• Percival Puggina
  • 05/08/2021
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UM JORNALISMO QUE SE EXTRAVIOU

 

Percival Puggina

 

O sucesso das redes sociais e da mídia alternativa se deve, principalmente, ao fracasso ético dos grandes grupos de comunicação do país. Se lessem o que publicam, se assistissem aos próprios programas com olhos de ver e não com olhos de quem dispara contra um alvo, talvez conseguissem compreender o fenômeno a que dão causa.

Enterra a si mesmo em cova rasa, à vista de todos, um jornalismo que silencia perante prisão de jornalistas, constrangimento de veículos e  atos que reprimem a liberdade de opinião e expressão. Envolto em cortina de silêncio, tudo isso está acontecendo no país.

Nuvens escuras da incerteza cobrem os céus da pátria, grandes grupos de comunicação formam nosso mais ativo partido político e compõem bancada ao lado do STF. Menosprezam a liberdade de expressão de seus leitores, tanto quanto os ministros alardeiam como mérito sua permanente empreitada “contramajoritária”. Quem diverge é vilão e toda divergência é vilania.

Esgotam sobre os próprios leitores o vocabulário, os rótulos e os chavões que servem como carteira de identidade do grupo que foi varrido do poder em 2018.

Aliás, nada é tão parecido com um discurso da tropa de choque petista quanto o conteúdo de outrora expressivos meios de comunicação.

Eu me criei lendo jornais com enorme tiragem e elevada credibilidade, cujo conteúdo era enriquecido por opiniões competentes e textos de brilhantes escritores. Hoje, fico entre o riso e a tristeza ao perceber a unânime atenção, o apoio e a fidedignidade que lhes merecem atores bufos da cena política, como os senadores ficha-suja que encabeçam a CPI da Covid e ameaçadores ministros que nem mutuamente se respeitam.

Hoje, fico entre o riso e a tristeza, repito, ao ver como veículos outrora altivos e independentes cortejam o cesarismo togado da Suprema Corte. E nisso persistem, mesmo quando ela dilacera a Constituição, mesmo quando faz “justiça” com as próprias mãos e mesmo que suas convicções durem tanto quanto sirva às estratégias.

Veem as praças coloridas com as bandeiras da pátria comum, ocupadas pacificamente por famílias, idosos, pais, filhos, jovens. Ouvem-nos cantar hinos cívicos e rezar pelo bem do país.

Esse bom povo brasileiro está ali, com seus apelos e seus cartazes, porque ainda preserva a crença de que a democracia tem ouvidos para ouvir.

Esse povo sabe que as instituições são “da democracia”, a ela devem servir, mas não são, em si mesmas, “a democracia”.

Por sua militância porém, veículos que eram oráculos de nossos pais a tudo retratam com as cores da irracionalidade, do desprezo e do ódio. Dão mais guarida ao fascismo dos antifas do que à civilizada manifestação dos conservadores!

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 

 

 


Nilceia Batista -   07/08/2021 10:33:05

Disse tudo exatamente como eu gostaria de ter dito. Obrigada por expressar meu sentimento tão bem.

Eduardo -   06/08/2021 09:14:29

Essa imprensa tradicional terá o mesmo fim das revistas de pornografia. Ótimo quanto mais prejuízo para os socialistas melhor

Menelau Santos -   05/08/2021 21:01:23

Primoroso texto, Professor. "Entre o riso e a tristeza", perfeito. Rimos das matérias jornalísticas e nos entristecemos com o humor pobre dos nossos programas humorísticos. Tudo invertido. Mas o povo brasileiro continua guardião do velho e bom civismo.

Alda Maria Perini do Amaral -   05/08/2021 16:37:09

Lamentável, mais tão real. ?????????

Luiz R. Vilela -   05/08/2021 12:15:07

Pois é! Já houve um assessor de ex presidente americano, que pôs o dedo na ferida, com aquela história de que tudo, é a economia. A teta secou, a galera da tal "comunicação social" acusou o golpe, e dirigiu toda sua ira, para o inquilino do planalto que cortou as benesses. Passaram a viver no inferno, e como a bíblia prescreve, nos domínios de satã predomina o choro e ranger de dentes, igualzinho como temos visto na mídia nacional. Como o ex presidente e egresso do sistema carcerário, foi um pródigo distribuidor do leitinho da Barrósa da viúva, tornou-se o herói dos donos dos veículos de informação, então os penas e microfones alugados, não tiveram alternativa. Encampar a luta dos patrões, tornou-se obrigação. Muitos que esbravejam diariamente contra o Bolsonaro, não o fazem por convicção, mas com o receio do desemprego, até porque dizem que cautela e caldo de galinha, nunca fizeram mal a ninguém. Como dizia o velho Assis Chateaubriand, no jornalismo, quem quiser ter opinião tem que ser dono dum jornal, porque empregado deve lealdade apenas ao patrão.

Saulo Santos -   05/08/2021 09:44:08

Nós estamos entre o riso e o escárnio dessa corja togada e a militância "jornalística". Muito triste vermos a democracia ser tratada dessa forma por tanto lixo humano

Edimar segatto -   05/08/2021 09:29:18

Parabens Puggina. Esse foi o norte de uma fala mais contundente a respaito de quem nega os fatos.

Valeria Hennicka -   05/08/2021 09:28:27

Parabéns pelo texto. Reflete a realidade atual que muitos não percebem. Abraço!

Angela -   05/08/2021 09:28:12

Perfeito Percival!

Leudo Costa -   05/08/2021 09:18:48

Não são os veículos de comunicação que estão "embriagados"... Infelizmente a combinação "produto comercial" com "comprometimento ideologico das redações" fazem do jornalismo um "embuste e um campo minado" para o CONHECIMENTO.