A burocracia do MEC está com pé no estribo para cavalgar de vez a educação brasileira. Refiro-me ao uso extensivo e abusivo daquilo que a Constituição determina: fixação de "conteúdos mínimos" para o ensino fundamental. No recentemente aprovado Plano Nacional de Educação (2014-2024) foi inserido um negócio chamado Base Nacional Comum Curricular (BNC) e, obviamente, coube ao MEC, povoado de companheiros, realizar a frutuosa tarefa. O ministério reuniu 116 especialistas de 35 universidades e produziu um calhamaço que, neste momento, está "aberto" a sugestões da sociedade. Ora, a sociedade nem sabe o que está acontecendo. E o que está acontecendo é gravíssimo! Aquilo que, na perspectiva do constituinte de 1988, deveria ser um conjunto de conteúdos, se converteu num manual para homogeneizar cabeças e tornar hegemônica, no ambiente escolar, a ideologia que, há tempos, grassa e desgraça a educação brasileira.
O MEC informa que a BNC englobará 60% dos objetivos impostos aos ensinos fundamental e médio. E adverte: ela dialoga com o ENEM. Sim, e como! Se o currículo obrigatório "dialoga" com o ENEM (petistas adoram essa metonímia), escola alguma, pública ou privada, vai ensinar diferente, ou sob perspectiva diversa. Se o fizer, seus alunos desconhecerão as respostas que o Estado brasileiro quer ouvir para lhes abrir as portas das universidades públicas. Eis o totalitarismo através da Educação.
Quando algum pedagogo fala em problematizar algo, ele está afirmando que vai reduzir esse algo a coisa nenhuma. E o fará usando sua permissão para porte dessa arma de grosso calibre que é a barra de giz. Saiba então: o verbo "problematizar", com seus derivados, pode ser encontrado 55 vezes na BNC! Lembram da ideologia de gênero, barrada no Congresso Nacional? E da posterior pressão do MEC, tentando obrigar estados e municípios a adotá-la? Pois retorna, agora, pela BNC. O conceito gênero aparece 12 vezes no texto. Sexo, apenas duas. É a renitente problematização da genitália.
Quase nada há, ali, que não seja problematizado: sentido da vida; percepções do corpo; relações sociais e de poder; papel e função das instituições sociais, políticas, econômicas e religiosas; seleção das datas comemorativas (!); cronologia histórica nacional e mundial; narrativas eurocêntricas; relação de "saberes e poderes" de caráter religioso e suas tradições; divisão de classes no modo de produção capitalista (e só no capitalista) e, por fim, fenômenos sociais de modo a "desnaturalizar (!) modos de vida, valores e condutas". É a morte, por asfixia, do livre pensar.
Zero Hora, 17 de janeiro de 2016
Genaro Faria - 20/01/2016 08:48:09
Toda civilização nasceu na religião. No mundo inteiro, desde as que permaneceram primitivas até aquelas que aos poucos se desenvolveram até se expandirem muito além do espaço geográfico em que nasceram. A cultura surgiu com uma consequência da religião numa fase mais avançada da civilização. Um terceiro elemento também é comum a toda a civilização: o Estado, personificado na figura de um soberano. Que a partir da revolução inglesa, de 1688 , deixou de governar. Foi dessa revolução que surgiu o Parlamento e o estado moderno. Mas ela padeceu de um grande defeito: não foi nem um pouco sanguinária. Não conquistou o fascínio dos historiadores com a queda da Bastilha e a guilhotina. Aos olhos deles a chamada Revolução Gloriosa foi um fracasso. Voo de uma ave de rapina que erro o alvo. Pouco importa que dela tenha surgido o maior império da História. Mas antes da religião o homem nômade se distinguiu dos animais gregários pela família que constituíram. Nada disso é considerado pelos intelectuais progressistas da esquerda. Milênios dessa trajetória que o homem percorreu não merecem, para eles, nem um rodapé do capítulo de tantas e universais peculiaridades de nossa espécie. Para eles, o mundo só começou com Karl Marx, alhures. Foi incinerado no oriente pelo satã capitalista, mas ressurgiu aqui com Lula. E nós que não pulamos essa pirueta de malucos é que somos alienados...Genaro Faria - 20/01/2016 07:00:20
