• Percival Puggina
  • 11/06/2015
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TUDO VAI MUITO BEM (NOS PODERES DA REPÚBLICA)

Quando tudo vai bem, o que a gente menos quer falar é em mudança. Deixa como está! Não mexe!

Estou falando dos membros das instituições. Dos órgãos do Estado, do governo, do parlamento, da justiça. Para esse específico e decisivo conjunto de pessoas, de autoridades, tudo está muito bem. Não têm do que se queixar. Os vencimentos são bons, os subsídios idem, prerrogativas e privilégios também, o modelo lhes garantiu acesso aos postos que ocupam, as regras do jogo lhes foram convenientes. Em grande parte, conquistaram suas posições com méritos intelectuais nos postos ocupados por concurso, e por méritos políticos nos postos eletivos ou de indicação. Tudo está no seu lugar e todos estão onde querem. Deixa tudo como está!

Esse tem sido um clássico entre os problemas brasileiros. Muda-se apenas o mínimo necessário para que nada mude, como já disse alguém. Estamos em meio a uma crise cujos promotores são conhecidos e sobre cujas causas ninguém tem dúvidas. Tudo vai mal para quase todos. Mas tudo vai bem para quem decide sobre quaisquer mudanças e sobre os rumos a serem dados ao país. Provavelmente, os "honorable gentlemen", como diria Churchill a eles se referindo, ouviram dizer que a sociedade se inquieta. Escutaram panelaços. Souberam que o povo saiu às ruas. Perceberam que a eleição e a apuração dos votos de outubro de 2014 transcorreram numa caixa preta. Têm consciência de que quem venceu mentiu mais que o capeta e alcançou seus fins pelos piores meios. Não desconhecem que há um escândalo em cada esquina. Acham o juiz Sérgio Moro um chato de galocha. Mas a experiência lhes ensinou que o melhor remédio, para quem não quer marola, vem com um dia depois do outro.

Eis aí o motivo pelo qual nada está acontecendo, embora todos esperem que algo aconteça. Por mais que as circunstâncias favoreçam seu trabalho, nem mesmo a dita oposição se atreve a cumprir seu papel. No Congresso Nacional, ela, a oposição, é a turma do "deixa disso!". Quando o clima esquenta, os caciques botam fogo. No cachimbo da paz, quero dizer. E trocam apaziguadoras baforadas. Os "honorable gentlemen" vão muito bem, obrigado, e nada têm a reclamar. As eventuais dificuldades pessoais se decidem com alguma leizinha privada, em benefício próprio, de comum acordo, porque nada é mais sagrado do que o bem estar e o estar bem nas instituições da República.

A conivência e a conveniência, vêm sustentando a hegemonia de um projeto de poder que já não esconde a que veio. Quem acha que nada deve mudar, em breve verá tudo mudado. Saiba, portanto, o leitor: em tais condições, nada serve melhor à ruína do país que a modorra institucional, que o conformismo dos tíbios e o silêncio dos omissos. Espero que o Congresso do PT desperte as instituições para seus compromisso com o bem do país, que não pode ser boi de canga para um projeto totalitário de poder.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar.

 


Vitor de Miranda -   13/06/2015 01:58:31

Sr. Percival, Em minha opinião excelente artigo pois muito claro e objetivo. O senhor é o único que critica a oposição; os blogueiros da VEJA, Reinaldo, Lauro e Augusto Nunes, dos quais sou leitor diário, e com os quais concordo, praticamente em tudo, são " cheios de dedos" com FHC. Nunca publicam meus comentários quando crítico o FHC, o qual considero uma pessoa nefasta. Nunca defendeu seu próprio governo, é favor da descriminalização das drogas e, segundo uma das últimas entrevistas dele, tem o "O Capital" de Karl Marx com seu livro de cabeceira. Um sociólogo estudar Marx é praticamente uma obrigação; transformar o livro em livro de cabeceira somente um falso democrata. Além disso estupidamente leniente com o PT. SDS, Vitor de Miranda.

André -   12/06/2015 16:53:22

Talvez o brasileiro, ou os brasileiros, que vieram para mudar o estado de coisas morreram dentro de tantas vítimas de homicídio. O resultado da reforma política, até o momento, tem como vetor a ação de inúmeras forças, mas não há força do bem lá. Iremos sair pior do que entramos! As mudanças que queremos, e eles sabem o que é, não serão conquistadas. Somos uma geração que não verá nada mais do que vemos a dia após dia. Vou torcer pelo Brasil, pois sem este desejo sagrado e genuíno - mesmo que eu fosse um qualquer que não pode ajudar nosso país - irei desistir de tudo. Assim como um lindo amor não correspondido, sofremos também nós por um "estado que queremos". gottardi@hnmd.mar.mil.br.

Gustavo Pereira dos Santos -   12/06/2015 09:33:57

A água chegou a 100ºC, falta pouco pra terminar o cozimento da rã. O prazo para registro do Partido Novo termina em setembro. Then, não poderemos ter candidatos em 2016, o TIFOIDE trabalha "duro" para isso.

Genaro Faria -   12/06/2015 04:43:25

A televisão vai continuar dando às massas o que elas consomem. E quem lê nos jornais as seções que não tratam de futebol nem dos casos de polícia vai continuar lendo sobre a política que virou uma novela policial sem fim. Depois vai limpar a boca com o guardanapo, termina de tomar o café que ainda restou na xícara e vai cuidar da sua vida. Que está cada vez mais difícil. O que se há de fazer? Notícia mesmo ele só vai encontrar nas revistas e nas redes sociais, que o PT detesta, com toda razão. Por que mídia boa é a cubana, onde só se lê o Granma. Não, meu caríssimo professor Puggina, não vai acontecer nada depois desse V Congresso do PT. Nem um alerta amarelo será aceso. No ano que vem veremos os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. E o prefeito carioca promete que serão os mais feéricos de todos os tempos. Dilma deverá convidar Raul Castro para a abertura. E posar com a delegação cubana, cheia de orgulho. BRASIL - UM PAÍS DE TOLOS.

Odilon Rocha -   11/06/2015 23:32:28

Caro Professor Possivelmente o senhor não seja dado a essas coisas de atirador de elite coisa e tal (não é atirar na elite!), mas esse artigo foi uma bala certeira. Mosca! Abraço