Percival Puggina
“Somos gratos ao Washington Post, ao New York Times, à Time Magazine e a outras grandes publicações cujos diretores participaram de nossas reuniões e respeitaram suas promessas de discrição por quase quarenta anos. Seria impossível desenvolvermos nosso plano para o mundo, se tivéssemos sido expostos à luz da publicidade durante esses anos”. David Rockfeller, na reunião do Bilderberg Group em 1991.
Ao ler essas frases me vem à lembrança o discurso de Lula no ato de celebração dos 15 anos do Foro de São Paulo quando se referiu a ele como um espaço onde podiam “conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política”. Não, conspiração não é necessariamente teoria descartável.
Os impérios são expansionistas. Todos os movidos a ambição e poder também o são. Por isso, muitos descrentes da Criação, têm um projeto pessoal para recriar a sociedade humana noutros padrões. Forma sagaz de exercer domínio! Em suas manifestações atuais, requerem e propõem novos engenhos e artes tanto para a guerra (que é a política em sua expressão hard) quanto para a política (que é a guerra em sua expressão soft) como talvez dissesse hoje Clausewitz se integrasse a geração dos millenials.
A experiência com o coronavírus serve ao caso. Ele universalizou o medo, mudou as rotinas dos povos, sustou as atividades produtivas, derrubou a economia mundial, estabeleceu novos protocolos de conduta civilizada, desacreditou a OMS, fez crescer enormemente o poder estatal sobre os cidadãos e restabeleceu a fé naquela “segurança que só o Estado pode lhe dar”. Em proporções que antes seriam inaceitáveis, cada homem, mulher e criança contemporânea percebe sua sujeição a imposições e a restrições de liberdade, com vistas à segurança coletiva. O vírus proporcionou um treino para a submissão aos rigores da burocracia. Levantamento recente revelou a edição, nesse específico tema, no Brasil, de 9455 leis e decretos municipais e 545 normas estaduais restringindo a liberdade dos cidadãos.
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A história mostra uma lenta agregação, expansão e ampliação das formas de poder. Entre o caos que sucedeu à queda do Império Romano (476 d.C.) e o estágio atual do chamado globalismo medeiam 16 séculos, despendidos para irmos dos burgos fortificados aos atuais organismos internacionais e transnacionais. No século passado, grandes empresas, após um formidável acúmulo de capital, começaram a criar fundações dedicadas a uma seleção de objetivos de larga escala para uma nova humanidade. Entre esses objetivos se inclui o financiamento de ações e projetos voltados ao aborto, práticas antinatalistas, ambientalismo, laicismo, aquecimento global, feminismo, questões de gênero, diversidade e multiculturalismo. Enquanto preparam o terreno para uma futura governança mundial, grandes fundações subsidiam, em todo o Ocidente, boa parte da publicidade e do discurso dito “progressista”. Muitos acontecimentos nacionais e internacionais dos últimos anos devem ser atribuídos ao poder outorgado por essas fontes de financiamento.
Fazer tábua rasa da cultura do Ocidente é a 1ª página do breviário globalista, cujo “plano para o mundo” precisa destruir fundamentos que procedam da filosofia grega, do direito romano e da tradição religiosa judaico-cristã.
Fingir que não vê, ou supor que orquestradas ações políticas mundiais como as mencionadas anteriormente, que invadem e saturam a mídia e os espaços de opinião, sejam apenas reflexos de um democrático livre pensar diferente, constitui terrível imprudência. Pergunto: como, num estalo de dedos, multidões enchem as ruas no mundo todo portando cartazes que são meras traduções dos que por aqui se leem? Ou vice-versa? Como explicar que os antifas exsurjam entre nós como movimento “pró-democracia”, sendo que historicamente abrigaram anarquistas, socialistas e comunistas? Sendo que, tanto quanto qualquer grupo de esquerda, chama fascistas e assume como adversários todos os defensores do livre mercado e da cultura do Ocidente?
Ao fim e ao cabo, numa perspectiva das ações concretas, estamos assistindo a intolerância de um modo contemplativo. Valores que são caros ao Ocidente estão sendo minados em nome de uma diversidade que faz exatamente o oposto dela, acentuando contornos, afirmando incompatibilidades e promovendo conflitos.
O fenômeno do globalismo, que internacionaliza essas pautas enquanto um jornalismo militante as aplaude e promove, não se confunde com a globalização, ou seja, com a integração econômica, social, cultural e a articulação política entre nações. É um sistema sutil de transferência de poder, um meio pelo qual a penthouse da elite mundial furta o poder político das nações transferindo-o para organismos tecnoburocráticos que lhes sejam próximos. Teremos, então, democracia para o que não importa e tecnoburocracia para tudo mais.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Menelau Santos - 04/08/2023 20:51:49
Maravilhoso, Professor. Como dizia a letra do poeta Taiguara, "gente amarga mergulhada no passado, procurando repartir seu mundo errado".roberto lima de almeida neves - 04/08/2023 19:19:05
Como sempre excelente artigo, Parabéns pela lucidez e coragemJosé Luiz de Sanctis - 04/08/2023 12:02:32
Meus cumprimentos pelos excelentes e oportunos artigos. Não comento todos, mas os leio e divulgo. Grande abraço.ALUIZIO MALHEIROS - 04/08/2023 11:30:05
Bom dia Sr. Puggina: Quanto à presença nas ruas do mundo de multidões quase que em ações simultâneas creio que deve-se aos meios tecnológicos postos à disposição da grande massa em todo globo. EM GERAL O AVANÇO TÉCNICO NO CAMPO DAS INFORMAÇÕES E MOBILIDADE PERMITIU ISSO. Também uma transposição DA da ideia ou conceito de DEMOCRACIA GREGA PARA O OCIDENTE MODERNO FOI BASTANTE MANIPULADO, POIS NA GRÉCIA DE PLATÃO, ARISTÓTELES, PÉRICLES, O TERMO DEMOCRACIA NO CONTEXTO GREGO ANTIGO TEM UM SIGNIFICADO MUITO ESPECÍFICO E DIFERENTE DO QUADRO ATUAL DO MUNDO EM QUE VIVEMOS. É PRECISO UM ESTUDO URGENTE SOBRE REPRESENTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA MUITO ESCAMOTEADO NESTE PERÍODO HISTÓRICO. USA-SE INSISTENTEMENTE O TERMO DEMOCRACIA REPRESENTATIVA E OS POLÍTICOS TODOS SE AUTO CONVENCEM DISTO, MAS PURA ILUSÃO POIS NA HORA DE PRESTAÇÃO DE CONTAS PRESTAM-NAS AOS SEUS RESPECTIVOS PARTIDOS E POR ISTO A DEMOCRACIA REPRESENTATIVA SE TRANSFORMOU NESSA FRÁGIL "DEMOCRACIA PARTICIPATIVA."PAULO ROBERTO DE LIMA - 04/08/2023 08:45:26
Exelente análise da manipulação política hoje existente de grupos poderosos e sedentos de poder a qualquer custo.FERNANDO A O PRIETO - 04/08/2023 05:42:18
Òtimo texto. Parabéns. Em nosso tempo de decadência, de mera repetição de chavões por mentes que passaram por lavagem cerebral, é bom ler algo tão lúcido! Deus o conserve!Lígia Bach Costa - 03/08/2023 15:41:55
Parabéns pela análise lúcida e oportuna acerca da realidade dos brasileiros. Muito grata.