• Percival Puggina
  • 19/04/2020
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TSUNAMI DE NINHARIAS

 Há seis meses escrevi um artigo em que apontei os principais inimigos e os principais apoiadores do governo Bolsonaro. Não estava articulada, até então, a perigosa armação política que vem tecendo seus fios na cúpula dos poderes de Estado. Parece conveniente, por isso, jogar um pouco de luz sobre as ambições napoleônicas de seus líderes, que vão muito além da rebelião do centrão e do desejo de vingança da esquerda, inconformada com o resultado da eleição presidencial de 2018. O somatório das condutas mostra o objetivo das ações: criar e dar consistência à fantasia de um país ingovernável por um presidente sem apoios.

Até bem pouco tempo, vendo suas principais mercadorias (base de apoio e voto parlamentar) encalhadas nas prateleiras do Congresso, o centrão vinha impondo sucessivas derrotas ao presidente. De umas semanas para cá, palavras e expressões como “solidão do presidente”, “desestabilização”, “incapacidade” passaram a rechear discursos parlamentares e a povoar o vocabulário do jornalismo militante que cresce como inço na imprensa nacional. Sempre tentando fixar, contra os fatos, a ideia de que o presidente está em isolamento vertical...

A esse jornalismo cabe papel importante na estratégia de desestabilização. É preciso afastar do presidente os seus eleitores, constrangê-los, atacar sua sustentação popular. O modo de fazer isso é exatamente o mesmo que jogou liberais e conservadores brasileiros para o acostamento da política nacional, e ali os manteve inertes durante meio século. Trata-se de lançar sobre eles adjetivos que os desqualifiquem, dizendo serem, ou cães raivosos, ou idiotas de carteirinha, robotizados, incapazes de perceber as mancadas do mito. A mesma mídia que se presta para essa tarefa, se manteve distraída e desatenta em relação às condutas escandalosas que desaguaram na Lava Jato. Assiste de modo passivo e silencioso sua posterior transformação numa pingadeira. E tenta, agora, afogar o presidente num ruidoso tsunami de ninharias.

Cobram de quem permanece firme com o presidente uma isenção supostamente nobre e virtuosa. Afirmam, ou sutilmente sugerem, que cidadãos cientes de sua elevada dignidade devem agir como magistrados romanos. E não falta quem se deixe empolgar pela ideia de que tal conduta seria meritória, a cobrar tapinhas nas costas e bons adjetivos agraciados pelos adversários em virtude de sua – admitamos - omissão e insignificância.

Não ter lado diante do que está acontecendo no Brasil é irresponsabilidade.

Como qualificar, numa disputa política, quem faz exatamente aquilo que o adversário quer? E note-se: o adversário que espertamente reprova qualquer atitude mais eengajada que não seja em seu próprio benefício, está fazendo política e desgraçando o Brasil. Infelizmente, num cenário assim – pasmem! – há cidadãos de memória curta e ânimo fraco que saem da geral, sobem ao camarote, e desde lá assistem o jogo sem torcer, sem ter lado, sem se envolver com o fato de estar sendo disputado um campeonato onde quem perde ou ganha é o Brasil.

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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


 


Antonio Bastos -   20/04/2020 15:29:31

Prezado, oxála o Brasil fosse composto de pessoas do seu quilate, e,digo isso, não porque concorde com o seu posicionamento sempre lúcido e verdadeiro, mas porque sou um cidadão que tive uma formação solida e tenho uma conhecimento também. Aprendi, ao longo da minha existência, que a primeira coisa que devemos fazer quando nos deparamos com a opinião ou procedimento de alguém è: Se eu estivesse no lugar dessa pessoa, como agiria ou falaria? Fazendo isso, com certeza, teremos uma grande chance de avaliarmos melhor a posição de um outro. Parabéns pela opinião. Antonio Bastos.

Roberto -   20/04/2020 13:51:39

Li um artigo de jornal militante hoje que citou um militar anônimo segundo o qual aconselhou seus interlocutores a deixar o Bolsonaro "falar para esses malucos ". Os malucos seriam os seus eleitores.

EDISON BECKER FILHO -   20/04/2020 13:48:18

A muito posto que a solução está em: Político bom é o que não foi reeleito. Isto resolveria em muito os problemas do país e deixaria nossos velhos hábitos sem chão. Quem quer pagar para ver!

marcelo -   20/04/2020 13:37:51

É sabido o modo de articulação politica desejada por boa parte do Congresso aidna infestado de mensaleiros, gente qeu nao quer mudanças e não sabe fazer outra politica qeu não seja apatrimonialista, a do tomá lá dá cá qeu quebrou varias estatatais, quaase levando-as a falencia, dentre essas os Correiso e Petrobras. é claro que querem a votla do jabá governamental que patrocinou ONGs, Sindicatos, Artistas alinahdo ideologicamente, a UNE e até escritorios de diringentes e presidentes da OAB. tudo junto e misturado alimentando-se do dinheiro publico do suado imposto pago pelos brasieliros, e seguem tentando manobrar as massas. um pais assim nao tem com dar certo infelizmente demoraremos muitas decadas para nos livrarmos dessa corja isso se conseguirmos.

