• Percival Puggina
  • 02/12/2016
  • Compartilhe:

STF DA FRUSTRAÇÃO À DEPRECIAÇÃO

 


Quando acontece de modo singular, tem-se a frustração. Quando se repete, a irritação. Quando se torna frequente, vem a depreciação. Lembremos. Ao concluir-se a votação do impeachment da presidente Dilma, a senadora Katia Abreu apresentou aquele famoso destaque propondo o fatiamento da pena para que o impeachment não acarretasse perda dos direitos políticos. Tratava-se de um arreglo tramado em sigilo, durante reuniões de elevada hierarquia, que acabou se transformando em decisão política com qualidade jurídica de caderno de armazém. Quem discursou em favor da medida? Renan Calheiros, que justificou a providência com o consistente argumento segundo o qual aplicar o impeachment e sua consequência natural seria dar um coice depois da queda. E quem proporcionou aval jurídico àquela decisão (dizendo que não estava a fazer isso, como soe acontecer no STF)? O ministro Ricardo Lewandowski, que presidia o Senado transformado em tribunal. Ele argumentou que se aceita a dupla punição, a presidente estaria inabilitada até para ser merendeira de escola. E Dilma, que perdeu o mandato por crime de responsabilidade, para não incidir sobre ela o absurdo impedimento de não poder ser merendeira, ganhou o absurdo direito de, em tese, disputar novamente a presidência em 2018... Frustração!

Passaram-se 90 dias. Ontem pela manhã, no plenário do Senado, ocorreu uma sessão temática sobre o tema Abuso de Autoridade, objeto da controversa emenda ao projeto das medidas contra corrupção. Entre os convidados de Renan Calheiros, para um previsível antagonismo, o ministro Gilmar Mendes e o juiz Sérgio Moro. Ante um magistrado sereno e consistente em sua exposição, o ministro partiu para a arrogância e menosprezou os dois milhões de assinaturas populares às Dez Medidas contra a Corrupção. Disse: "Aprendi em São Paulo que quem contrata o sindicato dos camelôs, em uma semana consegue 300 mil assinaturas". Ficou visível ao lado de quem Gilmar Mendes estava, dois dias após as indecorosas deliberações do dia 30 na Câmara e o empenho de Renan em aprová-las no Senado horas mais tarde. Irritação!

Logo após a sessão temática, o STF se reuniu para deliberar sobre o pedido de abertura de ação penal contra Renan Calheiros. O MPF apontava evidências de cometimento de dois crimes, mas um deles ganhou o almejado prêmio da prescrição por decurso de prazo, tão desejado quanto frequente. Contudo, para desgosto de três ministros, a acusação de peculato prosperou e o seguimento da ação penal foi aprovado por 8 a 3. Quais três? Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Pois é.

Na sequência da mesma sessão, julgava-se, com seis votos favoráveis e nenhum contrário, a ação movida pela Rede sobre o impedimento de que réu em ação penal possa ocupar cargo na linha sucessória da Presidência da República (situação em que ficara Renan Calheiros pela decisão anterior). Com seis votos favoráveis, a questão já estava resolvida e Renan Calheiros podia começar a esvaziar as gavetas. A menos que...? A menos que Toffoli fizesse o que fez tão logo lhe coube falar, ou seja, pedisse vistas e levasse o processo para engavetá-lo sem prazo para devolver a seus pares. Depreciação!

A nação quer ir para um lado e o STF, em total dissintonia, vai para outro. É a isso que nos conduz um quarto de século de indicações autorrotuladas progressistas. Temos um STF que não conheceu formação de quadrilha no mensalão. Temos um STF onde não há uma única, singular e solitária voz que expresse convicções liberais ou conservadoras. Pode parecer amargo este texto, mas quanto mais complexos os sentimentos e mais difícil a tarefa de expressá-los, mais necessário se torna fazê-lo.


________________________________
* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.




 


Brenda Fernandes Aprigliano -   06/12/2016 17:39:40

Quando se tem um Supremo que não se pode confiar, a ORCRIM fica à vontade para continuar a cometer seus crimes. Não há como continuar a defender a paciência, já extrapolou! O mesmo se aplica ao Congresso. Os ratos no espelho d'água expressaram essa realidade. Já cansamos. BASTA! BASTA! BASTA! BASTA! BASTA!

