• Percival Puggina
  • 20/06/2021
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UM PERIGO RONDA O BRASIL

 

Percival Puggina

 

Há um humor paradoxal e trágico no fato de que a maior opressão incidente sobre a juventude brasileira provenha de um modo de ver a Educação que joga incenso e canoniza  em papers acadêmicos o autor da  Pedagogia do Oprimido. Em torno dele se desenvolveu uma fé religiosa que resiste a toda evidência em contrário, como se pudesse ser boa a árvore que dá tão maus frutos.

Não estou falando de futilidades, mas do dano que vem sendo causado a pelo menos duas gerações de brasileiros. Trato de algo que, presentemente e em números redondos, afeta 48 milhões de crianças e adolescentes brasileiros matriculados do ensino infantil ao médio. E, com talvez ainda maior intensidade, aos 9 milhões de estudantes matriculados no ensino superior. A principal riqueza potencial do Brasil – sua juventude – está submetida à influência de uma pedagogia marxista que começa com a dialética chã e elementar “oprimido x opressor” de Paulo Freire e ganha abrangência, entre outros, com Lukács, Foucault, Derrida, Laclau, Althusser. Enquanto o desastre ganha vulto, autores conservadores e liberais são velados em silêncio na voz de professores e cantos empoeirados das bibliotecas.

Referida ao sistema educacional brasileiro, qualidade deixa de ser um objetivo a alcançar para se converter num adjetivo despido de fundamento, para uso num ambiente cada vez mais fechado em si mesmo por mecanismo de autopreservação.

Resultado? Apenas duas das 198 universidades brasileiras estão entre as 300 melhores do mundo. Resultado? Segundo o último Pisa, as notas médias dos estudantes brasileiros, dentre os 80 países aferidos, conseguiram uma posição que fica entre 57º lugar em leitura e 74º em matemática. Nos países da OCDE, 15,7% dos alunos estão nos níveis máximos (5 e 6, em pelo menos uma disciplina), enquanto no Brasil, apenas 2,5% alcançam esse patamar.

Outro resultado alarmante chega-me num estudo elaborado pelo ManPower Group sobre o “Total WorkForce Index”, com dados sobre os recursos humanos para o trabalho em 76 mercados,  situa o Brasil em 61º lugar. Há sessenta, mais bem colocados! “A falta de habilidades técnicas é nosso grande desafio e o maior gargalo que existe no Brasil”, diz o presidente da organização em nosso país.

Sim, nós sabemos. Aliás, sabíamos. Melhor ainda, prevíamos. O marxismo e seus castelos de vento me levam à poesia quinhentista de Sá de Miranda (séc. XVI), quando deles conclui dizendo: “Quanto me prometestes; quanto me falecestes!”.

Este espectro ronda o Brasil. Compromete nossas perspectivas de desenvolvimento econômico e social. É uma Educação visceralmente avessa ao mercado e à preparação para o trabalho, com pés no chão e olhos postos num futuro que não seja o igualitarismo da miséria. É colheita segura do plantio marxista que se espalhou entre nós como praga de lavoura nos delicados e preciosos canteiros das salas de aula, estuantes de riqueza humana.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

           


Frederico Hagel -   24/06/2021 10:00:44

Porque alguns dados deste artigo não está sendo divulgado pelas propagandas do governo federal? O Puggina poderia tentar convencer o ministro da educação a fazer algo neste sentido.

Sebastião José da Silva -   21/06/2021 22:50:58

Perigo real e imediato, caríssimo Puggina. Eu, como pai de um adolescente e de um jovem universitário, fico sem saber o que fazer. Acho que no caso do Brasil a coisa é ainda mais grave porque nem o homeschooling é permitido. Às vezes, acho que o Brasil deveria acabar e começar do zero. Mas não podemos desistir. Afinal, é o futuro de nossos filhos e netos que está em jogo.

