• Percival Puggina
  • 14/06/2016
  • Compartilhe:

SÓ MARCELO ODEBRECHT FEZ MAIS PELO PT DO QUE EDUARDO CUNHA

 

 Marcelo Odebrecht foi insuperável no financiamento e nas cortesias dispensadas ao partido que governou o Brasil de janeiro de 2003 a maio de 2016. Consolidou longa e sólida parceria irrigando contas, tapando buracos, emprestando aeronaves, arrumando negócios, fazendo corretagem de palestras para Lula e pavimentando com pedrinhas de brilhantes o caminho para seu PT passar. Durante mais de dez anos, uma mão lavou a outra.

Mas as impressões digitais ficaram. O homem cuja prisão, nas palavras do próprio pai, acabaria com a República num fim de semana, cravou o facão no toco e resistiu, como poucos, um ano inteiro na humilhante rotina do xilindró. Só então, começou a cantar o verso e o reverso.

Ele é o número 1 entre os benfeitores do PT. O número dois vai para Eduardo Cunha. Sim, leitor, o proclamado inimigo número 1 é, na verdade, o amigo número 2. O PT jura que não, mas é falso. Acompanhe o raciocínio. Ele foi eleito para comandar a Câmara em fevereiro do ano passado e, logo no mês seguinte, desabaram sobre sua mesa cerca de três dezenas de pedidos de impeachment da presidente Dilma. Que fez então, desatento à maledicência que o acusava das piores intenções em relação a esses requerimentos? Nada. O PT falava mal dele e ele cuidava do PT. A nação ia para a rua, pedia impeachment e o Cunha se mantinha impassível. Era como se não fosse com ele. Tanta demora, ao longo dos meses, foi esfriando a motivação nacional, silenciando as redes sociais e, claro, reduzindo o público das manifestações.

A mídia amiga do governo e os militantes assalariados deitavam e rolavam ante a debandada dos coxinhas. Lembram? Obra exclusiva do Cunha, leitores! E assim terminou o verão de 2015. E assim passaram, também, o outono, o inverno e quase toda a primavera. Quanto mais requerimentos pedindo impeachment chegavam, mais Cunha permanecia imperturbável, dando inutilmente ao PT o ano inteiro para livrar a pele, escusar-se ante Nação, adotar medidas para superar a crise, reconstruir credibilidade e o que mais a astúcia e a malícia pudessem conceber.

Quando se sentiu perdido, abandonado pelo oposição que lhe negou apoio na Comissão de Ética e, por fim, pelo próprio PT, Cunha mergulhou na pilha dos pedidos de impeachment para escolher um. Esse mergulho ainda precisa ser bem contado. Havia dezenas de processos fundamentados, listando os crimes praticados pela presidente e pelo governo sob seu comando. Havia a penca de denúncias da Lava Jato, a negociata da refinaria de Pasadena, as irregularidades na arrecadação de recursos de campanha, a falsidade ideológica na ocultação da realidade nacional durante a disputa eleitoral de 2014. Dentre tantos, qual o requerimento escolhido por Cunha? Pois é. Cunha escolheu o das pedaladas fiscais, crime real, grave, mas politicamente estéril, ruim de explicar, incompreensível ao povão. Por fim, pego com a boca na botija, apresentou a si mesmo para o papel de inimigo, sem o qual o PT não sabe fazer política. Amigo é para essas coisas.