Gustavo Pereira dos Santos -   05/12/2016 15:34:04

O STF é dose pra mamute. São imexíveis porque o Senado faz parte da mesma quadrilha.

Júlio César Gomes da Silva -   04/12/2016 23:31:33

Caro Puggina. Irretorquível o seu texto. Um abraço

ricardo froner -   04/12/2016 14:35:50

juízes em geral e os do STF em particular, estes no "tôpo-do-tôpo da cadeia alimentar"...são como "'indios menores de idade"...absolutamente inimputáveis..fazem o que bem entendem, interpretam as leis ao bel prazer, posto que mal escritas e, portanto, interpretáveis cfme as conveniências dos crápulas..... afinal...este é o País do "não dá nada"....!!!

Dalton Catunda Rocha -   04/12/2016 13:00:28

A decisão do STF imita a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que na decisão Roe v. Wade legalizou plenamente, o aborto nos Estados Unidos, em 1973. E vendo o site https://en.wikipedia.org/wiki/Abortion_statistics_in_the_United_States , eu percebi que de 1970 a 1984, o número de abortos lá aumentou, cerca de dez mais. Quem vai pagar pelos milhões de abortos a serem feitos aqui, todos os anos? Não será a fundação Ford, o PT ou uma entidade feminista. Quem pagará pelos milhões de abortos todos os anos, será o povo brasileiro. E para quem acha que está mesmo sobrando bilhões de reais do orçamento da saúde, para pagar estes abortos todos, que veja estes sites, para ver como "são abundantes" os recursos para saúde pública: 1- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para o tratamento de drogados: https://www.youtube.com/watch?v=qJIcv97rnWk&t=52s 2- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para tratamento de câncer no SUS: https://www.youtube.com/watch?v=7DLk5Th3agY 3- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para tratar crianças doentes: https://www.youtube.com/watch?v=LyFU5YAirKw 4- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para atendimento emergencial: https://www.youtube.com/watch?v=ZNb4yZd_Sdo 5- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para tratamento de AIDS: https://www.youtube.com/watch?v=gaLsCMwvwH8 6- Veja um exemplo da "absoluta abundância" de recursos da saúde, para conservação de hospitais públicos: https://www.youtube.com/watch?v=OtqUFHY1P_4 Nem preciso falar da absoluta falta de recursos, para eliminar ou sequer combater a dengue, chikungunha, zika, etc. Resumindo. A falta de recursos para a saúde vai piorar, não melhorar. Para quem não liga para a vida de embriões, que pelo menos ligue para o próprio bolso e, para a própria saúde. Dúzias de nações legalizaram o aborto, nas últimas décadas. Em nenhum caso, houve redução de gastos com saúde; ao contrário. Do ponto de vista econômico, legalização do aborto é um desastre. A então União Soviética, que legalizou o aborto já nos seus anos iniciais, bem prova isto. O mesmo nos casos de Cuba, Coreia do Norte, etc. Na Europa, nos últimos 70 anos, enquanto se foram erguendo clínicas de aborto, foram surgindo mesquitas, nos mesmos lugares, na mesma proporção. E o STF diz que são direitos constitucionais da Constituição de 1988, por uma interpretação para lá de distorcida, mas esta mesma constituição de 1988, garante de maneira clara acesso plena à saúde, pleno emprego, excelentes escolas públicas, ausência de corrupção, etc.

susana -   03/12/2016 20:12:44

Foi exatamente isto que aconteceu, Sr. Puggina. Deus precisa iluminar esse STF.

Genaro Faria -   03/12/2016 18:17:12

Mais um artigo antológico, professor Puggina. Um alerta de que está se deslocando à vigésima quinta hora o que seria o ponto de retorno do país à normalidade. Toda essa perturbação institucional, moral, social, política e intelectual desta nação está a caminho da ebulição que um bando de psicopatas, por detrás da máscara de uma ideologia e explorando a compaixão e a culpa que eles absolutamente não sentem, mas manipulam nas pessoas normais - os "outros" que "eles" detestam em segredo para não os despertarem -, chegou ao poder. A natureza perversa e insana desse bando patocrático cujo menor defeito é sua cleptomania pantagruélica, já atingiu todas as instância da vida em sociedade desde a cultura e a religião até a economia e a administração pública. Precisamos gritar Alto Lá! Basta! Deste país o povo é o dono.

