O Brasil ainda não chegou nesse ponto, mas o dirigente político de qualquer país que se aprofunde em tal ideologia fala para um povo que enfrenta escassez de tudo, que sai de uma fila para entrar noutra. São países onde se tabelam preços de produtos que não existem, onde a inflação dispara e de onde, quem pode sair, foge correndo. O discurso oficial, porém, proclama vitórias populares, sucessos indiscerníveis, luminosos dias do porvir e ataca ferozmente inimigos externos que estão se lixando para ele. Assim fazem em Cuba, assim fazia Chávez, assim tem sequência o processo venezuelano com Maduro. Para aí vai, célere, a Argentina. Nunca lhes faltam idiotas defensores do regime, dentro e fora do país, para aplaudir seus discursos.
Em 16 de outubro, o jornalista Clovis Rossi publicou na Folha de São Paulo uma coluna com o título "Aécio assusta Unasul". No texto, o jornalista comenta o pânico que o crescimento das intenções de voto do candidato oposicionista brasileiro estava causando, naquele momento, entre os governantes da região.
Sem conseguir dizer bem o que pensava a respeito ele concluiu o texto afirmando que "com todos os déficits democráticos claramente expostos na Venezuela chavista, o governo Maduro é legítimo. E é do interesse brasileiro que saia da crise, até para poder pagar as dívidas mantidas com as empresas brasileiras". Em síntese, Aécio teria nenhum interesse em aproximação com Bolívia, Venezuela, Cuba, Argentina e Equador, que são os países mais alinhados com o Foro de São Paulo e com a União das Nações Sul-Americanas. E isso seria muito ruim para seus governos.
Desde este meu minúsculo mas vigilante observatório, vejo que Aécio tinha razão: os parceiros de Dilma afundam numa ideologia que é a própria usina da miséria. Quanto maior a crise, maior a dose de autoritarismo e intervencionismo que só serve para ampliar as dificuldades e aumentar aquilo que Clóvis Rossi chamou, eufemisticamente, de "déficit democrático". Definitivamente, a Venezuela se degenera, a Argentina vai no mesmo caminho e ambos começam a ficar, cada vez mais, parecidos com a venerada ilha dos Castro. Enquanto isso, o governo brasileiro tenta, por todos os modos e maus modos, disfarçar seus próprios problemas com estratégias de avestruz. Como em Cuba, o nexo entre o ufanismo oficial e a realidade nacional mostra que o delírio psicótico é o máximo denominador comum dos governos comunistas. No entanto, e aqui está o importante no texto de Rossi relido após o encontro da Unasul, todos os países do così detto "bolivarianismo" espicham para o Brasil olhos esperançosos, como se o tamanho da nossa economia fosse sinônimo de riqueza disponível e socializável.
Infelizmente, é nessa direção que apontam, de fato, os movimentos da política externa petista. Na última reunião da Unasul, Dilma foi recebida e falou como talvez falasse Bill Gates numa reunião com estagiários. Não admira que o real se desvalorize, que as verdinhas abandonem o país, que a inflação fure o teto e o PIB fure o piso.
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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Rey Cintra - 15/12/2014 01:41:18
Espera só até mexer no BNDES, Banco do Brasil e CEF. Petrolão é só a ponta do iceberg. Vai ser como a Grécia. Na hora que abrir o cofre, está vazio. Pode colocar a Margareth Tacher como presidente, que o conserto demorará e doera muito. Mas como é o PT que continua, o buraco vai aumentar mais.: começa com o desemprego, vem a inflação, a desordem social e a miséria. O PT. Conseguiu!!patricia almeida - 15/12/2014 01:23:04
Sem falar no BNDES......Ah.. quando conseguirem investigar.....e o que podemos fazer?André Carvalho - 14/12/2014 17:26:09
Esses países que o senhor referiu não só espicharam os olhos para a nossa riqueza como já estão metendo a mão faz horas, sr. Puggina. Ou o Mercosul, especialmente em nossa relação com a sempre incensada Argentina, não é um grande programa de transferência de renda nacional de um para o outro? Não fosse o trigo que temos que importar dessas criaturas, eles não teriam o que vender para nós que não pudéssemos fazer mais e melhor. Nem vou falar nos pobres coitados que ousaram negociar com a Venezuela e provavelmente levarão calote, e menos ainda no porto de Mariel, em Cuba, feito com dinheiro do BNDES, claro, porque empresa alguma arriscaria o próprio capital sem uma escora dessas para negociar com os picaretas de Havana. E a refinaria expropriada da Petrobras na Bolívia, e o valor da energia de Itaipu com o Paraguai, e vai por aí...Leonardo X - 14/12/2014 00:53:43
Quem se lembra da teoria do dominó? O prezado Puggina não deve ter esquecido que ela foi a pedra fundamental geopolítica que levou os Estados Unidos a lutar no Vietnam nas décadas de 60/70. Caísse o sul daquele pequeno país do sudeste asiático e, fatalmente, toda aquela região estratégica no confronto da tal guerra fria estaria perdida para o inimigo comunista. Pois caiu e não aconteceu nada do que previa a infeliz teoria do dominó. Então a teoria ficou desmoralizada? Nada disso. Seu fantasma ainda assusta, e muito, os imperialistas do antigo "cone sul" daquela época. Daí a histeria que a deposição de um dos mais inexpressivos bolivarianos, Manuel Zelaya, levou nosso país a ensaiar uma intervenção em Honduras durante o governo do senhor Lula, então considerado um estadista pela esquerda daqui e alhures. Ensaio este que ´se repetiu sob o governo da senhora Dilma Rousseff, no Paraguai, com a deposição do bispo bolivariano Fernando Lugo. Nos dois casos, o Itamaraty nos fez passar pelo maior vexame de sua história, mas a imprensa de um modo geral, e as entidades da sociedade civil aparelhada - OAB, ABI etc., acharam legítima essa injustificável e histriônica ação da nossa outrora louvável política externa. Por essas e por outras não podemos estranhar que as eleições realizadas nos países do bloco bolivariano não impliquem uma necessária alternância de poder. Nem que seja preciso "fazer o diabo".Odilon Rocha - 13/12/2014 16:58:23
Prezado Professor Puggina Ontem, eram carros fortes e bancos, incluindo aí, o cofre de um governador (quanta audácia!), vitimando pessoas que simplismente nada tinham a ver com o embate. Hoje, na nossa cara, debaixo do nosso nariz, assaltam Instituições e tudo o mais que possa financiar seus intentos. E parece que com a chegada da ovacionada (por eles!) Unasul, pelo menos assim parece, os 'vampiros' vão avançando em seus propósitos, minando a capacidade de reação das pessoas, praticamente neutralizando-as pelo cansaço. Assim vejo. Não só a Petrobrás, pois querem que assim seja e pareça, os ilícitos são enormes. Há muito trabalho para limpar uma sujeirada nunca dantes vista por essas paragens. Será que isso chegará a bom termo, terá um fim jurídico satisfatório?Luiz Felipe Salomão - 13/12/2014 14:48:14
Caro Professor Puggina, O que dizer a respeito de um (des)governo que, literalmente, assassinou a galinha dos ovos de ouro? A Petrobras, orgulho desta gigantesca nação, foi criminosamente espoliada até o seu último ‘petrodólar’! O lugar dessa gentalha é na justiça, a prestar conta dos seus crimes contra o patrimônio brasileiro! Isto, sem falar da Eletrobrás, cujo escândalo, quando devidamente apurado, não será de menor monta, infelizmente. Meus alunos de auditoria e de controladoria que o digam. Cordiais saudações!