• Percival Puggina
  • 28/12/2023
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Um ano envolto em fraldas

 

Percival Puggina 

       As antigas folhinhas de xaropes e pílulas costumavam vir ilustradas com a imagem de um ano ancião que saía, barbas brancas, encurvado sobre sua bengala e um ano novo que chegava enrolado em fraldas. Posta na parede, ali ficava como “marco temporal” de nossos planos de réveillon.

Contudo, o Sol e a Lua não contam seus giros nem dão bola para as promessas que fazemos a nós mesmos. O tempo é coisa que usamos, mas não nos pertence; é utilidade, convenção, relatividade. Meia hora na cadeira do dentista dura bem mais do que meia hora numa roda de amigos. Na infância, eternidade é o tempo decorrido entre dois Natais ou duas visitas de Papai Noel. Minha mãe, por seu turno, tão logo terminava um ano começava a se preocupar com o Natal vindouro “porque, meu filho, logo, logo é Natal outra vez”.

A vida familiar e a vida social se fazem, entre outras coisas, do cotidiano encontro da maturidade com a juventude. Imagine um mundo onde só haja jovens ou onde, pelo reverso, só existam idosos. Imagine, por fim, a permanente perplexidade em que viveríamos se a virada da folhinha nos trouxesse, com efeito, um tempo novo, flamante, que nos enrolasse nas fraldas da incontinência urinária, com tudo para aprender.

Felizmente não é assim, nem deve ser visto assim. O importante, em cada recomeço, é ali estarmos com a experiência que o passado legou. Aprender da História! Aprender da vida! E, principalmente, aprender da eternidade!

Quem aprende da eternidade aprende para a eternidade. Aprende lições que o tempo não desgasta nem consome, lições que não são superadas, lições para a felicidade e para o bem. Por isso, para os cristãos, a maior e melhor novidade de cada ano será sempre a Boa Nova, que infatigavelmente põe em marcha a História da Salvação, cumprindo o plano de amor do Pai.

Bem sei o quanto é contraditório à cultura contemporânea o que estou afirmando. E reconheço o quanto as pessoas se deixam cativar pela mensagem do hedonismo “revolucionário”, supostamente coletivista e igualitário. Mas é preciso deixar claro que tal mensagem transforma o mundo num grande seio onde, a cada novo ano, se retoma a fase oral e se trocam as fraldas da imaturidade.

A quantos lerem estas linhas desejo um 2024 de afetos vividos, aconchego familiar, realizações, vitórias, saúde e paz.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


André Godoy -   03/01/2024 10:24:24

Professor, te desejo uma vida longa e próspera, extensivo à sua família e um ano novo pleno de paz.

Menelau Santos -   29/12/2023 20:25:08

Prezado Professor Puggina, maravilhoso artigo, como sempre! O Tempo é algo que sempre intrigou e desafiou o ser humano. Na literatura, nos filmes, nos livros, muitos exemplos de reflexões do Homem em relação ao domínio do tempo. O meu filme preferido? A Máquina do Tempo de H.G. Wells, um revolucionário desmistificado pelo Professor Olavo, filme de 1960, com Rod Taylor e Ivette Mimieux. Um clássico! Minnha série preferida? O Túnel do Tempo, de Irwin Allen! Minha música preferida sobre o tempo? O Tempo não Para, Cazuza. Agora, o vídeo mais impactante e maravilhoso, acredito que nem o Padre Paulo Ricardo se deu o valor do que ele gravou no video abaixo. Para mim a síntese perfeita do pensamento católico em relação ao nosso tempo aqui na Terra, consoante ao pensamento e as letras grafadas pelo Professor Puggina neste texto. Peço licença do Professor para divulgar o link. Feliz Ano Novo, Professor! https://www.youtube.com/watch?v=jWZDVKUe8z8

Eliana Munhoz Gatti -   29/12/2023 09:45:34

👋👋👋👋👋👋👋 Feliz 2024 Muito obrigada

Aurea Cassettari Camara -   29/12/2023 03:52:19

Como sempre, texto irrepreensível em forma e conteúdo! Análise sensível de nossa vida! Grata! Um novo ano repleto de saúde, sonhos realizações, muita paz e amor!

MARCO ANTONIO GEIB -   28/12/2023 18:03:21

Mestre, obrigado pelos ensinamentos os quais, de uma forma ou de outra, elucidaram e aumentaram nossos conhecimentos sobre assuntos de suma importância do dia a dia....!!! Logo, logo, estaremos juntos outra vez nos meandros e linhas do ano de 2024.....Que Deus o abençoe e nós não desampare, um abraço no coração, seu e de sua família...!!!

Celso Afonso Cavalcanti De Albuquerque Tabajara -   28/12/2023 15:26:55

Novo Ano! Um ano que se vai rumo ao passado, Outro que chamamos de porvir, E, entre eles, um momento alado, Em que parece deixamos de existir... É que nossa alma naquele instante, Em que um ano cede passo há outro ano, Esquece a ingratidão e o desengano, Enfim, o que passou já vai distante. Mísera condição do ser humano, Desejar sempre a felicidade, Que redundará... talvez, Em um novo desencanto. E neste instante de fugaz engano, Esquece a alma a cruel realidade, Voltando a crer no ser humano, Desejando ser feliz no Novo Ano! ©Celso Afonso Cavalcanti de Albuquerque Tabajara