Diante dessa afronta tamanha à consciência que a banalidade de tantos escândalos não embotou - e por isso mesmo reage com indignação crescente - eu deveria me envergonhar por abordar, neste comentário ao seu artigo, um assunto sobre o qual seu artigo não trata especificamente. Refiro-me a uma portaria baixada pelo prefeito petista, para regulamentar a profissão autônoma dos taxistas. Segundo essa norma é vedado a eles conversar com os usuários de táxi sobre assuntos que abordem futebol, religião ou política. Portanto, cuidado! Se você chegar a São Paulo e tomar um táxi que o leve do aeroporto ao hotel, procure não comprometer o taxista puxando conversa sobe esses assuntos proibidos. Reclame do clima mas não diga que você torce pelo Internacional. E se o trânsito estiver engarrafado, fique calado. Qualquer comentário que você fizer poderá ser interpretado como uma provocação. E o taxista poderá pensar que você é um espião do prefeito. A propósito, desligue o celuar. Mesmo no módulo avião ele é perigoso a bordo de uma navegação pelos ruas de São Paulo. O motorista terá todo direito de abrir a porta do carro e lhe jogar pra fora. Por que não me envergonha essa abordagem off topic? Porque o alcaide que baixou essa portaria foi ministro da educação e é um dos intelectuais progressistas mais festejados pelos petistas. Portanto, eu penso que não é tangenciar o contexto de seu artigo revelar, no plano de uma realidade ao rés do chão, que tipo de mentalidade doentia está desconstruindo nossa Educação.Dennis Bueno - 20/01/2016 05:30:48
Extremamente importante divulgar isso. Quanto mais gente souber dessa palhaçada ideológica que #$%#$$% estão querendo implantar na educação, mais pessoas vão lutar contra isso.Gustavo Pereira dos Santos - 20/01/2016 02:28:41
Colocarão a culpa no Conservadorismo quando terminarem o "serviço".Valdemar Katayama Kjaer - 19/01/2016 14:44:54
Recomendo, sobre o tema, os livros "quem controla a escola governa o mundo", de Gary Demar... "o que estão ensinando aos nossos filhos", de Solano Portela, indiretamente sobre o assunto, "os intelectuais e a sociedade", de Thomas Sowell...e um curso gravado na Internet, "desconstruindo Paulo Freire", no site a civilização ocidental.Carlos Edison Domingues - 19/01/2016 10:50:53
PUGGINA ! Tem uma passagem, na Biblia, que nos transmite a história das árvores que estavam à procura de um rei. Aquelas árvores de maior porte e importância, por razões variadas declinaram do convite para se tornar rei das árvores. Sobrou para o espinheiro rasteiro, que exigiu que todas ficassem sob sua sombra. No momento que as Universidades Federais abriram mão dos vestibulares, para diminuirem o serviço e a responsabilidade entregaram para o poder central o comando até da ideologia. A Nação não sente isto. É lamentável. Carlos Edison DominguesRejane - 19/01/2016 02:16:57
Ótimo comentário Sônia sobre o texto do caro Puggina! Pena que a sociedade esteja alienada, parece mesmo estar anestesiada, pois não reage, não grita, não contesta. Textos como do Puggina são poucos, os ecos são fracos diante de tanta aberração!Genaro Faria - 19/01/2016 01:00:54
Aos poucos que acompanham e sabem identificar o cheiro de enxofre que promana desses planos e metas, que contornam a Constituição e ignoram o legislador, provavelmente possa intrigar o fato de que, ao contrário do que o senso comum ao governo aconselharia neste momento de impopularidade na estratosfera, intensifica o cumprimento do propósito de nos garrotear na praça pública da hegemonia ideológica. Não seria o caso de o governo recuar agora para depois dar uma volta a mais no garrote vil? Acho que não. Sabem por quê? Porque a sociedade nem sabe o que está acontecendo, como disse o prof. Puggina. E quem tem o dever de saber - e impedir que se consuma esse crime - também não sabe. E nem quer saber. Nossos parlamentares não têm tempo para se preocupar com essas miudezas que os "formadores de opinião" também consideram uma questiúncula de grêmio acadêmico. Então, por que deixar para depois, não é mesmo?Sônia Dias Marques - 18/01/2016 16:27:31
Brilhante seu comentário, Caro Mestre! Sabemos que já há alguns anos acontece neste país uma fragmentação das políticas sociais, perpassadas pela educação e pelo discurso separatista de cada etnia ou diferença de parcelas população. A pátria ostenta várias bandeiras, uma para cada grupo social: os negros, os gays, os brancos, os índios, as pessoas com deficiência, etc... Não ostentamos mais o mesmo pavilhão nacional, salvo nos jogos da Seleção Brasileira. Sabemos que parte da ideologia reinante é dividir para conquistar. Os discursos são pomposos e instigantes, contudo, mentirosos e alienantes. Lamentável!Odilon Rocha - 18/01/2016 15:01:13
Caríssimo Professor Foi como lhe disse em um e-mail: tortura! Abraço