Luiz R. Vilela -   20/04/2020 12:17:42

Negociar faz parte da política, por isso são eleitos representantes das mais variadas camadas da sociedade. Porém, a negociação deve ser "saudável", visando trazer vantagens ao povo que escolheu determinado representante, afinal vivemos numa democracia representativa. Agora, quando o "negocio", vira negociata, ai a coisa descamba para a desonestidade, e é o que vinha acontecendo até a pouco nas relações entre os poderes, notadamente com o executivo e legislativo. Já dizia o célebre barão de Itararé, Aparício Torelly: " A negociata é o bom negócio, do qual nos deixaram de fora". Pois é, o que se pensa, é que cargo eletivo no Brasil, não é objeto de altruísmo, mas sim de sequiosos por negociatas. Porque se o presidente não fazer concessões, não aprova seus projetos, não é o Brasil que esta em causa? Teria a população brasileira o imaginário de que ser eleito para cargo público, seria o mesmo que acertar na loteria, e que o mandato seria o caminho para o enriquecimento pessoal? Os militares, historicamente, sempre viveram de seus soldos. A vida militar sempre foi enfática quanto a honradez de seus membros, e quando voltamos a ter um presidente que teve a sua personalidade forjada na caserna, da nisso ai. A indisciplina da vida civil, a deformação moral de muito "homens públicos" e a avidez gananciosa de certos setores da vida profissional, fazem com que a resistência a moralização, seja uma luta titânica. Até agora, não surgiu nenhuma denúncia de escândalo financeiro no governo federal, e é isso que a população deseja que continue, então porque essa união de forças a combater um governo que além de ter sido eleito por maioria dos votantes, também esta cumprindo seus desígnios? É explicável a carga feita contra o governo Bolsonaro, por muitos? Devem-nos explicações.

Vicente Lino -   19/04/2020 21:08:25

Mais um excelente texto. O que nos incomoda é o fato de uma parte muito pequena da imprensa perceber o que percebes. Ou perceber e torcer contra, o que parece o caso. Infelizmente, nunca o Congresso entendeu o verdadeiro sentido da negociação, preferindo sempre a negociata, a farta distribuição de cargos e prebendas, algumas impublicáveis. Acho que vale o esforço (quase inglório, admito) de mudar estes abjetos procedimentos, tão antigos quanto as tais "instituições" Contamos com poucos com sua coragem e discernimento. Muito obrigado

Dalton Catunda Rocha -   19/04/2020 20:19:25

Sobre o coronavírus, há duas boas notícias: “Vacina contra o coronavírus pode estar disponível em maio” > ( https://www.youtube.com/watch?v=kbTJG3BwV74 ) . “Plasma de pessoa curada faz paciente sair do coma e respirar sem ventilador” > ( https://diariodopoder.com.br/claudio-humberto-home/plasma-de-pessoa-curada-faz-paciente-sair-do-coma-e-respirar-sem-ventilador ). E por falar no coronavírus, sabem quem primeiro morreu de coronavírus, no Brasil? A capacidade de raciocinar de Jair Bolsonaro. ***************** Pois é. Ninguém morreu de coronavírus no Brasil, que a capacidade de raciocinar de Bolsonaro. Quando a capacidade de raciocinar de Bolsonaro caiu, também caiu a capacidade de se controlar, a volta da mafiacracia ao poder do Brasil.

PERCIVAL PUGGINA -   19/04/2020 15:46:18

Prezado Adão. Não costumo comentar os comentários, mas julguei necessário um esclarecimento em relação ao que, não sem razão, afirmas. O Congresso é um poder legítimo. O STF é um poder legítimo. Perfeito? Não. Um poder legítimo pode fazer coisas ilegítimas, maldosas, desonestas. É disso que estamos tratando. Bolsonaro não enfrentaria dificuldade alguma se comprasse a “mercadoria” que está nas prateleiras do Congresso. Alguém duvida? Olha-se então para outras formas de mediação. Uma delas é a mobilização social (já adiantou muito – lembras? - , mas está adiantando muito pouco, sabemos todos). Olha-se, também, para a imprensa e vê-se que ela está cooptada pelo projeto dos comerciantes com mandato e dos togados desconectados da nação. É isso que o povo precisa ouvir, entender, saber e, a isso, manifestar sua rejeição. Assistir de camarote é que não dá. Afirmar que os poderes são legítimos é subscrever a ilegitimidade do que fazem. E é respaldar uma mídia que não pode ser respaldada. O Congresso deixa caducar MPs de virtude indiscutível apenas para fazer pirraça! Está quebrando a União para beneficiar governadores e prefeitos, assegurando uma gratidão que significa reeleição geral e irrestrita, com o país quebrado.

adão Silva Oliveira -   19/04/2020 14:54:17

òtimo o texto. Todavia, não negociar, manter-se firme e inabalável sempre leva a lugar algum????? Nós do povo, que não vivemos de filosofia, e sim do nosso trabalho, queremos resultado. Nós mesmos, que votamos em 2018 - nós seres humanos de carne e ossos - votamos também neste congresso que está aí. A mesma legitimidade que detém o presidente detém também o congresso. Então, se duas partes outorgadas (presidente e congresso), por obra dos outorgantes (eleitores), estão em pé de igualdade, o que fazer em caso de divergência, senão negociar. Não se pode esquecer que o voto em Bolsonaro não é todo pela mesma razão. O mesmo que aceita o seu lado conservador nos costumes, clama pela pesada intervenção do Estado em determinadas -e muitas vezes - injustificadas situações. Como, então, contemplador este povo todo????