• Percival Puggina
  • 18/12/2022
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Randolfe e Moraes, feitos um para o outro

 

Percival Puggina      

        O inevitável senador pelo Amapá postulou e o intemperante ministro do STF por Michel Temer concedeu ordem para desmontar à força o acampamento a frente do Comando Militar em Brasília. “Ordem dada, missão cumprida”. É assim que no Brasil destes anos imoderados se faz política no Brasil. Sem modos e sem povo.

“Deus cria, o diabo espalha e eles por si se juntam”, constata o ditado popular. A História está cheia desses exemplos, como os de Mao Zedong e Zhou Enlai, Hitler e Goebbels. Às vezes se juntam e se separam como os três monstros da Revolução Francesa – Robespierre, Danton e Marat – ou Lênin e Trotsky.

Aqui no Brasil temos o recente caso da dupla Alexandre de Moraes e Randolfe Rodrigues. Um ministro do Supremo e um senador pelo Amapá que se tornou famoso em virtude do ritmo alucinante que, sozinho, consegue imprimir aos tribunais superiores da República. Ele é o cara que faz girar a roleta. E ganha sempre.  Moraes e Ranolfe parecem almas gêmeas, nascidas uma para a outra.

O senador alegou que o acampamento estava tumultuando a vida da capital do país e era necessário “puni-los exemplarmente”. É óbvio que os acontecimentos posteriores à prisão do cacique têm que ser investigados e as autores identificados e submetidos à lei. Se a investigação for feita como deve, certamente evidenciará que houve infiltração. Seja porque a conduta dos malfeitores é totalmente atípica em relação aos manifestantes acampados, seja porque, ao contrário, do que pensam o senador e o ministro, ela caracteriza um tipo bem conhecido de militância.

A Vice-Procuradora- Geral da República, Lindôra Araújo, em contestação à decisão, escreveu:

"O Ministério Público Federal requer, em caráter de urgência, o exercício do juízo de retratação pelo eminente Ministro Relator, reconsiderando-se a decisão agravada, com a consequente negativa de seguimento ao pedido incidental formulado por agente político e o desentranhamento dos autos deste inquérito, com arquivamento das petições, sob os fundamentos de falta de legitimidade ad causam, ausência de conexão, violação do sistema acusatório e ocorrência de “bis in idem", Lindôra Araújo, vice-procuradora-geral da República.

A Vice-Procuradora afirma uma verdade que a dupla não se empenhou em buscar. A Justiça não pode funcionar desse jeito, na base do “ordem dada, missão cumprida” (“falta de legitimidade”), violando constantemente o sistema acusatório da competência da PGR, nem agir onde já existe inquérito funcionando “(bis in idem”).

Mas o Brasil está assim. O povo não gostou do modo como é tratado? Vá para casa e faça cara feia onde ninguém veja. Tal qual em Cuba, que conheço melhor do que o Lula (onde falei e falo com quem ele jamais falou) e certamente como na Venezuela e Nicarágua, que o Lula conhece melhor do que eu (mas na campanha eleitoral não se podia dizer).

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


Lori Weiss -   21/12/2022 10:43:47

Dupla musical:Danilo e Danojo!

MARIA THOMPSON ALVAREZ DE CARVALHO -   21/12/2022 10:15:34

Inacreditável a inversão da ordem de valores morais e o descrédito dado aos protestos legítimos,por transparência, que faz o povo brasileiro. Tempos muito sombrios...

Eduardo -   19/12/2022 19:10:17

O Professor descreve o que vivemos em fatos e sentimentos. Realidade "incrível", na verdadeira acepção da palavra.

j -   19/12/2022 18:26:07

...quanto mais longe do circo, mais eu encontro palhaço....música do Jards Macalé , representa bem nosso cotidiano atual, adeus república

Mercia Radicchi -   19/12/2022 18:03:37

Nada de atípico, muito menos de infiltrados. O modus operandi de terroristas é igual, independente de qual manual, ideologia, partido sigam. Posso enviar-lhe, caso interesse-lhe saber a verdade doso fatos, 3 horas de gravações ao vivo, diretamente do centro da convulsão em Brasília, em torno da sede da PF. Nada de infiltrados....grupos dos acampados no QGE Bsb, em sua maioria os capangas do arremedo de cacique foram os vândalos, sustentados por politicos e algumas cabeças da PMDF.

Jair Rocha -   19/12/2022 14:56:29

Por estúpido que possa parecer, mas não vejo outra maneira de alguma mudança no quadro atual, que não passe por derramamento de sangue. O governo, depois de 29.10, está sem comando (se é que algum dia o teve); as Forças Armadas dando uma de Pilatos; o congresso envolto nas disputas pelas fatias do bolo; O VAR (STF), abandonou todas as regras. Resta alguma alternativa ao povo, senão sentar no chão e esperar os tiros? Quem sabe, então, aparecesse alguma instituição, em socorro. Eu estou me achando um imbecil dizendo isto, mas cansei de ouvir alguém dizer pra jogar nas quatro linhas e esse alguém não ter forças para desativar o VAR

Marcelo Garcez Lobo -   19/12/2022 13:20:54

Como sempre um artigo com o qual concordo integralmente. Percival Pugina consegue aliar objetividade e extrema clareza em forma bastante sucinta.

Fernanda Spelta -   19/12/2022 12:07:25

Sempre bravo em seu impecável texto. obrigada

Fátima Periard -   18/12/2022 22:01:34

Texto curto e maravilhoso que reflete o nosso dia a dia e que resume bem o que pensamos nós, os cidadãos de bem, que pagam os seus impostos em dia e estão proibidos de se manifestar frente à censura imposta, tal qual a polícia do pensamento em 1984, pelo ministro Alexandre de Moraes, que se diz o “guardião da democracia”. A atuação do mencionado senador se parece mais com a de um menino de recados do PT que quer chamar a atenção do ministro do STF para os seus devaneios de poder. Uma lástima. Íamos tão bem…

Menelau Santos -   18/12/2022 14:05:00

Professor, essa metáfora da roleta foi genial. Esse episódio das barracas me lembrou o velho clássico do Adoniran, "que tristeza que nois sentia, cada talba que caia doía no coração!"