• Percival Puggina
  • 15/11/2016
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RESPONSABILIDADE FISCAL E O MEU QUEIJO

 

 Nunca vi tanta gente preocupada com o aspecto macilento e emagrecido do caixa do governo. Reduzido a pele e osso. Em junho de 2014 já estava em milhões de telas de computadores, mundo afora, o alerta que uma analista do Santander fez a seus clientes investidores, antevendo o que iria acontecer com a economia nacional. Não era bola de cristal, mas trabalho sério de quem acha que não se deve brincar com dinheiro alheio. Bola de cristal, bem fajuta e perdulária, era a usada por Dilma, pelos técnicos do governo e por Lula, que assim comentou a circular enviada pela funcionária do banco: "Não entende p.... nenhuma de Brasil" e sugeriu: "Pode mandar embora e dar o bônus dela pra mim, que eu sei como é que eu falo".

 A analista foi imediatamente demitida. O cartão vermelho do governo demoraria ainda dois anos para lhe ser exibido. Também no Brasil, e há bom tempo, técnicos sensatos, comentaristas esclarecidos, economistas experientes como os membros do grupo Pensar+ do qual participo, alertavam sobre as consequências da irresponsabilidade fiscal. A gastança criminosa promovida pelos sucessivos governos petistas nos conduzia ao inevitável estouro das contas públicas. A história registrará, entre os grandes infortúnios de nossa vida administrativa, a infeliz coincidência de termos vivido o ciclo mais favorável da economia mundial em muitas décadas sob gestão simultânea de uma organização criminosa e do mais destrambelhado dentre todos os nossos governos. Os tempos pródigos ampliaram largamente a voracidade e perpetuaram os danos causados nesse prolongado ataque por dois flancos. Agora são tempos de zelo com as contas públicas. Como é insensível o coração do caixa!

 No entanto, esse necessário zelo não vem acompanhado do devido desprendimento. Parece tratar-se de algo que se exige "dos outros" para que as situações particulares permaneçam inalteradas. Todos querem responsabilidade fiscal para que a situação melhore e ninguém mexa no seu queijo (como no bom livro de Spencer Johnson). Imagino essa preocupação povoando, nestes dias, muitas reflexões sobre a situação do país. Deve pensar assim o ministro, viajando em jatinho da FAB. Também o deputado, cujo queijo se chama emenda parlamentar ou verba de gabinete. Não há de querer diferente o beneficiado pelo queijo da isenção fiscal ou do juro privilegiado. São perfumados os queijos especiais havidos por cargo ou função, por vaga nos superpovoados gabinetes políticos e por aposentadorias precoces. Há tantos queijos em busca de proteção! Eles se chamam, ainda, cartão corporativo e bolsa-empresário. E se chamam mordomias, têm carro oficial, motorista, garçom, copeiro e segurança. Imagino a multidão de seus usufrutuários a sonhar com um Brasil onde a austeridade geral permita que nada mude.

 O exercício dos poderes de Estado não pode ocorrer na ausência do mais elementar senso de justiça. O Brasil precisa que seus cidadãos submetam às suas próprias consciências uma PEC das boas condutas e dos bons exemplos. Quando o avião sacode, balança inteiro, da primeira classe ao porão de carga.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


Paulo Onofre -   18/11/2016 19:06:39

Senhor Puggina, Eu acredito em karma, eu acredito que "aqui se faz, aqui se paga". O presidente do Santander, que demitiu injustamente a analista, morreu pouco tempo depois de seguir a ordem do larápio.

Odilon Rocha -   17/11/2016 15:31:12

" É preciso passar o Brasil a limpo ". A célebre frase do jornalista Boris Casoy tornou-se um mantra. Mas não passou disso. Sim, porque a vergonha que ele tão bem evocava em frase taxativa ("é uma vergonha!"), também conhecida, já havia sumido do dicionário brasileiro. Eis que surge a Lava Jato, um tiro de canhão na "moral" dos corruptos e corruptores, e aí a coisa começa a feder, e,...o cheiro, insuportável, parece não estar diminuindo. E aí, como de hábito, muita correria, alvoroço e conchavos para tampar a latrina. A do Palácio do Planalto igualmente. Tem-se a impressão de que o feudo do Congresso está cercado, pois o povo não aguenta mais tamanha cafajestagem dos podres poderes. O caso de Minas Gerais, do Pimentel, é para lá de indecoroso e abjeto. Lembram? Não há mais vergonha. As tratativas de se esvaziar a Operação de Curitiba, a questão do caixa dois sem crime, acordos de leniência lenientes e o do foro privilegiado, são algumas dentre tantas situações que beiram o nauseante momento por que passa o coitado Brasil. Suas excelências ultrapassaram, e vem ultrapassando, todos os limites do suportável. Quem sabe um dia consolidemos o nosso poder. O poder de quem concedeu poder aos legisladores para conduzir o país do jeito que queremos. Não como eles querem!

Genaro Faria -   17/11/2016 10:14:57

FUNCIONÁRIA DA SECRETARIA DE SEGURANÇA DO DF LIDERA INVASÃO NA UNB - Que tal o governador socialista do DF ir em frente e nomear Marcola e Fernandinho Beira-mar para comandarem as pastas da Justiça e da Segurança Pública?

Genaro Faria -   16/11/2016 12:11:29

Os governos do PT, suposto partido político, não foram de jeito nenhum atabalhoados ou irresponsáveis com nossas finanças públicas. Ao contrário, Lula e Dilma cumpriram a cartilha do Foro de São Paulo, edição latino-americana do globalismo, com irrepreensível fidelidade e exação. Se não destruíram o país como Chávez e Maduro fizeram com sua Venezuela porque lhes competia financiar vasta gama de ditadores amigos na América Latina e além, em África, na construção de uma zona socialista sob a supervisão e a coordenação de Havana. Essa conspiração internacional, mais evidente que o sol a abrasar as areias do Atacama, só não foi vista - e continua oculta - pela grande mídia e seus jornalistas de araque. O povo demorou mas finalmente já entendeu a trapaça. E toma as devidas providências. Fora, comunistas!