Joma Bastos -   03/12/2016 17:45:29

Há que sepultar o foro privilegiado. Os juízes do STF são denominados de "ministros", ou seja, são uma extensão do governo e do senado, e sendo assim, podemos considerar que o STF é um braço muito forte de quem estiver a governar. É aquele braço que passa a mão na cabeça dos políticos indiciados por corrupção ao não julga-los devidamente. É aquele braço que vem reforçar uma (in)disfarçada ditadura, na qual este país está vivendo. O STJ é suficiente como supremo tribunal de justiça, mas deveria ser obrigatoriamente composto unicamente por magistrados de carreira e outros juristas de renome, nomeados por concurso interno proposto por um conselho federal de magistratura e sem qualquer intromissão do poder executivo e legislativo. Tudo aquilo que concerne a tribunais judiciais, tribunais eleitorais, tribunais de trabalho, à aplicação das leis e ao empregar da justiça, tem que ser totalmente autônomo e independente de quaisquer forças políticas, econômicas e sociais. Para tratar de questões relativas à Constituição, há que existir um Supremo Tribunal Constitucional, constituído por profissionais de carreira especialistas na constituição, oriundos de magistrados do STJ, de professores catedráticos e outros juristas de notabilidade. Por fim, haveria que substituir o STF pelo Tribunal Constitucional, ato fundamental para que todos nós possamos instaurar uma verdadeira democracia neste Brasil e entabularmos um verdadeiro desenvolvimento para esta bela Nação. Abração!

Clara -   03/12/2016 16:50:23

Caro Puggina, boa tarde! Depois de um adiamento de análise de inquérito por parte do Ministro Gilmar Mendes, delineei alguma coisa na minha mente, mas, mais uma vez, não gostaria de acreditar em seu posicionamento no caso do Renan! Há uma questão comum e batida em vários concursos, desde que se faça menção aos princípios da Administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o famoso LIMPE: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência. Quando vejo a cena vista e descrita acima por você, vejo a impessoalidade escrita com letra minúscula, quase sem tinta, e isso é (mais) uma vergonha para um dos guardiões da Constituição e um rasgar continuado dessa mesma constituição na qual está dito que todos temos que ser tratados com igualdade pelas leis que nos regem, ainda mais quanto aos princípios inoculados nessa mesma Carta, afinal, são princípios! O que pensa sobre?

Orlando Tambosi -   03/12/2016 16:48:38

Compartilho sua indignação. E, como sempre, tomo a liberdade de compartilhar seu texto em meu blog. Abs.

E. França -   03/12/2016 16:24:30

Parabéns, muita perspicácia P. Puggina ! Belo e verdadeiro artigo! Para um futuro seu comentário, talvez.. O que dizer das manifestações do nobre magistrado Joaquim Barbosa sobre a deposição de Dilma ??

Artus James Lampert Dressler -   03/12/2016 13:58:45

CALHEIROS , PENSO QUE TEU NOME TEM MUITO MAIS A VER COM CALHAS, esgoto, do que o do ONIX com chuveiro; Debochado e nojento continua a salvo porque o TOFFOLI está com as nádegas sobre o fim do tuas tuas prentensões; pedir "vistas". para um processo que a maioria já votou contra é deboche insanável. E NINGUEM O ADVERTE . CADA UM DELES PODE TUDO? Esperar o quê de quem nunca passou num concurso para juiz ser alçado pelo canetaço ao SUPREMO. QUE SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL É ESTE. FALA SÉRIO. O DEBOCHE PRECISA TERMINAR. E O Lewan......, o fatiador da MAGNA digo, o ESTUPRADOR DA CARTA, continua defendê-la ? ESTUPRADOR DEFENDE-LÁ ESTUPRADA POR ELE MESMO. FALA SÉRIO.

MARIO SERGIO -   03/12/2016 13:30:09

Sou de opinião que a reversão da degradação ético moral que marca a atualidade desse país passa necessariamente pelo desfazimento da atual composição do Stf.

MARCO -   03/12/2016 13:07:41

VAMOS ÀS RUAS!!!!