O começo foi muito, muito difícil. Cansativo, mesmo. Exigia dedicação exclusiva e intensa. Não era moleza fazer política andando de ônibus, em cima de um Lada com pneus carecas, distribuir panfletos de dia e pichar muros à noite, vender distintivo e bandeirinha para arrumar dinheiro, fazer reunião para programar reunião para organizar reunião, imprimir propaganda em mimeógrafo, infiltrar-se nos seminários, nos jornais, nas escolas e nas universidades, conquistar os sindicatos, cativar um músico aqui, um escritor ali. Difícil!
Havia padres que cuidavam das paróquias e rezavam missa e padres que faziam política. Professores que davam aula e professores que faziam política. Jornalistas que relatavam fatos e jornalistas que faziam política. Juizes e promotores que operavam a justiça e outros que faziam política. Em quaisquer organizações da sociedade havia os que faziam as coisas acontecer e outros que só faziam política. Com tanta gente fazendo apenas política era inevitável que ela acabasse feita. De fato, ficou tão bem feita que o partido chegou ao poder. E aí, para espanto geral, deixou o governo de lado e continuou fazendo política.
Os companheiros trocaram os ônibus por aeronaves, abandonaram os Ladas e acorreram às concessionárias de veículos importados do maldito mundo capitalista. Substituíram os mimeógrafos pela policromia das máquinas rotativas e o papel reciclado pelo mais primoroso couché. Montaram uma estrutura capaz de cobrir o Brasil com propaganda em apenas vinte e quatro horas. E dê-lhe política. E veio o mensalão, e veio o petrolão. Fazer tanta política exigia muito dinheiro, exigia comprar os adversários.
De fato, olhando aquilo, os adversários chegaram à conclusão de que a política consistia em fazer política e que o sucesso dependia de só fazer política. E aderiram à fórmula: que se danem o país, o governo, as necessidades das pessoas, o bem comum. O negócio é fazer política! O país ficou muito mal, mas a política andava bem, pagava bem e – melhor de tudo – assegurava sucessivos mandatos.
Observando o comportamento do Congresso Nacional em relação a um presidente que se elegeu sem dinheiro e sem tempo de TV, que quer governar, que escolheu peritos nas respectivas áreas para compor o governo, pilotar a administração e pôr o país nos trilhos, ocorre-me formular a máxima que registro para a ponderação dos leitores: na política nacional se pode contrariar o interesse de todos, contanto que não se contrarie interesse de quem faz política. Aí a casa cai.
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* Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Luiz R. Vilela - 03/03/2020 11:30:13
"Estes petistas, nada tem de socialistas, são só sindicalistas querendo melhorar de vida", teria dito o falecido Florestan Fernandes, na mais verdadeira definição do petismo, que se conhece. Fazem da política um meio de vida, sempre estiveram pendurados na política sindical, depois com o "advento" do lula, ai foi a política geral. Normalmente sindicalistas, são profissionais pouco chegado ao batente na sua categoria, e quase sempre os espertalhões das classes. Nos sindicatos, recebiam a época, salários em torno de dois mil reais mensais. Com a posse do lula, passaram a ser diretores de empresas do governo, dai os salários se multiplicaram, foram para as alturas, e passaram a viver como verdadeiros nababos. Quando o petismo foi apeado do poder, ficaram apreensivos, porque o que viria pela frente,não seria agradável, e foi justamente o que o Bolsonaro fez, mandou-os de volta para suas ocupações originais, ai foi a gota d´agua. Nos sindicatos ganhavam para fazer política, no governo, então a coisa se esgarçou, não trabalhavam, era viver em eterna campanha política, bem ao feitio deles. Esperamos que o povo brasileiro tenha juízo e que para o futuro não faça mais aventuras, elegendo ignorantes, incompetentes e irresponsáveis para governar o pais, e que as "caveiras de burro" que o PT deixou enterradas nas administrações por este Brasil afora, sejam desenterradas e destruídas. Mesmo que haja o "efeito orloff", nós jamais poderemos ser a Argentina de amanhã. Os "hermanos" já provaram que nasceram para sofrer, e nós podemos olhar para eles, e ver como não devemos ser. Um ano de governo Bolsonaro, e nenhuma denúncia de corrupção no governo federal, mas muitos julgam que não esta bom, o leitinho da "barrósa"secou, ficaram sem mamar, daí o inconformismo.adao silva oliveira - 02/03/2020 19:03:18
Ainda bem. Como dizia antigamente um anúncio de motel no Rio, "antes à tarde do que nunca". https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/03/02/mp-permite-contratacao-de-servidor-aposentado-para-inss-e-emergencias.htm Que venham os próximos passos de execução, de exclusiva incumbência do Poder Executivo.ODILON ROCHA - 01/03/2020 22:56:32
Caro Professor Tiro certeiro! Na mosca, sem política.