e a justiça de DEUS nunca falhou.UM GRANDE ABRAÇO

José Nei de Lima -   18/05/2020 20:13:41

Verdade meu amigo, temos que que ter muito cuidado com as palavras mal editadas, o país precisa voltar para o combate do que está acontecendo no mundo e principalmente no Brasil, vamos salvar a nação brasileira. Um grande abração meu amigo que Deus vos abençoe e proteja amém, uma ótima semana.

ROBERTO TADEU TESCK -   18/05/2020 19:12:36

Puggina. Gentileza pensar e pesquisar, sobre o ato de inspirar oxigênio, expirar CO2, como todo ser vivo, mais outras bactérias, células mortas etc. e voltar a inspirá-las, num circulo vicioso(uso contínuo de máscaras). Agradeço se divulgar.

paulo monteiro -   18/05/2020 18:23:52

Um texto maravilhoso...levando

Victor Hugo Carrão -   18/05/2020 16:53:12

Parabéns Puggina! Fecha em chave de ouro o seu artigo: "Como não vir à mente as palavras de Jesus no evangelho de Mateus (12:25): “Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá.” Está faltando juízo a muita gente que, graças à posição que ocupa, se lixa para o padecimento do Brasil real".

Geraldo de Andrade Junior -   18/05/2020 15:23:41

Também concordo com o Sr Maicon. Nosso dirigente máximo não tem demonstrado capacidade de agregação e de gestão de equipes e talentos.

Cairo CamargoBr -   18/05/2020 14:53:09

Brilhante como sempre, alma límpida e coração forte e puro. Parabéns meu amigo, escrevas ainda mais para esclarecimento do povo gaúcho e brasileiro.

EDISON BECKER FILHO -   18/05/2020 13:52:43

Ótimo texto e se enquadra naquilo que entendo. A dita ditadura foi tanta que permitiu que o que hoje presenciamos fosse efetivado. Então ela foi serviçal ou não existiu! Como bem dito pegaram por segmentos da sociedade e usaram o racismo, o social, o sexual, o religioso e temperaram cada um. Após juntaram tudo como se fosse uma receita e o resultado está aí. Lamentável que hoje estejamos divididos assim, muito mais preocupados em dividir do que conquistar. A quais interesses atendem uma sociedade que não evolui pela divisão imposta de forma tão gradual ao longo do último século e neste. Ainda mais agora neste período de pandemia, de oportunismo em demasia. Onde claramente a mídia tenta se assumir como poder, face a falta de cidadania que a muito apresentamos, na forma como pensamos, no somatório disto com sociedade. Continuarei convicto com meus valores e na esperança de uma nação unida e coesa buscando o bem de todos!

ROBERTO TADEU TESCK -   18/05/2020 13:49:50

Aos LIMAS(não parentes). "negociar" é só o que os adversários querem. Falta fiscalização do eleitor e divulgação clara, do Executivo, sobre os termos das "negociações" com congressistas. E, mais, Doa onde doer, soltar todas as informações e maracutaias sobre os Togados,

Menelau Santos -   18/05/2020 13:20:28

Parabens Professor Puggina pelo texto. A Bíblia é sempre uma fonte rica para explicar o que passamos. Ao Srs. Lindoberto e Maicon digo: concordaria com os senhores se estivéssemos numa dialética normal, onde as boas intenções repousam. Mas estamos numa guerra erística, onde o objetivo é a destruição do inimigo. Veja o caso de Minas Gerais, um estado que segue tranquilo, apesar de ter sido herdado numa terrível situação. Bolsonaro está fazendo a sua parte mas as outras partes não querem seu diálogo, querem sua aniquilação.

Jorge Luiz Schwerz -   18/05/2020 12:08:17

Parabéns pelo texto Puggina! O Povo alterou o equilíbrio de Poder que existia e, para não perder o que recuperou, o protagonismo, não pode de participar da política. Obrigado pela sua análise!

Lindoberto Ramos Lima -   18/05/2020 10:59:15

Concordo plenamente com o Sr. Maicon Lima e não temos parentesco, apesar do sobrenome.

Maicon Lima -   17/05/2020 17:43:28

Primeiramente, falta-nos liderança. O líder eleito não tem mostrado esta atitude. Se ele está em colisão com outros poderes, que articule, que negocie, que use o judiciário a seu favor, usando as próprias regras do jogo. Se os governadores não o obedecem, que dialogue, que mostre essas coisas maravilhosas que ele quer fazer pelo Brasil e busque consensos. Não vejo a defesa de um projeto liberal e conservador para o Brasil, ao invés, noto a tentativa de um construir um projeto de personificação populista. Onde estão os planos e projetos liberais de vulto para o país ? Colocar a culpa nas resistências não cola mais. Um bom líder saberia negociar e superar os obstáculos.

Luiz R. Vilela -   17/05/2020 13:01:54

A torre de Babel, aquela que a Bíblia diz que foi iniciada a construção, lá na antiga Babilônia, mas que Deus confundiu os idiomas falados por seus construtores e que terminou em confusão, talvez seja um parâmetro para o comparativo com o nosso pais. O Brasil. Vivemos num pais confuso, que por ser muito grande, junta sob a mesma bandeira seres completamente diferentes. Acredito que não exista algum pais no mundo que não tenha mandado para cá alguém. Temos pessoas de todos os tipos e de todas as origens, mais heterogêneo impossível, daí então iniciam os nossos problemas. Culturas bastante diferentes não se assimilam, geram é conflitos, e conflitos descambam justamente para o que ora percebemos, a falta de lógica para as tomadas de atitudes, todos querem que seus pontos de vista e principalmente interesses prevaleçam. O conflito nasce justamente da estupidez do fanatismo e principalmente do preconceito contra o "diferente". É o que acontece hoje no Brasil. O grupo que ora administra o pais, já na época da campanha, sofria a carga preconceituosa por ter sido tachado de direitista, como se não comungar dos ideais de esquerda fosse pecado mortal. O povo deu o poder a esta corrente ideológica, mas desde o primeiro dia de governo, o atual presidente foi impedido de governar, por um sistema criado pelos antigos governantes, que incluía a cooptação dos venais de todos os setores da atividade político e profissional, e de setores com influencia na formação de opiniões. Não deixaram o presidente governar, e achar que estão prestando um serviço ao pais, ao tentar destituir o Bolsonaro, estão é criando as condições para a instalação do caos total. Será que imaginam que o povo não reagirá a uma agressão dos interesses esquerdistas contra as pretensões de toda a população? Hoje mesmo existe matéria jornalista, fazendo referência a um certo "plano lula para a salvação do Brasil" que estaria sendo gestado pelo PT. Com toda essa desgraça que aflige o pais, e estes indivíduos ainda acham tempo para fazer brincadeira. Quebraram o pais, mas não querem que ninguém o tire do fundo do poço. A falta de patriotismo é total.

mario m -   17/05/2020 00:04:11

Perfeito, mestre: a realidade mais uma vez escancarada. Continuamos acreditando em dias um pouco melhores, nada obstante cientes das dificuldades em se construir algo de duradouro em nossa bela e doentia Banânia.