Percival Puggina
O ministro Gilmar Mendes, falando sobre a decisão do STF que assustou até o jornalismo amestrado ao estabelecer a responsabilidade dos veículos sobre acusações criminais feitas por entrevistados, disse textualmente (transcrição, palavra por palavra do ministro, no vídeo da declaração, divulgado pelo site Poder 360°):
“Temos que ter cuidado. O caso que se discutia é um caso muito circunstancial – esse caso envolvendo o Diário de Pernambuco em que o entrevistado imputou falsamente a alguém a prática de um crime. No entanto até essa pessoa tentou, via direito de resposta, fazer esse esclarecimento e não conseguiu, junto ao veículo. Portanto, o caso é bastante circunstancial. O problema, me parece, não está na decisão, no acórdão, mas eventualmente na tese que se tenta transpor. E aí vem vários questionamentos que a imprensa tem feito. Por exemplo, em casos de entrevista ao vivo, como que se vai fazer o controle? Ou em situações nebulosas, ou muitas vezes brigas entre grupos ou facções políticas em que se faz uma imputação sabendo-se que ela é falsa. Tudo isso precisa ser tematizado e, se for o caso, esse tema pode voltar ao Tribunal em embargos de declaração para que a tese seja devidamente esclarecida. É inequívoco, todos sabem, o valor que o Tribunal dá à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa. Como também, a ideia de que se tem que preservar a honra, a dignidade e a imagem das pessoas. Isso está estabelecido em todos os acórdãos que o Tribunal lavrou sobre isso nesses 35 anos.”
Eis aí, por uma fresta, o panorama da insegurança jurídica causada por uma formação do STF que parece mais empenhada em “empurrar a História”, impor estratégias e visões de mundo de sua maioria menchevique e bolchevique do que em guardar e aplicar a Constituição de 1988. A consequência se mede em insegurança jurídica para a sociedade e em atropelo à autonomia e às prerrogativas dos demais poderes.
Na afirmação que fez, o ministro estampa com crueza algo que há muito deixou de ser circunstancial. Recorrentemente, o STF afirma A e, tempos depois, o contrário de A, naquilo que o ex-ministro Joaquim Barbosa, coincidentemente, definiu como “maioria de circunstância que tem todo tempo a seu favor para continuar sua sanha reformadora”.
O produto dessa conduta é insegurança jurídica, como a criada pela mudança de posição em relação ao marco temporal ou como a reversão da possibilidade de prisão após condenação em segunda instância (quando em três anos a Corte mudou duas vezes de opinião), ou, ainda, como fez em relação à contribuição sindical.
Por isso, cada vez que leio na imprensa matérias cujos títulos dizem “STF forma maioria para...” seja lá o que for, desconfio que de algum modo a sociedade ou os indivíduos saíram perdendo algo.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Paulo Antônio Tïetê da Silva - 17/12/2023 12:08:14
"Quousque tandem, abutare Catilina, patientia nostra?Maria L F Caudurp - 15/12/2023 17:12:36
Puggina texto excelente, curto, de leitura fácil para quem não tem muita paciência... A propósito da derrubada de vetos do Congresso, a esquerda vai judicializar...e ganhar, pois quem governa o País, lamentavelmente, são as togas negras ( em todos os sentidos!). Até quando vai isso? Quem não vai às ruas ESTÁ NA HORA! Povo na rua e Congresso derrubaram Color e Dilma,MARCO ANTONIO GEIB - 14/12/2023 17:24:21
Mestre, porque o Senado e a Câmara dos Deputados ..."não forma maioria" e coloca o "STF" em seu devido lugar de Poder Judiciário. Quem Legisla, quem aprova Leis, Veta ou derruba Vetos é o Congresso Nacional. Tem que ser mostrado as estes "pseudos semideuses, quem pensam em tudo mandar, qual o seus lugares, nem que seja preciso usar um ou mais "impeachments" ??? Hoje,14, Congresso derrubou vários vetos do Descondenado mostrando a este que nem tudo quer ele pode !!! Sonhar é preciso..abs.Eduardo D Souza - 14/12/2023 11:49:43
Eu concordo com o Ministro em punir, nesse caso, o veículo de impresa, pois não concedeu direito de resposta ao ofendido, conforme a seguinte passagem: "o entrevistado imputou falsamente a alguém a prática de um crime. No entanto até essa pessoa tentou, via direito de resposta, fazer esse esclarecimento e não conseguiu, junto ao veículo."LUCIANO CONSTANT RODRIGUES DA CUNHA - 14/12/2023 11:09:28
O Gilmar Mendes sempre foi um juiz imprevisível ( para o pior sempre ) e agora então parece esclerosado de vez. Perigosíssimo !Manoel Luiz Candemil - 14/12/2023 10:48:45
O problema não fica naquilo que já se perdeu, mas naquilo que poderemos perder adiante!Afonso Pires Faria - 14/12/2023 09:58:07
Estes "ministros" não valem o que o gato enterra. Eles sabem que estão agindo de encontro a CF. Falta coragem a algum jornalista que tenha acesso a eles, fazer as colocações devidas. A simples leitura do artigo, faria com que eles se envergonhassem do falado. Mas falta vergonha neste e coragem àquele.Luiz Pohlmann - 14/12/2023 08:07:42
A mordaça está prescrita há tempos; é só fumaça para despistar a imposição que querem, e pior: estão conseguindo!Lauro Rocha Gomes - 14/12/2023 07:56:46
Puggina Uma lucidez fabulosa. Meus parabéns a você, pelos comentários de uma clareza cristalina, digna de elogios e nos brindando a cada dia com preciosidades e aulas de cidadania em diversas frentes dessa realidade Brasileira muito singular.Sergio Augusto kerber Jardim - 14/12/2023 07:40:30
Olá. Agora um bando de ministros estão dando as cartas. E jogando de mão. Só as ruas para levantar nossa moral.