Adalgisa Cecilia Polari -   21/06/2021 19:26:33

E pensar que ainda em meus tempos do velho e extinto Grupo Escolar aprendíamos tanto nas poucas 3 horas de aula a que assistíamos! E ainda sobrava tempo para comemorações das datas pátrias, do Dia da Árvores, do Dia do Trabalho... O pátio do "recreio" com um tablado erguido em um dos lados, diretor, professoras, sempre um representante da Secretaria de Cultura, e todos os alunos do período sentados nos longos bancos de madeira, assistindo aos discursos (curtos, porque as crianças não tinham paciência e logo se agitavam) e à apresentação de alguns alunos. Como aprendera de minha mãe que devia participar dessas datas e me orgulhar delas em vez de ser mera espectadora, era sempre escolhida para declamar um poema referente à data. Mas isso ocorreu entre 1948 e 1951, quando eu era ainda pequena e amava a escola e admirava e respeitava minhas professoras!

Luiz Gonzaga Galvão -   21/06/2021 19:11:20

Convenhamos,se as pessoas de bem deste País,não se unirem para combater estes absurdos planejados por estes imbecis que querem destruir o nosso Brasil,nossos filhos,netos e bisnetos,infelizmente,não terão o amanhã e muito menos o depois... .Portanto,não podemos nos omitir.Amigos,Uni-vos!Porque os Imbecis já estão,como dizia o nosso Saudoso e Singular Humanista Charles Chaplin. Abraço fraterno a Todos.

Paulo Antônio Tïetê da Silva -   21/06/2021 17:49:11

Quando me deparo com este quadro, lembro-me da Professora Celsa Paz, do colégio Romaguera Corrêa, de Uruguaiana, cuja turma do primeiro ano, em outubro estava alfabetizada e fazendo ditados. Tudo auxiliado pelo tradicional e incomparável livro "Queres Ler?".

Enilda Ferreira -   21/06/2021 17:30:28

Por favor, coloca aberto o teu texto no Facebook? Muitas pessoas não têm paciência pra abrir e outras não sabem abrir,amigo.

João Luiz Sandri -   21/06/2021 13:21:27

"Sou um otimista! Tanto quanto possível... Me aproximo dos 70 anos de idade! Concordo com sua análise e tenho dificuldades (enormes) de vislumbrar melhoras a médio e longo prazos! Você não acha que um bom começo é o ensino em Colégios Militares?" Estou me aproximando dos 72, e como José Carlos Bombassaro, que copiei em haspas, penso demais nessa quantidade de jovens que vão dos 5 anos aos 25 anos, amordaçados da cultura que lhes é dada na atual conjuntura, com os índices de leitura e desenvoltura na matemática que não podemos nem citar para não sair envergonhado desse comentário; e então penso que somente com muita disciplina, que é o que falta aos nossos jovens, poderemos mudar esse quadro. E por isso penso igualmente, que esse nível de DISCIPLINA E RESPEITO AO PROFESSOR, só será possível com Colégios Militares. E já podemos ver alguns em funcionamento dando frutos!

Marilene Lima -   21/06/2021 11:07:35

Adão Silva Oliveira, impressionante sua capacidade de distorcer realidades. Chamar de ignorantes os eleitores que são justamente aqueles que se atentam para a tragédia da educação no Brasil. O presidente foi dos primeiros a criticar o método Paulo Freire. Vc exigindo transformação instantânea e de acréscimo, em plena pandemia, é de uma má intenção atroz .

ULRICH MIELENHAUSEN -   21/06/2021 10:32:22

Prezado Percival, corretíssimas suas conclusões sobre o péssimo nível de nosso ensino. Excelentes as mensagens de grandes pensadores e dirigentes de nações. Infelizmente a herança lusitana do deixar as coisas como estão, similar ao que acontece no Brasil, de tirar o corpo fora e deixar os "superiores" da política e da "justiça" decidirem, está demonstrando cada vez mais seus resultados perniciosos, neste caso sobre a educação e o futuro nosso. É incrível a ignorância e estupidez do nosso povo, em não enxergar o resultado do marxismo, ex. Cuba, Rússia, Coreia do Norte, etc. e acreditar que esta filosofia só traz desgraças para o povo, como bem lembram os pensadores citados

