• Percival Puggina
  • 24/11/2016
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SENHORES DO MUNDO

 

 No tempo em que éramos senhores do mundo, ouvíamos The Plattters, bebíamos cuba-libre e as moças se chamavam Maria. Havia Marias de toda parte, assim como havia Maria antes e depois de todos os nomes. Umas eram inexpugnáveis como as Marias dos Anjos, cujo nome recendia a vela acesa e eram sempre piedosas em seus vestidos imaculadamente brancos. Outras, como as Marias do Socorro, acenavam com atenções imprecisas e inquietantes.

 Passaram-se os anos e Maria virou nome de senhora. As mocinhas, como pude ver numa última formatura a que compareci, não se chamam mais Maria e o mundo perde com isso: têm nome que não há como saber de cor, estudam análise de sistema, cálculo infinitesimal, engenharia florestal e nunca, nunca, foram normalistas. Jamais vestiram uma camisa de listas, com tope azul e vermelho; não costuram, não bordam, não cozinham. Não lêem Machado de Assis, e não sabem o que perdem.

 Era um tempo em que os namorados andavam de mãos entrelaçadas e os casais – apenas eles – de braços dados. E assim iam todos, aos clubes e cinemas, cada qual ostentando sua condição pela forma como conduziam as Marias. Hoje elas andam de todo modo (e de maus modos); e não sabem o que perdem.

 Ah, como eram brancas as Marias daquele tempo! Cultivadas à sombra, expendiam as manhãs de sol nas varandas, ciosas de suas peles leitosas. Agora, ainda não terminaram as geadas e as moças já surgem queimadas, quase grelhadas. Se desvestem por gosto e têm jeito de tira-gosto.

 Não há McDonald’s no mundo inteiro que faça um sanduíche como o sanduíche de pernil do Matheus (cuja fartura era um subsídio generoso do estabelecimento às pacíficas madrugadas da Capital), porto seguro dos senhores do mundo, extenuados por suas Marias, após as reuniões dançantes da Faculdade de Arquitetura e os inesquecíveis bailes da Reitoria. A vida – puxa vida! – jamais foi a mesma sem os bailes da Reitoria, de bons hábitos e maus costumes: a virtude dançava na periferia da pista, enquanto a volúpia se comprimia em sincrônicos movimentos no centro do salão.

 Não, leitor amigo, isto não é nostalgia. É saudade mesmo: saudade orgulhosa de ter sido senhor do mundo, em tempos que não voltam mais. Quem os perdeu, perdeu.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


 


Leonardo Melanino -   27/11/2016 22:12:14

Dois mil e dezesseis, o ano presente, está terminando. Vinte e sete dias e poucas horas faltam para o Natal e 34 dias e poucas horas para o Basílio do ano posterior. Nós entramos no Advento, um período de 28 dias que antecedem o Natal, que vai de 27 de novembro a 24 de dezembro. Já a Epifania é um período de 28 dias que vai de 8 de janeiro a 4 de fevereiro. O Natal deste ano cairá num domingo e o Basílio do posterior também. O do posterior cairá numa segunda-feira e o de 2018 também. E assim vai. O Silvestre (31 de dezembro) é um dia em que ocorre a CISS (Corrida Internacional de São Silvestre). Ela ocorrerá no Silvestre do ano presente, que cairá num sábado.

Dulce Toledo -   26/11/2016 14:06:50

Ah, meu amigo querido, hoje em dia todas ostentam um "elle" no nome: Tatielle, Anielle, Emanuelle para serem francesas. A França é que é bom, aqui não. Maria já não existe e as que existem, vão com as outras, certamente! E nenhuma delas é recatada e do lar, ao contrário, atiradas e algumas do bar! Mas, firulas à parte, há quem ainda respeite o respeito e ame a disciplina. Estes tempos, como você bem apontou, não voltam mais. Eram tempos de inocência e ingenuidade, se compararmos aos de hoje. Será que cada tempo tem sua moral, verdadeiramente? Um abraço.

Artus James Lampert Dressler -   25/11/2016 12:26:50

Afora as reminiscências lembro que a CONFEITARIA MATHEUS erá em frente a PRAÇA DA ALFANDEGA, entre CINEMA REX e o IMPERIAL que era contíguo com o CINEMA RIO; que para colocar uma carta no correio tinha de ser , somente, na frente do CINEMA IMPERIAL, do outro lado da PRAÇA ; que a saída da primeira sessão de todos os cinemas da Rua da Praia, aos sábados e domingo de noite, era um desfile dos pais com suas belas filhas; que tinha uma loja de sapatos que se chamava o "PEDESTAL" (por isso que as mulheres tem tantos sapatos pois gostam de variar de pedestais, pois posam, com cada um dele, como uma rainha diferente; das noites endiabradas de calor depois de ter tomado todas. sem álcool e drogas, a saída era sorver COPOS DE HIDROLITOL (um tipo de soro caseiro) vendido numa portinha embaixo do Bilhar que funcionava em frente a LOJA XANGRILÁ - tecidos (LADEIRA ESQUINA RUA DA PRAIA). no tempo em que comprar um "ETERNAMATIC" CASA MASSON era status; quando as gurias, arrumadinhas como nunca dantes entravam e saiam do INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, comportadas , insinuantes, limpas e bonitas, ainda que todas iguais pelo uniforme impecável; quando o s bondes circulavam já chorando os algozes que os exterminariam; quando em 1953 "incendiou o majestoso COLEGIO JULIO DE CASTILHOS (

Carlos Edison Fernandes Domingues -   25/11/2016 00:35:58

PUGGINA O que escreveste relata um passado , tão bem vivido, que me conserva um namoro, com 53 anos de casado e 80 de idade. Muito agradecido. Carlos Edison Domingues