________________________________
* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 


Genaro Faria -   16/06/2016 06:58:17

Caro Puggina, comento o artigo da sessão Fique Sabendo. Economistas recolhem dados levantados por pesquisam sobre diversos índices que eles interpretam para projetar o que eles refletiriam numa escala linear. Projeções estas que, em seu conjuntam, costumam convergir numa interseção aceita pelo mercado como a mais provável. É como uma bússola que apontaria o norte para os investidores. Mas a economia é umbilicalmente ligada à política. Que os economistas não cogitam para fazer suas projeções. Quem o faz são investidores, vale dizer, quem opera o mercado financeiro e os negócios, num mundo onde a competição não se compadece dos que se impressionam com os números fornecidos pelos economistas. Porque esses números não discernem crise de oportunidade. E esse discernimento está na raiz do sucesso dos negócios. O Brasil fracassou economicamente em função de uma política que nada teve de incompetente para produzir esse resultado. O que falhou em sua intenção deliberada foi que o nosso colapso econômico não ocorreu antes que o seu projeto político se realizasse. Que as instituições do Estado não estivessem totalmente aparelhadas pelo partido que pretendia a hegemonia do poder. Esse projeto sinistro, no entanto, saiu da agenda política. O que implica um novo descortino de nossa economia. Que ainda patina num lodaçal porque nós temos um presidente interino que conduz o barco de nossa crise institucional num nevoeiro onde os fantasmas de um governo insepulto ameaçam com seus vultos quem se assombra com pouca coisa. Mas nós sabemos, meu caríssimo Puggina, que não existe retorno. A desilusão ainda não se converteu em esperança, é certo. Mas a ilusão ficou no ontem. Amanhã será outro dia.

Gelson G. Da Costa -   15/06/2016 15:59:57

Querido Percival. Bingo, na mosca. O Cunha, como se sabe, não é trigo, como se diz por aqui. Todavia, precisávamos dele. Não sei se ainda não precisamos. Como dizia um amigo , às vezes temos que manter o inimigo por perto. Como disse o RJEFERSON, este "é o meu bandido preferido". Porque ele sabe jogar o jogo pesado da bandidagem do outro lado. Só ele sabe, tem coragem e cara impenetrável ao óleo de peroba. O time contrário bate a rôdo, sem escrupulo e de forma deslavada e mentirosa. Não dá para escalar o FHC para fazer embaixada e lançamento de 50 m e visando o overlapping ( lembra?), o ponto futuro. O ponto futuro, nosso, é amanhã . Forte abraço.

Ricardo Moriya Soares -   15/06/2016 12:23:49

Caro Puggina, algo fica martelando na minha cabeça.... pense bem: sem o juiz Sérgio Moro e a Operação Lava Jato, nada disso teria acontecido, e pior, Dilma continuaria destruindo o país, Lula reassumiria a presidência em 2018, o que restasse da independência do judiciário seria devidamente soterrada, e até mesmo as polícias militares e as forças armadas já estariam em franco processo de avermelhamento. A nossa mídia (jornais, televisões e blogs militantes milionários) continuaria a apoiar a derrocada da nação, elevando a mulher-sapiens ao patamar de quase santa, guerreira do povo, que enfrenta bravamente uma grave recessão causada por forças externas nocivas ao bem coletivo - e ao mesmo tempo que é auxiliada pelo ungido de Garanhuns, o profeta Molusco da Silva. Não, não foi a quebradeira econômica (a atual depressão que atravessamos) que levou ao afastamento do Foro de São Paulo da Presidência da República. Não foram as manifestações corajosas de milhões de seres humanos honestos e trabalhadores - embora elas tenham cumprido seu papel de despertar o típico acomodado, forçado à grande mídia a dar algum destaque, e ter assustado a nossa ridícula oposição, ao ponto de fazê-la mais eficiente. Acima de tudo, foi a Operação Lava Jato que quebrou o Foro de São Paulo; o descontentamento da maioria da população somado à pior depressão econômica da história complementaram com chave de ouro o início do fim da dominação esquerdopata no Brasil. PS. Cá entre nós, o 7 x 1 ajudou e muito, ao menos psicologicamente... imagine se a seleção tivesse ganho a copa?

Genaro Faria -   14/06/2016 16:56:31

Argumento irrespondível, caríssimo Puggina. O PT, sem esses amigos do bolso alheio, teria sido um partido nanico, mais um, mas o mais aborrecido. Só desses que só sabem fazer inimigos, sua razão de viver. Está passando da hora dele voltar para a caixinha, o cofrinho dos sindicatos companheiros.

Rossini -   14/06/2016 16:42:44

Puggina tem razão! Nada mais que a verdade!