Adão Silva Oliveira -   21/06/2021 10:16:01

Tranquilo. Mas os tão decantados mais de 57 milhões de votos obtidos pelo atual mandatário do Pais não trazem nada calcado no seu bojo que possa alterar este estado de coisas??? Por certo que não se pode admitir essa triste premissa, sob pena de admitir-se que entre estes 57 milhões haja também um poço de ignorância. Resta então saber quem é este "Paulo Freire Conservador"..., que conseguiu esta proeza de espelhar pelo avesso este desastre.

Decio Broilo -   21/06/2021 09:32:38

Infelizmente, vamos necessitar de uma ou duas gerações para arrumar nossa educação. Está na hora de mudar antes que seja tarde.

Dagoberto Lima Godoy -   21/06/2021 09:30:35

Sim, mestre Percival, contra fatos, não há argumentos. Mas, há falácias, e o perigo se mantém.

JOSÉ CARLOS BOMBASSARO -   21/06/2021 09:06:53

Sou um otimista! Tanto quanto possível... Me aproximo dos 70 anos de idade! Concordo com sua análise e tenho dificuldades (enormes) de vislumbrar melhoras a médio e longo prazos! Você não acha que um bom começo é o ensino em Colégios Militares?

maria elisa araujo zanella -   21/06/2021 08:41:14

Novamente brilhante o seu Puggina. Lecionei por 30 anos e via ano a ano, mês a mês, dia a dia o desmanche da educação sem que nada se fizesse, começando por meus colegas cada vez mais desinteressados, preguiçosos e cheios de grau...dando uma figa pros alunos e sociedade.

Roberto neves -   21/06/2021 08:08:09

Mais um excelente artigo que analisa o desastroso modelo educacional adotado nos últimos anos que nos jogou na vanguarda do atraso.

felipe luiz ribeiro daiello -   21/06/2021 08:07:15

Hora da reação contra o atraso ideológico?

Maria Lúcia Milan -   21/06/2021 07:02:33

Descreveu o que acontece na Educação brasileira, a causa é os culpados. O PLANO COMUNISTA.

FERNANDO A O PRIETO -   21/06/2021 05:42:26

Pobre, pobre juventude! Esta geração nem sequer consegue ser humilde intelectualmente para ter noção do pouco que sabe, e dos conceitos errados que lhe foram "enfiados na cabeça"! As gerações anteriores omitiram-se na tarefa de ensinar (transmitir valores e conteúdos), ou não o conseguiram, e o resultado é isto - lavagem cerbral! Façamos o que pudermos para reverter este quadro, e que Deus nos ajude!

DONIZETE DUARTE DA SILVA -   20/06/2021 22:10:16

Nos anos 70, quando da Universalização do ensino, dizia-se no MEC que o Brasil não precisava de pensadores, bastavam operários. Deu-se assim o início da operarializacao do pensamento brasileiro. As provas deixaram de ser dissertativas, as coleções de livros foram substituídas por apostilas, os cursos técnicos foram sucateados, os cursos superiores técnica lizados, tudo porque desenvolveriamo-nos pela transferência de tecnologia. Costumo dizer que a indústria brasileira morreu quando o homem pisou na lua. Hoje aqui somente temos fábricas. As indústrias ou fecharam ou se foram. No momento em que a tecnologia dispensa o uso de fábricas ou as racionaliza, nossos jovens estão sendo proibidos até de resgatar o tempo perdido nas matérias básicas nos cursos de engenharia, coisa que desde 2019 é "proibido" pelo MEC que busca um engenheiro prático, de olho no passado e obediente às ordens. Assim não se questiona o passado para construir um novo futuro. Aos nossos filhos e netos restam apenas as piores ocupações quando as encontram. Nalguns casos a carência de mão de obra inflaciona o mercado que se obriga a contratar despreparados. O mercado é o cliente. Deus perdoa, o cliente nunca.