• Percival Puggina
  • 25/05/2021
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TODOS CONTRA O MAL, MAS QUEM PELO BEM?

Percival Puggina

 

Cuidado, pessoal. As bandeiras do falso progressismo, como a liberação de certas drogas, acabam elegendo os Joe Bidens da vida.

A frase acima é uma provocação ao leitor. O que estou querendo afirmar neste artigo é que esse “progressismo” entre aspas que assola o Ocidente defende a liberação da maconha e outras drogas como se elas fossem um problema apenas individual e não um gravíssimo problema social, na raiz de muitos dos males que a todos atingem e em quase uníssono condenamos.

Nessa linha, desconsiderando o fato de tantos de seus atores e artistas terem sido vitimados por esses vícios que a empresa quer ver descriminalizados e liberados, o jornal O Globo afirmou em editorial de 14 de novembro do ano passado:

 “(...) Ao mesmo tempo que  a maioria dos eleitores americanos tratava de tirar Donald Trump da Casa Branca, muitos também votavam em plebiscitos estaduais para ampliar a liberação do uso recreativo e da aplicação medicinal das drogas. Tais consultas mostram quanto o Brasil está atrasado nesse campo, apesar dos esforços de legisladores, juízes e pesquisadores.

Estou plenamente advertido sobre o fato de que o uso medicinal da  maconha não se confunde com o recreativo. Aquele pressupõe o emprego da cannabis sativa processada em laboratórios para pacientes com enfermidades e não para gerar dependências e sequelas em pessoas sadias. Sei, também, que o hábito de encher a cara é anterior ao Antigo Testamento; que os ameríndios mascavam folha de coca, fumavam cachimbo e destilavam a própria aguardente; que no início do século XIX houve uma guerra entre a Inglaterra e a China pelo transporte dos derivados da papoula, e que a dependência do ópio já era um flagelo na Antiguidade. Sei, por fim, que nos filmes da Netflix – uma das referências do “progressismo” – fuma-se mais maconha do que cigarros de tabaco porque é “muito mais divertido”.

Ouvir em meios culturais e de comunicação um discurso de tolerância em relação à maconha e outras drogas, ou, o que talvez seja ainda pior, perceber que se difunde por repetição a ideia de que maconha não faz mal algum (“porque é até medicinal”), resulta inquietante para quem tem informação verdadeira e objetiva sobre o assunto. Pergunte, leitor, a profissionais da área de saúde que lidam com dependência química. Ouça peritos a respeito dos efeitos neurológicos, psicológicos e comportamentais da maconha e suas consequentes companheiras. Indague a pais e professores sobre o impacto que o uso dessa droga determina na capacidade intelectiva, na concentração, na disciplina e na vida escolar de milhões de jovens.

Nunca esqueça ter sido ela que abriu a caixa de maldades e perversidades desencadeadas em nosso país nas últimas décadas. Primeiro gerando o hábito social, em seguida o vício, e, depois, puxando a longa corrente das drogas cada vez mais pesadas que invadiram o mercado com seu poder de destruição, violência e corrupção.

Triste a nação que renuncia à tarefa de transmitir valores às suas gerações! Se as famílias cuidam apenas da subsistência material, se as escolas se encarregam, quando muito, de transmitir conteúdos didáticos, se as Igrejas só se ocupam de questões sociais e políticas, se os meios de comunicação deixam de lado sua responsabilidade social, quem, afinal de contas, vai orientar a sociedade para o bem?

Observe o trabalho dessas meritórias instituições que assumem a missão de recuperar os destroços humanos deixados pelas drogas. O que oferecem? Qual sua receita? Saudável orientação moral, abstinência do vício, espiritualidade, disciplina e trabalho. Mas, onde o trabalho das grandes instituições? Elas, que durante séculos responderam social e responsavelmente por tais tarefas, foram tragadas por um alinhamento automático ao “progressismo” que as queria derrotar. Deus abençoe a resistência conservadora!

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Maceira -   01/06/2021 12:54:04

Parabéns pela abordagem do artigo !

Pedro Fattori -   01/06/2021 11:25:45

Ainda bem que é provocação. Porque demcracia é em essencia a certeza da alternância no poder. Sempre os mesmos, não! Sejá lá prá que lado for se olhar!... Até porque mais de dois mandatos seguidos fede a ditadura...

Luiz R. Vilela -   26/05/2021 14:33:50

Vício? Nada mais é que a escravização voluntária do indivíduo, ao entorpecente e a quem o vende. Uso recreativo? Só nas primeiras vezes, depois se torna hábito e o usuário um viciado. Sempre achei que vício, antes de ser uma necessidade física, é um acondicionamento psicológico a que a pessoa se submete, no começo, inocentemente, mas depois, ciente de que transpôs o portal do inferno, perde completamente o domínio sobre si. Só sabe o que é vício, que já teve um. Mesmo sendo um simples tabagista, o viciado tem consciência do mal causa a si e aos que o cercam. Aqueles inveterados, são os que já se deram por derrotados, pois qualquer viciado tem o sonho de se libertar jugo a que se submeteu, mas a grande maioria não tem forças suficiente para a luta, e tombam desgraçadamente. Qualquer um que faça qualquer apologia em favor de qualquer substância que produza dependência, deveria ser processado por crime contra humanidade, as drogas só produzem a degradação do indivíduo. Não existe prazer em usar algo que vicia. Abaixo as drogas, e em nenhuma hipótese qualquer legalização. A morte deve vir naturalmente, e não por indução.

VIRGÍNIA TRIGO -   25/05/2021 21:50:48

Seu texto, além de discorrer sobre as preocupações, beirando à desespero, das pessoas que prezam pelas famílias,pela saúde da sociedade, também retrata a inversão de valores, que se intensificou nos últimos dias, excelente texto, prazeroso lê-lo, parabéns ????????????????????????

Elvio Rabenschlag -   25/05/2021 21:12:45

Parabéns pela abordagem. Pessoas doutrinadas não vem os fatos como eles são mas como gostariam que fossem. A narrativa de liberdade que o "progressismo" faz atrai os jovens pela sua inexperiência. Pior, vejo gente famosa que diz que na juventude fumou maconha e que, as vezes, ainda fumam, como se ela fosse inócua para saúde. Tenho 81 anos e me preocupa muito o tipo de sociedade que as novas gerações vão herdar. Mas vamos continuar lutando para preservar os valores que fazem uma verdadeira sociedade.