• Alexandre Garcia
  • 13/03/2009
  • Compartilhe:

REESCREVER A HIST?IA - Di?o de Mar?a

No ?mo fim de semana, eu lia Desvios do Poder, do ex-Consultor da Rep?ca Galba Veloso, para entender a legalidade da reuni?com os prefeitos em Bras?a, e descobri, no livro, uma lei sobre abusos de poder. A lei 4898 trata com severidade a autoridade civil ou militar que praticar abuso de poder. A lei diz que todo cidad?tem o direito de agir penal e civilmente contra a autoridade, civil ou militar, que abusar do poder atentando contra a liberdade de locomo? do indiv?o, a inviolabilidade do domic?o, o sigilo da correspond?ia, o direito de uni? a incolumidade f?ca, priva? de liberdade, como manter algu?sob cust? ou submet?o a vexame, n?comunicar pris?ao juiz, prender mesmo com possibilidade de fian?– e por a?ai. Agora, a minha surpresa: sabem de quando ? lei? De 9 de dezembro de 1965. Em pleno regime militar, sob a chefia do marechal-presidente Castello Branco. Lembrei-me de registrar isso porque no dia 17 ?mo, a insuspeita Folha de S.Paulo, em editorial, chamou de ditabranda aquela ?ca brasileira, em contraposi? com ditaduras como de Fidel Castro e a disfar?a de Hugo Chavez. Houve gente que ficou furiosa com a Folha, por causa do editorial. “Que inf?a ?ssa de chamar os anos terr?is da repress?de ditabranda?” – perguntou uma professora da Faculdade de Educa? da USP, segundo a Veja. Minha neta me fez a mesma pergunta, porque o professor dela contou que foram anos de chumbo, que ningu?tinha liberdade. Desconfiei que o professor nem havia nascido em 1964 e ela me confirmou isso. Eu vivi aqueles tempos. Fui presidente de Centro Acad?co em 1969. Fui jornalista do Jornal do Brasil de 1971 a 1979. Cobria pol?ca e economia e nunca recebi qualquer tipo de amea? censura ou press? Sei que havia censura. Comigo, nunca houve. Sei que havia tortura. Certa vez me chamaram para identifica? no DOPS, de suspeitos presos por um assalto ao Banco do Brasil, que eu havia testemunhado. Os dois estavam no ch? gemendo, com sinais evidentes de tortura. Fiquei revoltado e n?fiz o reconhecimento. Nada me aconteceu. Nesse ?mo carnaval, contou-se que o governador do Rio preparou uma claque para afastar o temor de vaia para o presidente Lula – que no Rio j?avia sido vaiado na abertura do Pan, no Maracan?O temor existia, mesmo com o alto ?ice do presidente nas pesquisas de popularidade. Lembro que o general M?ci foi o mais duro entre os generais-presidentes. Mas ele entrava no Maracan?de radinho no ouvido e cigarro no canto da boca, e quando aparecia na tribuna o est?o inteiro o aplaudia. E ele estava reprimindo os grupos armados de esquerda que sequestravam e assaltavam bancos. Os carros dos brasileiros andavam com um pl?ico verde-e-amarelo que dizia “Brasil – ame-o ou deixe-o”. Algu?explica isso? Os generais-presidentes foram todos eleitos pelo Congresso, onde havia oposi?. O ?mo deles, ao contr?o de Fidel e Chavez que negam suas ditaduras, assumiu fazendo uma promessa: “Eu juro que vou fazer deste pa?uma democracia”. Coisa rara, um suposto ditador reconhecer que n?governava numa democracia. Por tudo isso, j?st?m tempo de se esquecer a propaganda, os rancores, as mentiras, e reescrever nossa Hist? recente. Hist? sem verdade n??i?ia, ?ndec?ia.