• Percival Puggina
  • 11/02/2019
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TROTSKY, POR QUE OS COMUNISTAS DETESTAM O FILME?



Assisti aos oito capítulos da série do Netflix sobre Trotsky sabendo que se tratava da adaptação de uma obra literária e que, portanto, não era rigorosamente histórica quanto aos fatos, frases e condutas. Meu interesse fixou-se no notável desempenho do ator russo Konstantin Khabenskiy e na singularidade de uma narrativa sobre a revolução ir além da tomada do poder pelos bolcheviques. Por quê? Porque esse costuma ser o momento em que o discurso dos comunistas começa a dar sinais de dificuldade, a aula termina, a conversa acaba. O Terror Vermelho que se seguiu é imensamente constrangedor a quem preserve, em si, um fiapo de humanidade. Dele participaram e com ele se comprometeram os três grandes líderes – Lênin, Trotsky e Stalin.

A “narrativa” revolucionária, entanto, precisava salvar alguém nesse imbróglio e o escolhido foi Trotsky. Ele seria o comunista virtuoso, a quem não se poderiam atribuir as perversões, o estilo de vida e as motivações que levaram a tais genocídios. Stalin, por sua vez, costuma ser escalado para o papel de bad boy de toda a tragédia social e humana da revolução, que se justificou pela fome, instituiu a miséria, saqueou o entorno e nem assim sobreviveu.

Daí porque os comunistas odiaram a série da Netflix. Eles necessitam que alguém – Trotsky – escape à amarga e fétida mistura de terrorismo, banditismo, selvageria e deformação moral que marcou o evento há tanto tempo cultuado. Pergunto: não são de seu herói estas palavras proferidas já em 1º de dezembro de 1917, dirigindo-se aos delegados do Comitê Central dos Sovietes?

 “Em menos de um mês, o terror, do mesmo modo como ocorreu durante a Grande Revolução francesa vai ganhar formas bastante violentas. Não será mais somente a prisão, mas a guilhotina – essa notável invenção da Grande Revolução francesa, que tem como maior vantagem reconhecida a de encurtar o homem em uma cabeça – que estará pronta para os nossos inimigos”. (Delo Naroda – “A Causa do Povo”, 3/12/1917).

Gentil, o moço. Em 1919, em “La defense du terrorisme”, conforme lido em “O Livro Negro do Comunismo, pag.887, ele faz um diagnóstico das duas classes sociais, o proletariado ascendente e a burguesia decadente. Na visão de Trotsky, esta última é tão apegada ao poder que, em sua queda, arrastaria consigo a sociedade inteira. Portanto, era preciso eliminá-la. Assim:

“É nossa obrigação arrancá-la do poder e cortar-lhe as mãos. O terror vermelho é a arma utilizada contra uma classe condenada a perecer e que não se resigna a isso.”

Assistam a série, apesar de ser uma história densa, pesada, com fantasias e muitas intercalações que brotam da imaginação do roteirista ou do romance histórico em que se baseia, vale o tempo gasto. Dá muito que pensar. Exibe o risco inerente às utopias. Por vezes dói constatar que o filme parece reproduzir diálogos atuais de nosso ambiente intelectual... Noutras ocasiões, sua atualidade surge ao mostrar que, nos primeiros movimentos da revolução, os comunistas cumpriram o repetido papel de atacar os presídios e libertar os presos. No Brasil há gente ansiosa por fazer isso com a caneta.

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* Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 

 

 



 


Roberto Henry Ebelt -   16/02/2019 17:20:17

Já vi os primeiros 8 capítulos e tenho frequentemente a impressão de que estou assistindo à uma reunião de luladrão, josé dirceu, genoíno e tantos outros desgraçados personagens de nossa história recente.

Isac -   13/02/2019 10:51:56

COMO OS ENDIABRADOS COMUNISTAS APRECIAM APENAS EMBUSTES E FALSIDADES, O EPISODIO TROTSKY OS ENTREGA MAIS AINDA , O QUE SÃO, O PCC-CV-FARC DE TERNO E GRAVATA E NADA MAIS, ESSES VAGABUNDOS QUANDO NO PODER! Mas, tenho uma boa: na comemoraçao dos 39 anos da quadrilha do PT, em SP, o mega vigarista J Dirceu confessou algo que não precisa ser invertido para se saber a verdade, como tudo que boquejam nas redes: FOMOS DERROTADOS NAS RUAS E NAS URNAS E O POVO NOS DETESTA! Verdade sim! Solto pelo petista Tóffoli, porque v mesmo por enquanto em liberdade não foge para um dos paraísos, como Cuba e Venezuela, ou estaria tentando uma boquinha junto com Bolsonaro em algum lugar para continuar conspirando, hem?

Eduardo -   12/02/2019 20:09:56

Mais uma vez, com prazer, deixo o meu cumprimento e o meu muito obrigado por permitir-me mais uma interessante leitura (e dicas ... e percepções ...).

JOÃO CARLOS -   12/02/2019 15:19:33

Esse tema da Netflix não tinha me chamado a atenção já que nos prendemos + Marx, Lênin e Stalin ...vou conferir.... mas ressalto que sua análise é impecável e polida em detalhes! Deus o abençoe!

Constatação -   12/02/2019 13:13:48

Se fosse um documentário, poderíamos esperar exatidão histórica. Mas, em um filme ou série... de modo geral, há licenças poéticas por se tratar de entretenimento., ainda que o essencial da história geralmente seja mostrado. Em tempo: não me surpreenderia se os comunistas que criticaram a série do Neflix fossem os mesmos que ladraram contra A Queda - As Últimas Horas de Hitler, se bem que com motivação diferente para este último: em vários momentos, Hitler aparecia como uma figura gentil e cordial. Esqueceram-se de duas coisas: primeira, isso não fazia dele menos tirano do que foi; e a segunda: nazismo e comunismo são irmãos gêmeos.

Luis Christovam Correa -   12/02/2019 01:17:36

Em tempos de tantas tragédias, rogo a Deus por sua saúde é segurança. Seus artigos são bálsamo, frente a um oceano de mediocridades.