Percival Puggina
De súbito, percebo que Sérgio Moro deixou de ser assunto para mim. Há tempos não vejo motivos para escrever sobre ele. Por excesso de contradições, perdeu relevância. E se ainda chama alguma atenção, é pelo resíduo de notoriedade que lhe restou dos tempos de juiz. Certamente ninguém sente saudades dele como ministro da Justiça ou como liderança política, nem admira seu desempenho como senador.
Sei, porém, que devo à Lava Jato alguns dos melhores momentos de minha vida como cidadão. Quando ela se tornou pública, a nação vinha sendo atacada por males que a agrediam de modo articulado e simultâneo. Corrupção, esquerdismo, Foro de São Paulo, corporativismo, patrimonialismo, falta de patriotismo, burrice crônica, estatismo e instituições políticas mal concebidas eram os agressores internos; guerra cultural, degradação moral e globalismo, os agressores importados. A Lava Jato serviu ao combate de alguns desses males porque o combate exitoso à corrupção criou motivação política para propagação dos ideários conservador e liberal.
Não tenho como não agradecer a Sérgio Moro seu trabalho como juiz. Suas atividades no campo da política, no entanto, só serviram para que ele, com total inaptidão e inabilidade, fosse o melhor colaborador de seus inimigos. Fez do próprio sucesso uma sucessão de fracassos. Como ministro, foi um obstáculo às políticas pretendidas por Bolsonaro e vitoriosas na campanha eleitoral de 2018 sobre armas e segurança pública. Saiu do governo atacando o presidente e sonhando com o Palácio do Planalto.
Se havia um projeto político encalhado, morto e sepultado no período anterior ao pleito de 2022 era o dele como terceira via! Numa eleição polarizada entre Bolsonaro e Lula (ou alguém pelo PT) terceiros nomes só se poderiam viabilizar para chegar ao segundo turno se subtraíssem muitos votos (mas muitos mesmo!) dos dois que representavam o antagonismo real existente no país. E Sérgio Moro, como juiz, havia desagradado profundamente a esquerda; como ministro, rompera com a direita. Onde poderia ele buscar eleitores para desbancar os dois candidatos que já entravam no pleito tendo, cada um, mais de 50 milhões de votos garantidos? Terceira via em 2022 era uma verdadeira maluquice de quem desconhecia política ou não se levava a sério, ou não sabia fazer contas. Nove candidatos concorreram com essa pretensão e a soma dos votos de todos não chegou a 10 milhões.
Não vou analisar os fatos recentes porque os considero irrelevantes. Valioso, isto sim, é convidá-lo, leitor, a pensar sobre a política como expressão do amor ao próximo que requer aprendizado e se expressa no espírito de serviço. E, por outro lado, o quanto é lesiva aos bons propósitos dos eleitores a confusão entre notoriedade e competência. Não faz diferença se a pessoa famosa é astronauta ou goleador, juiz ou pastor.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Decio A. Damin - 18/12/2023 18:48:34
Os resultados da Lava Jato foram os mais expressivos da Justiça brasileira, e nós encheram de esperança naqueles momentos...! Todos sabemos que os crimes existiram...! Não desapareceram porque o foro não era adequado...! Não se evaporação pela prescrição, como se nunca tivessem existido...! Não havia como ser absolutamente imparciais, ante a obviedade dos fatos, como as confissões e a devolução dos bens mal havidos...! Para mim, a ingenuidade de Moro foi, até certo ponto, responsável pelo sucesso da operação. Lamento que isso possa ser esquecido, e ele condenado agora pelo que eu chamo de "eles" e que se utilizam de "nos"...!!Heymann Antonio Ribeiro Leite - 18/12/2023 11:59:38
Moro machou e destruiu o seu "currículo" que disse querer proteger no seu bilhete à Sra Deputada Federal...João Eichbaum - 18/12/2023 10:05:27
Moro não estava preparado para o sucesso. Graças a esse sucesso ele engendrou uma sentença jurídicamente vulnerável contra o Lula. Se absolvesse o Lula, teria caído do pedestal. Como caíu, sem jogo de cintura para a política.Sérgio Delgado - 18/12/2023 09:53:39
Percival parabéns. Mais um belo comentário. 👏Afonso Pires Faria - 18/12/2023 09:29:39
Quando de sua saída do governo, Moro foi enaltecido em editorial, pelo jornal "Gazeta do Povo" e consequentemente feita uma crítica ao PR. Como assinante, pedi assim que se esclareceram os fatos, a retratação daquele periódico. Não se retrataram e não me responderam. Até hoje tento contato com eles e NADA.Eloy Severo - 18/12/2023 08:39:22
Tb p/mim, uma grade decepção.Menelau Santos - 17/12/2023 22:05:32
Prezado Professor, sempre é um prazer ler seus textos e suas ponderações. Tive a oportunidade de assistir pela Netflix uma série magistral, a Resurrection - Ertugrul, que conta a saga do Grande Guerreiro Otomano. Uma das grandes lições da série (baseada na história real da Turquia) é que todos os traidores se ferraram. É preferível lembrar sempre do legado e do esforço do magistrado Moro na Lava-Jato do que sua infeliz trajetória posterior. Aproveito para encerrar meu comentário para desejar do Professor Puggina um FELIZ ANIVERSÁRIO, meus votos de um Feliz e abençoado Natal para toda sua família e um próspero ano novo! Grande abraço!