• Percival Puggina
  • 24/07/2020
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TRÊS SUCESSOS DO LADO ERRADO DO MURO DE BERLIM

 

 Depois que caiu o Muro de Berlim, formou-se um consenso bastante amplo sobre a incompetência do sistema que o produziu, ficando meio esquecido o fato de que por trás dele ocorreram três incontestáveis sucessos.

Os dois primeiros se deram na conquista do espaço e no aparelhamento para uma guerra total, que a extinta URSS disputou, orelha com orelha, contra os poderosos Estados Unidos e seus aliados da OTAN. Esses dois casos positivos no conjunto da fracassada experiência comunista são uma evidência de algo muito importante para se compreender alguns fatos básicos da vida. Convém pensar sobre eles num país onde ainda há quem creia ser possível o progresso fora do livre mercado. Em ambos os casos - no preparo para a guerra e na conquista do espaço - havia corridas sendo disputadas. E sempre que há competição, surgem o esforço, a criatividade, o investimento e o desenvolvimento.

Na economia, investimento é a aposta que os agentes fazem sobre tais ou quais possibilidades, num cenário onde o jogo dos outros concorrentes é desconhecido. Ora, quando o estado é o único agente econômico, não há estímulo nem possibilidade de apostar e investir. No caso da URSS, como o espaço e as armas eram objeto de competição com outros países, surgiram ali aquelas condições que fazem a roda andar para frente. E ela andou, até que o restante da economia soviética parou, com aquela fatalidade das bombas associadas a um relógio. Suas vitórias sobre os norte-americanos – o primeiro satélite artificial, o primeiro satélite levando um ser vivo (a cadelinha Laika, que torrou no espaço 10 dias depois), o primeiro voo espacial tripulado, ficaram no registro de uma glória fugaz. O sistema era o próprio estado-bomba.

O terceiro caso de sucesso, comum a todas as sociedades de inspiração marxista é o mercado negro, de onde lhes vem o mínimo oxigênio necessário para que se mantenham respirando. O mercado negro, aliás, é o puro e simples mercado, dito negro por ser proibido, embora tolerado. Graças a ele muitos sobrevivem atendendo necessidades fundamentais da população. Vá a Cuba e veja.

São lições clássicas, que cotidianamente se repetem. E só se repetem para multiplicar o bem onde houver liberdade, proteção ao direito de propriedade, estabilidade jurídica e política e investimento naquela que é a principal riqueza de um país – seu povo. Por outro lado, os países desenvolvidos já aprenderam que transformar a pesquisa científica e tecnológica em objeto de generosidade compulsória é extinguir a criatividade e firmar contrato com o atraso. O discurso da inclusão tecnológica, no qual tudo é de todos ou de uso livre, acaba em muro. E, depois, leva meio século para acabar com o muro.

Faço estas observações para que aprendamos algo do empenho de laboratórios no desenvolvimento de uma vacina para a covid-19. É uma corrida contra o tempo, a demandar investimentos colossais para ver quem chega primeiro. Há um Prêmio Nobel à espera da equipe que romper a linha de chegada.


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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


André Ambrosio Abramczuk -   27/07/2020 14:39:25

Professor Puggina, quase nunca deixo meu comentário aqui. Gosto de ler suas publicações, pois aprendo muito com elas, principalmente a entender vários assuntos em relação aos quais minha visão por vezes se mostra bem estreitinha, até mesmo míope. Como não tenho vergonha de aprender, também não tenho vergonha de confessar que em muitos casos suas publicações me levaram a mudar de opinião. Vai aqui meu comentário sobre os vários comentários que li a essa publicação sobre os sucessos do lado errado do Muro. Alguns desses comentários me trouxeram à lembrança o comentário de um filósofo ou escritor de cujo nome não me lembro (pensei em Pitigrilli...). Ele disse/escreveru; "Todos os problemas do mundo são resolvidos em dois lugares, nas barbearias e nos táxis". Mas hoje, graças à tecnologia, ouso dizer que também nas redes sociais.

Suzana -   26/07/2020 22:56:33

Podem ganhar mil prêmios, mas eu não vacino!

irineu berestinas -   26/07/2020 12:15:04

Percival Puggina, J.R. Guzzo, Guilherme Fiuza e Leonardo Coutinho são o ponto alto do jornalismo brasileiro dos nossos conturbardos dias, assediados por uma mídia que não faz jornalismo, mas apenas ideologia. . Abços Meu Caro Puggina e parabéns pelo texto!

Luiz R. Vilela -   25/07/2020 11:35:04

Já gastei o meu estoque de impropérios para fazer referencias ao comunismo. Onde não há liberdade, todo sucesso é efêmero. Foi o que aconteceu com experimento comunista na antiga URSS. A princípio houve o crescimento, depois o aborrecimento e por fim, o descontentamento. Ninguém pode viver satisfeito onde não possa ser um nome, mas apenas um número guiado por uma casta de teóricos que acha que tem uma fórmula que possa substituir o livre arbítrio de cada um de como viver. O estado totalitário, a pior das pragas que possa flagelar o ser humano, indivíduos incompetentes acreditam que possam gerir um estado baseado no igualitarismo, quando se sabe que a própria natureza dota suas criaturas com características diferentes. O sonho dos ignorantes, é que o estado seja forte suficiente para que os torne, através de medidas artificiais, iguais aos de maior conhecimento. Receita para o desastre total. A União Soviética ruiu pela fadiga da fórmula. Quando a grande maioria descobriu que trabalhar não era sinônimo de prosperidade, que mesmo no ócio, o estado era o provedor geral, fizeram a escolha fatal. Ao faltar a força de trabalho, faltaram os recursos para o estado se manter e o modelo faliu. O progresso humano deve ser o fruto do trabalho, a propriedade física ou intelectual, é de quem a criou, o estado para se apoderar de qualquer coisa privada, deve pagar por isso. A criatividade, a competência e principalmente a propriedade privada, é que garantiram o progresso humano. O estado que detém parte do dinheiro dos cidadãos, que pagam impostos, deve garantir a sobrevivência dos incapazes. Aos capazes, a receita é o trabalho e inserção na economia de mercado, que é o garantidor do progresso e bem estar de todos.

Ana Célia Santos Maia -   25/07/2020 11:22:56

A corrida frenética em busca da tal vacina contra a peste chinesa está nos expondo a perigos maiores: drogas mal testadas e obrigatoriedade de aceitarmos a tal vacina como forma de controle da nossa liberdade. No momento, eu queria apenas que os políticos pilantras da esquerdalha criminosa nos permitissem o uso da hidroxicloroquina e seus associados... mas esses assassinos que estão desgovernando os estados e as cidades brasileiras preferem nos deixar morrer à míngua...

Lindoberto Ramos Lima -   24/07/2020 20:14:44

Eu diria, meu caro professor, mais do que um Prêmio Nobel, muita lucratividade também, e é assim que deve ser, quem investe deve receber o retorno pelo seu competente trabalho. Alguns, ou muitos até, acham que ela deve ser disponibilizada para todos, sem contrapartida. Entendo que todos devem ser imunizados, mas pagando o custo de quem inventar a vacina...Os que não tem condições? Ora, os respectivos governos que disponibilizem para seus cidadãos...